
Mais de um século após as aparições que transformaram a pequena Fátima, em Portugal, em um dos maiores centros de peregrinação do mundo, fiéis celebram nesta terça-feira (13) o Dia de Nossa Senhora de Fátima, em memória da primeira vez em que a Virgem Maria teria surgido diante dos três pastorinhos , Lúcia, Francisco e Jacinta, em 1917, em meio à Primeira Guerra Mundial. As revelações, marcadas por mensagens de oração, penitência e apelos à paz, seguem mobilizando milhões ao redor do mundo pela sua força espiritual e simbólica.
A devoção à santa, formalmente chamada de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, nasceu a partir dos relatos das três crianças portuguesas, que afirmaram ter visto uma “Senhora mais brilhante que o Sol” na Cova da Iria, no dia 13 de maio de 1917. A aparição se repetiria mensalmente, sempre no mesmo horário, ao meio-dia, até outubro daquele ano — com exceção de agosto, quando ocorreu no dia 19, devido à detenção temporária das crianças por autoridades céticas.
Em cada encontro, a figura celeste pedia o mesmo: oração diária do terço, penitência pelos pecadores e confiança no seu Imaculado Coração. Na última aparição, em outubro, a mulher identificou-se como “a Senhora do Rosário”, e diante de cerca de 70 mil pessoas que se aglomeraram sob a chuva, um fenômeno descrito como o “Milagre do Sol” teria ocorrido — o astro teria girado no céu, emitido luzes coloridas e dado a impressão de que cairia sobre a multidão.
O impacto dos relatos, somado às condições políticas da época, Portugal vivia um forte período de repressão anticlerical, transformou a mensagem de Fátima em um renascimento da fé popular. Padres perseguidos e conventos fechados contrastavam com a força crescente da devoção mariana. Em 1930, a Igreja Católica reconheceu oficialmente as aparições como dignas de fé. Desde então, o Santuário de Fátima, construído no local das visões, tornou-se um dos maiores destinos de peregrinação do mundo católico.
Os três segredos
A terceira aparição, em julho de 1917, ficou marcada pelas revelações conhecidas como os “três segredos de Fátima”. Segundo os relatos de Lúcia, os pastorinhos tiveram visões perturbadoras, como a do inferno, previsões sobre o avanço do comunismo e perseguições à Igreja, e um apelo à consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria — condição, segundo a Virgem, para a conversão do mundo e o fim das guerras.
Lúcia, a mais velha, foi incumbida de manter e revelar os segredos conforme o tempo adequado. Ela viria a tornar-se freira carmelita e viveu até 2005. Já Francisco e Jacinta morreram ainda crianças, vítimas da gripe espanhola — como Nossa Senhora teria profetizado.
Em diferentes momentos da história, a mensagem de Fátima voltou à tona. Em 1981, após sobreviver a um atentado na Praça de São Pedro, o papa João Paulo II atribuiu sua salvação à intercessão da Virgem de Fátima. Ele visitou o santuário um ano depois e ofereceu a bala que o atingiu para ser incrustada na coroa da imagem venerada. Em 2022, diante da guerra na Ucrânia, o papa Francisco renovou a consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração, retomando o clamor das aparições.
O número 13, tantas vezes associado à má sorte, ganhou novo sentido com os acontecimentos de 1917. Para teólogos, ele simboliza unidade e renovação, remetendo a festas cristãs antigas, como a de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento — também celebrada em um 13 de maio.
Hoje, mais de cem anos depois, a história da Virgem do Rosário de Fátima permanece viva não apenas nos registros da Igreja, mas nas orações de quem busca consolo em tempos conturbados. Sua figura, maternal e serena, continua a inspirar fé e esperança diante das incertezas do mundo.