
A socióloga Assunção Aguiar, superintendente de Igualdade Racial e Povos Originários do Piauí, da Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos - SASC, em entrevista aos jornalistas Roberto John e Marília Lélis, no portal Piauí Hoje.Com, falou dos avanços e desafios da pasta, que tem como foco a implementação de políticas públicas para comunidades indígenas, quilombolas, ciganas e tradicionais, além do combate ao racismo e ao trabalho análogo à escravidão. Assunção também compartilhou sua trajetória de mais de 30 anos de militância e reforçou a importância de ocupar espaços de poder como mulher preta e de axé.
Assunção Aguiar iniciou a entrevista explicando o papel da Superintendência de Igualdade Racial e Povos Originários, criada a partir de demandas dos movimentos sociais durante a campanha do governador Rafael Fonteles. "Nosso objetivo é articular políticas públicas que atendam efetivamente comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, quebradeiras de coco, marisqueiras e outras populações tradicionais", afirmou. Ela destacou que, apesar de inicialmente se pleitear uma secretaria específica, a superintendência foi estabelecida com status de secretaria, garantindo maior autonomia e visibilidade para a pauta.
A socióloga também compartilhou sua trajetória pessoal e profissional, enfatizando a importância de sua identidade como mulher preta e de axé. "Sou filha de Nanã, do Candomblé, e tenho orgulho de minha história. Minha militância já dura mais de 30 anos, e sei que essa luta não tem fim", disse. Assunção citou Esperança Garcia, uma mulher negra que, em 1770, escreveu uma carta reivindicando direitos básicos, como exemplo de resistência e inspiração. "Ela já denunciava a violência contra mulheres pretas e suas famílias, uma realidade que ainda persiste hoje", ressaltou.
Um dos principais desafios da superintendência, segundo Assunção, é a implementação de políticas para os povos ciganos, que ainda enfrentam preconceito e desconfiança em relação ao poder público. Ela mencionou o massacre de ciganos em Esperantina como um marco doloroso na história dessa comunidade. "Estamos avançando, mapeando a presença cigana em cidades como Piripiri, Parnaíba, Picos e Esperantina, e garantindo acesso a programas de produção e comercialização", explicou.
A superintendente também comemorou conquistas recentes, como a implantação de escolas indígenas, políticas públicas para povos de terreiro e editais culturais voltados ao enfrentamento do racismo. Além disso, destacou o trabalho de combate ao trabalho análogo à escravidão. "Em 2023, resgatamos 159 pessoas. Em 2024, já foram 14. Temos parcerias com municípios e outras instituições para reinserir essas pessoas no mercado de trabalho", afirmou.
Questionada sobre o preconceito que ainda enfrenta, Assunção foi enfática: "Todos os dias sofro racismo, mas prefiro ser vista como 'metida' do que como 'coitada'. Meu trabalho não é para reconhecimento pessoal, mas para que as próximas gerações tenham um futuro melhor", afirma a socióloga.
Assista a seguir um trecho entrevista, que está completa no nosso canal no YouTube:
Link para entrevista completa: https://youtu.be/k7TiyIAUUuc