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OCUPAÇÃO

PM cumpre decisão judicial e despeja 190 famílias de terreno invadido próximo à UFPI

A ordem de despejo foi cumprida na manhã desta terça-feira (27)

Alinny Maria, Isaac Da Silva e Lília Pâmela

Terça - 27/05/2025 às 08:49



Foto: Isaac da Silva Famílias tentam negociar para continuar vivendo no local
Famílias tentam negociar para continuar vivendo no local

Por volta das 6h da manhã desta terça-feira (27), a Polícia Militar do Piauí deu início ao cumprimento de uma ordem de reintegração de posse em um terreno localizado na Avenida Professor Arimateia Santos, próximo à rotatória da Universidade Federal do Piauí (UFPI), no setor de Esportes da universidade, na zona Leste de Teresina. A operação, que envolve policiais da Cavalaria, agentes do Corpo de Bombeiros e oficiais de justiça e para retirar ao menos 190 famílias que viviam na área desde fevereiro.

A ação ocorre de maneira aparentemente pacífica, com bloqueios montados ao redor do terreno, onde barracas e casas de madeira foram construídas. Mas dentro da área, o clima é de tensão e desamparo. “Eles chegaram por volta de seis horas. Quando voltei da caminhada, fui barrada e não me deixaram mais entrar. Quem estava dentro não podia sair”, relatou Catiana, moradora da ocupação há quatro meses. “Mães estão desesperadas, com medo de atropelamentos, das casas serem derrubadas... Todos nós estamos com medo.”

A disputa pelo terreno envolve partes pertencentes à Prefeitura de Teresina e outra à iniciativa privada. De acordo com o advogado Tiago Oliveira, que representa os proprietários da área, os ocupantes foram informados previamente sobre a ilegalidade da permanência no local. “Tentamos resolver a situação administrativamente, mas não foi possível. A Justiça deferiu a reintegração, e após o prazo para desocupação voluntária não ser cumprido, foi necessário acionar a força policial”, explicou.

Algumas famílias estão retirando seus pertences e deixando o local / Foto: Isaac Da SilvaMoradores

Entretanto, os moradores contestam a legitimidade da posse da área. Para Josefa Francisca, de 63 anos, a reintegração é injusta e mal esclarecida. “O pessoal ocupou a terra do Governo Federal, e apareceu uma mulher dizendo que foi uma doação que ela recebeu. Mas a gente não sabe de quem, nem que doação é essa. Averiguamos em cartório e não encontramos registro. Aqui é terra do Governo Federal”, afirmou.

Josefa Francisca / Foto: Isaac Da Silva Cleber Cesar, outro morador da ocupação, questiona o momento em que os donos apareceram. “Depois de dois meses que a gente limpou e fez as casas, é que vêm dizer que tem dono. Só tinha mato, lagoa. Quando viram que era terra, descobriram o Brasil. Aqui tem mãe de família, criança. A gente puxou luz, água, cercou. E agora querem tirar? A minha casa, a minha vida tá destruída, tá aqui.”

A operação desta terça-feira ocorre uma semana após outra ação no mesmo entorno, registrada no último dia 20, quando a Polícia Militar e a Guarda Municipal realizaram uma tentativa de desocupação na parte do terreno pertencente à Prefeitura. Na ocasião, houve tumulto, disparos de balas de borracha e muita tensão. “Felizmente ninguém se feriu”, relatou a equipe do Piauí Hoje, que esteve no local.

O sentimento entre os moradores é de frustração. Patrícia Régia, de 48 anos, expressou com emoção sua indignação diante do despejo. “O pouco que eu tenho eu usei pra construir um barraquinho. Já fui expulsa por faccionados de outro lugar. Aqui só tem família que realmente precisa. Ninguém entra no mato, enfrenta cobra e espinho por querer. Se estamos aqui, é porque precisamos.”

Para ela, a localização do terreno, numa área valorizada da cidade, explica o interesse repentino pela posse. “Agora que viram que tem terra, apareceu dono. Antes, ninguém nem lembrava disso aqui. Cadê essa dona que não aparece? Esses documentos ninguém sabe de onde surgiram. Aqui tem gente que estuda, trabalha. Não somos um bando de analfabetos. A gente só quer um lugar pra morar.”

Segundo os relatos dos moradores, desde o início da ocupação a comunidade procurou informações sobre a situação fundiária do local e afirmam que não havia registro de propriedade particular. “A gente foi atrás. Ninguém veio pra cá lutar à toa. Se estou tirando minhas coisas, é porque não tenho pra onde levar. Minha maior dor é essa”, desabafou Patrícia, visivelmente abalada.

Do lado legal, a Justiça deferiu o pedido de reintegração de posse com base em documentação apresentada pelos proprietários. O advogado Tiago Oliveira reiterou que houve tentativas anteriores de diálogo. “Desde fevereiro estamos tentando resolver de forma amigável. Como não houve acordo, a Justiça determinou o cumprimento da ordem com apoio policial”, afirmou.

Enquanto a polícia cercava o terreno e as famílias tentavam retirar o que podiam de seus barracos, Cleber, com a voz embargada, resumiu a situação dos moradores naquele momento: “O pobre só presta pra sofrer mesmo. A gente só queria compreensão. Não estamos aqui à toa. Quem é que quer passar por isso? Só quem precisa.”

(*) Isaac da Silva e Lília Pâmela são estagiários sob a supervisão do jornalista Luiz Brandão DRT/PI - 980.

Fonte: Flash de Lilia Pâmela e Isaac Da Silva

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