Arte e Cultura

LEIA MULHERES

Leia Mulheres: clube do livro mensal foca em divulgação literária de autoras femininas

O clube surgiu para quebrar paradigmas na disparidade de gênero na literatura

Elaine Divino*

Sábado - 10/08/2024 às 15:14



Foto: Arquivo pessoal O Leia Mulheres é um clube de livro que promove visibilidade para autoras femininas
O Leia Mulheres é um clube de livro que promove visibilidade para autoras femininas

O hábito da leitura não é tão incentivado no Brasil, principalmente pela dificuldade de acesso à literatura para todos. Desde a pandemia em 2020, o público leitor tem crescido gradativamente no país. As redes sociais têm se tornado uma grande ferramenta de incentivo, como o booktok e booktube, uma trope de influenciadores que usam o Tiktok e o Youtube para falar de livros.

Com a difusão de novas formas de se pensar a literatura, clubes de livros vem tomando espaço na sociedade e promovendo autores de diversas nacionalidades, incentivando a intelectualidade e debates sobre causas pertinentes à sociedade. Um desses clubes é o projeto Leia Mulheres, que possui franquias espalhadas por diversos estados do país.

O que é o Leia Mulheres?

O "Leia Mulheres" é um projeto que foi idealizado em 2015 na cidade de São Paulo pela consultora de marketing Juliana Gomes, a jornalista Juliana Leuenroth e a transcritora Michelle. A ideia surgiu após as três verem uma hashtag criada por Joanna Walsh que se popularizou nas redes sociais, a #readwomen2014 (leia mulheres 2014). O clube se tornou sucesso após o primeiro encontro, que realizou uma leitura coletiva de  "A Redoma de Vidro", de Sylvia Plath. Sucesso este que alcançou diversas outras cidades do Brasil, incluindo Teresina, a capital do Piauí.

O Leia Mulheres é um clube de livro que promove visibilidade para autoras femininas no Brasil. Araceli Maria Alves, uma das mediadoras do projeto em Teresina, comenta sobre a diferença entre livros escritos por homens e mulheres no Brasil e como o projeto busca romper com convenções culturalmente estabelecidas.

“Uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília revela que mais de 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre 1965 e 2014 foram escritos por homens. Para combater essa disparidade, o clube adota uma abordagem única em cada cidade, como em Teresina, onde a curadoria é feita por eu e Dani Marques", diz Araceli.


Araceli também falou sobre o funcionamento das reuniões do clube, que busca dar voz às mulheres escritoras. "Aqui em Teresina o primeiro encontro foi em junho de 2017, e o livro discutido foi 'Um Teto Todo Seu', da Virgínia Woolf. Com um formato trimestral, o clube seleciona autoras internacionais, nacionais e locais para discussão, permitindo que a comunidade vote nas escolhas por meio das redes sociais. Essa iniciativa destaca a importância de dar voz e espaço para a escrita feminina no cenário literário brasileiro", afirmou.

A mediadora ainda diz que homens podem participar do clube, mas somente mulheres podem ser mediadoras e as leituras, obrigatoriamente precisam ser obras de autoras femininas. Dani Marques, também mediadora do clube, conta que o último encontro depois do período de confinamentona pandemia do Covid-19 foi recorde público, onde as leitoras debateram "A Vida Invisível" de Eurídice Gusmão. Apesar da notoriedade que os clubes vem alcançando, Dani Marques revela que ainda existem dificuldades de acesso aos livros devido ao alto custo. 

"Livro ainda é um produto muito caro, mesmo com esse boom de clubes de leitura. Precisamos de políticas de incentivo à leitura, acesso à bibliotecas, redução do preço, quem sabe assim teríamos uma mudança nos índices", explica. 

Atualmente, os encontros do "Leia Mulheres" acontecem sempre no último sábado de cada mês, às 16h, de forma simultânea em todas as cidades que possuem o clube. Quanto ao local dos encontros, não existe um lugar fixo para as reuniões.  O clube é aberto para o público, e conta, atualmente, com 70 integrantes. Os encontros são divulgados nas redes sociais e qualquer pessoa que tenha interesse em conversar sobre literatura de autoria feminina, pode participar.

O clube estimula a leitura e reúne pessoas independente do gênero, idade e profissão. E nas palavras de Araceli: "Ler transforma!".

Fonte: *Estagiária sob supervisão do jornalista Luiz Brandão

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