
A greve dos motoristas e cobradores de ônibus, iniciada nesta segunda-feira, 12 de maio, tem gerado grandes transtornos à população de Teresina, especialmente para trabalhadores e estudantes que dependem do transporte coletivo. Sem previsão para o fim do movimento, os usuários enfrentam jornadas mais longas, maiores gastos e sensação de insegurança nos deslocamentos diários.
O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários do Piauí (Sintetro) reivindica o pagamento de salários atrasados, regularização de benefícios e melhores condições de trabalho para a categoria. Com a paralisação de parte da frota, várias linhas foram suspensas ou estão operando com intervalos muito maiores, o que afeta principalmente os bairros periféricos.
Para minimizar os impactos à população, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (Strans) autorizou, na sexta-feira (9), o cadastramento emergencial de veículos particulares. Os carros, identificados com adesivos fornecidos pela Prefeitura, passaram a integrar temporariamente o sistema de transporte público, cobrando uma tarifa única de R$ 4. Contudo, a medida não contempla gratuidade para idosos, pessoas com deficiência ou meia-passagem para estudantes.
Apesar dessa alternativa, muitos usuários relatam que o serviço ainda é insuficiente. Laudiceia Amâncio, moradora do bairro Santa Maria, conta que sua rotina foi profundamente alterada. “Tenho que sair de casa mais cedo e procurar transporte alternativo. Como os clandestinos também são incertos, acabo recorrendo a corridas por aplicativo, que subiram cerca de 40%. Já cheguei a gastar até R$ 80 em um dia, enquanto a empresa onde trabalho só paga R$ 8 de auxílio transporte”, relata.
Greve dos ônibus eleva preços dos aplicativos de corrida nos horários de pico
Além do impacto financeiro, Laudiceia também menciona o tempo de espera nos pontos de ônibus e o medo da violência. “Passamos horas esperando ônibus que não vem, e ficamos vulneráveis a assaltos. É uma humilhação diária. A população não está sendo ouvida”, desabafa.
Luciana Silva, moradora do bairro Monte Verde, enfrenta situação semelhante. Ela relata que os atrasos e a ausência de ônibus nas paradas têm exigido mais planejamento e paciência. “Acordo bem mais cedo e vou pra parada torcendo pra passar algum ônibus. Fico esperando de uma hora e meia a duas horas. Fora isso, o gasto com aplicativo está altíssimo”, comenta.
Na zona norte da cidade, a situação se repete. Lea Paula Matos, moradora do bairro Mocambinho, afirma que não tem outra opção além dos carros por aplicativo. “É isso ou não ir trabalhar. Só a ida já custa mais que o dobro da passagem. Quando somamos ida e volta, é um prejuízo enorme. E estamos arcando sozinhos com isso”, conta.
Ela também critica a falta de escuta por parte das autoridades. “A população nunca foi ouvida. As decisões são tomadas sem considerar quem realmente precisa do serviço. Os políticos esquecem quem colocou eles lá.”
Apesar da indignação, Lea reconhece a legitimidade das reivindicações dos motoristas e cobradores. “Me coloco no lugar dos motoristas e cobradores. Eles não estão em greve por vontade, mas por necessidade. Ninguém merece trabalhar sem receber ou sem valorização.”
A greve continua sem acordo entre as partes, e a população de Teresina segue se adaptando, enfrentando longas esperas, aumentando seus gastos e lidando com a insegurança nas ruas, à espera de uma solução definitiva para a crise do transporte público.
(*) Lília Pâmela é estagiária sob supervisão do jornalista Luiz Brandão - DRT-PI -960