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DIREITOS HUMANOS

Com 105 assassinatos, Brasil foi o país que mais matou pessoas trans em 2024

País lidera, pelo 17º ano consecutivo, o ranking global de violência contra essa população

Da Redação

Quinta - 23/01/2025 às 08:00



Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil Brasil é o país que mais mata pessoas trans
Brasil é o país que mais mata pessoas trans

Em 2024, o Brasil continuou a ser o país com o maior número de assassinatos de pessoas trans no mundo, com 105 mortes registradas. Embora o número tenha diminuído em relação ao ano anterior, o Brasil permanece, pelo 17º ano consecutivo, como o país mais letal para essa população. Esses dados foram obtidos no Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024, produzido pela Rede Trans Brasil, que será divulgado oficialmente em 29 de janeiro.

A Região Nordeste foi a mais afetada, com 38% dos casos, seguida pela Região Sudeste, que respondeu por 33% das mortes. Outras regiões também apresentaram números preocupantes, como o Centro-Oeste (12,6%), Norte (9,7%) e Sul (4,9%). Em termos de estados, São Paulo foi o que mais registrou assassinatos, com 17 mortes, seguido por Minas Gerais (10) e Ceará (9).

Apesar da leve queda no número de assassinatos, Isabella Santorinne, secretária adjunta de Comunicação da Rede Trans Brasil, destaca que a violência contra as pessoas trans continua em níveis alarmantes. "Embora a redução nas mortes seja um pequeno alívio, ainda estamos longe de uma mudança real e significativa. O Brasil segue sendo um país onde, apesar de debates e maior visibilidade, a violência e o preconceito contra pessoas trans permanecem uma dura realidade", afirma Isabella.

No cenário global, o número de assassinatos de pessoas trans também atingiu patamares elevados, com 350 mortes registradas em 2024. A América Latina e o Caribe concentraram cerca de 70% dessas mortes, com o Brasil no topo da lista. A pesquisa Trans Murder Monitoring, que monitora esses casos globalmente, destacou a contradição do Brasil: o país é o maior consumidor de pornografia trans, mas também o líder mundial em homicídios de pessoas trans. "É um paradoxo, pois as pessoas trans são desejadas e fetichizadas, mas, ao mesmo tempo, enfrentam ódio e repulsa, o que se reflete na violência extrema contra nós", explica Isabella.

O perfil das vítimas no Brasil é principalmente composto por mulheres trans e travestis (93,3%), com idades entre 26 e 35 anos (36,8%). A maioria das vítimas se identifica como parda (36,5%) ou preta (26%). Além disso, muitas das vítimas eram trabalhadoras sexuais, frequentemente assassinadas ou agredidas no exercício de suas atividades nas ruas.

A maioria dos casos continua sendo investigada (66%), enquanto em 34% dos casos, os suspeitos foram presos. As mortes mais comuns ocorreram por arma de fogo e facada, geralmente em vias públicas ou na residência das vítimas. Muitos homicídios envolveram violência doméstica, com companheiros ou ex-companheiros sendo os principais agressores.

O levantamento também analisou como a mídia tratou os nomes das vítimas. Em 2024, 93,3% dos casos respeitaram o nome social das vítimas, mas 6,7% ainda usaram o "nome morto", ou seja, o nome atribuído à pessoa antes de sua transição de gênero.

O dossiê evidencia a falta de políticas públicas eficazes para proteger as pessoas trans no Brasil. Isabella Santorinne aponta que é urgente a criação de ações específicas para promover educação inclusiva, empregabilidade, acesso à saúde e segurança para essa população. "A exclusão e a violência contra pessoas trans continuam sendo uma batalha diária. Sem políticas públicas robustas, a luta pela sobrevivência e pela dignidade dessa população não vai acabar", afirma.

O trabalho da Rede Trans Brasil visa dar visibilidade à violência sofrida por pessoas trans, além de servir como base para o desenvolvimento de políticas públicas que possam proporcionar mais proteção, inclusão e respeito a essa comunidade.

Fonte: Com informações da Agência Brasil

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