Um estudo preliminar realizado por pesquisadores brasileiros sugere que o aroma do café pode ser um elemento importante na redução do vício em tabagismo. Em um experimento com 60 fumantes, metade deles inalou a fragrância do pó de café, enquanto a outra metade foi exposta a uma fragrância neutra de sabão. Os resultados mostraram que 50% dos participantes que inalaram o aroma do café voltaram a fumar, em comparação a 73,3% daqueles que inalaram a fragrância neutra.
Os pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) descobriram em 2014 que a fragrância do café ativa o núcleo accumbens, uma região do cérebro associada ao sistema de recompensas, que também é ativada por substâncias psicoativas como a cocaína. “Esse sistema de recompensas é ativado por atividades prazerosas, como escutar música, ter relações sexuais e beber água, mas também pode ser mal utilizado por substâncias psicoativas”, explicou Silvia Oigman, pesquisadora do IDOR e diretora científica da Café Consciência, uma startup de biotecnologia parceira do instituto.
Com base nessa descoberta, os pesquisadores decidiram testar o uso do aroma do café para reduzir o desejo de fumar em um segundo ensaio clínico em 2016, com 16 fumantes. Este ensaio serviu de base para o estudo mais amplo, realizado em 2022, com 60 fumantes, cujos resultados foram divulgados recentemente.
Resultados
Silvia Oigman informou nesta segunda-feira (3) que, entre os 60 fumantes expostos à fragrância do café, 50% fumaram logo após a intervenção. Entre aqueles que inalaram a fragrância neutra, 73,3% voltaram a fumar. “Embora o número seja expressivo, não é estatisticamente significativo. No entanto, é um indicador do potencial dessa abordagem, especialmente porque era um ensaio clínico piloto”, explicou Silvia.
O ensaio clínico, conduzido ao longo de seis meses, ajudou os pesquisadores a identificar áreas que precisam ser melhoradas para futuros estudos. “A qualidade da fragrância pode ter sido prejudicada pelo tempo, pois fragrâncias como a do pó de café perdem muitos compostos voláteis”, disse Silvia.
A pesquisa foi financiada com R$ 373 mil da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).
Formulação terapêutica
O objetivo final do projeto é usar a fragrância do café para reduzir o desejo de fumar em usuários crônicos de tabaco. Os pesquisadores estão desenvolvendo uma formulação terapêutica à base de compostos voláteis do café, que será adaptada para um dispositivo eletrônico para um novo ensaio clínico com um maior número de participantes. “Ainda há alguns passos a serem seguidos, mas esperamos realizar essa nova fase do projeto antes de 2026”, afirmou Silvia.
Silvia destacou que não conhece outros grupos de pesquisa que utilizam a inalação do aroma do café como ativador do sistema de recompensas para fins medicinais. Até agora, o grupo já registrou nove patentes nos Estados Unidos, Europa e Ásia, com mais três em andamento no Brasil, Austrália e Canadá.
Segundo estimativas do relatório de tendências de tabaco da Organização Mundial da Saúde (OMS), há 1,25 bilhão de adultos usuários de tabaco no mundo. O vício em fumar causa mais de 8 milhões de mortes anuais, sendo mais de 7 milhões resultantes do uso direto do tabaco e mais de 1,2 milhão de fumantes passivos.
Fonte: Agência Brasil