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DIA DO ORGULHO

Dia do Orgulho: visibilidade e resistência, a jornada da comunidade LGBTQIA+ no Brasil

De movimentos nacionais à influência internacional, confira a trajetória de luta por direitos no país

Da Redação

Sexta - 28/06/2024 às 07:52



Foto: Reprodução Dia 28 de junho, dia internacional do orgulho LGBTQIA+
Dia 28 de junho, dia internacional do orgulho LGBTQIA+

A palavra "visibilidade" atravessa a história da luta LGBTQIA+ no Brasil. Nem mesmo durante os períodos mais violentos e autoritários, como a ditadura militar, houve silêncio, covardia ou inércia. Tentativas de organizar encontros nacionais entre 1959 e 1972, a criação do Grupo Somos e dos jornais Lampião da Esquina e ChanacomChana em 1978, a revolta das lésbicas no Ferro’s Bar em 1983 e a pressão que retirou a homossexualidade do rol de doenças em 1985 são marcos de protagonismo, mobilização e luta.

Apesar desse histórico, a principal data de celebração LGBTQIA+ no Brasil é 28 de junho, referenciando a revolta de 1969 no Stonewall Inn, em Nova York. A resistência nesse bar gay contra uma operação policial violenta tornou-se um símbolo internacional do movimento LGBTQIA+ por direitos, celebrado como o Dia Internacional do Orgulho LGBT+.

Pesquisadores e ativistas entrevistados pela Agência Brasil apontam que a revolta em Nova York se tornou um símbolo internacional mais pela força geopolítica e cultural dos Estados Unidos do que por ter sido o principal evento do tipo no mundo. "As datas podem e devem ser celebradas, mas nem tudo começa em Stonewall e nem tudo se resolveu lá", explica Renan Quinalha, professor de Direito da Unifesp e presidente do Grupo Memória e Verdade LGBTQIA+ do MDHC. Segundo Quinalha, o imperialismo cultural norte-americano muitas vezes ofusca marcos nacionais importantes que também merecem celebração.

Rita Colaço, historiadora e diretora-presidente do Museu Bajubá, enfatiza a importância de valorizar os elementos próprios do movimento brasileiro em vez de olhar apenas para os EUA como referência. "Para ser fiel à história, não se pode dizer que Stonewall foi a primeira revolta nem que deu início à luta pelos direitos LGBT", afirma Colaço.

 Parada do Orgulho LGBT no Rio de Janeiro - Foto Acervo Grupo Arco-Íris/Divulgação

A busca por um "Stonewall brasileiro" revela que, embora não haja uma revolta semelhante no Brasil, muitos eventos marcantes impulsionaram o movimento LGBTQIA+ no país. Luiz Morando, pesquisador de Belo Horizonte, destaca que, assim como nos EUA, a construção da consciência política e da identidade LGBTQIA+ no Brasil se deu por meio de muitos eventos e processos históricos.

Um exemplo é a manifestação de 13 de junho de 1980, em São Paulo, conhecida como Dia de Prazer e Luta Homossexual, contra a violência policial. Este evento reuniu várias entidades do movimento LGBT+ e outros movimentos, como o negro, feminista e de prostitutas. "Esse episódio foi fundamental por sua capacidade de diálogo e transversalidade", explica Quinalha.

A luta trans também tem marcos importantes, como o lançamento da campanha "Travesti e Respeito" em 2004, que marcou o Dia da Visibilidade de Transexuais e Travestis, em 29 de janeiro. Keila Simpson, ex-presidente da Antra, destaca a importância de continuar lutando pelo respeito e reconhecimento da população trans, que ainda é a maior vítima de violência entre os grupos LGBTQIA+ no Brasil.

Concurso Miss Travesti Minas Gerais 1966  Foto: Antônio Cocenza/Museu Bajubá/Divulgação

Nos anos 1990, as "marchas" ou "paradas" do orgulho LGBTQIA+ se tornaram manifestações públicas importantes, com a primeira Parada do Orgulho LGBT organizada em 1995 no Rio de Janeiro. Cláudio Nascimento, líder do Grupo Arco Íris, destaca a importância de fortalecer o movimento e mobilizar mais pessoas para participarem dessas manifestações.

Apesar das conquistas, os desafios continuam. O avanço dos grupos conservadores e do fundamentalismo religioso representam hoje as principais ameaças aos direitos conquistados. "A história dos direitos LGBT+ no Brasil não pode ser vista como uma linha reta de progresso, mas sim como uma trajetória cheia de contradições e lutas", conclui Marco Aurélio Máximo Prado, professor da UFMG.

Fonte: Agência Brasil

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