
Entre adolescentes e jovens, “ser CLT” passou a ser sinônimo de fracasso: nas redes sociais a sigla aparece em memes e até como xingamento, reflexo de uma geração que associa o emprego formal a madrugadas no ônibus lotado, chefes abusivos e salário mínimo. O caso da paulista Fabiana Sobrinho, surpresa ao ouvir a filha de 12 anos declarar que estudaria “para não virar um CLT”, ilustra essa percepção cada vez mais disseminada.
Para a antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, a rejeição tem raízes históricas: o mercado de trabalho brasileiro carrega marcas da escravidão, com postos mal remunerados, jornadas longas e pouca valorização, sobretudo para as classes populares. Diante desse cenário, muitos preferem a sensação de autonomia — mesmo instável — de “se virar” por conta própria a sujeitar-se a patrões que os humilhem.
O avanço tecnológico reforça esse impulso. Influenciadores como o tiktoker Kinho, de 19 anos, ou o empresário mirim Alejandro Ferreira, de 17, vendem o sonho de enriquecer na internet sem currículo nem patrão. Mas pesquisas da University College Dublin mostram o outro lado: entre 40 mil perfis pequenos que tentavam crescer no Instagram, apenas 1,4 % superou 5 mil seguidores em quatro meses, evidenciando que a “fábrica de likes” raramente garante sustento.
Especialistas alertam que demonizar a carteira assinada não resolve a precariedade — e ainda mina direitos conquistados desde 1943 pela Consolidação das Leis do Trabalho. “O problema não é a CLT, mas as condições em que muitos trabalham”, afirma o historiador Paulo Fontes, da UFRJ. Sem proteção legal, adverte ele, a juventude corre o risco de trocar um patrão ruim pela insegurança total do mercado informal.
Fonte: Diário do centro do mundo