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CINEMA

O quarto ao lado

Filme conta a triste história de uma correspondente de guerra que, diagnosticada com câncer terminal, muda-se para uma casa no meio da floresta

Por Wellington Soares

Segunda - 28/04/2025 às 16:25



Foto: Divulgação O filme conta uma história triste
O filme conta uma história triste

Entre muitos temas espinhosos, a indesejada das gentes, como a batizou o poeta Manuel Bandeira, desponta na frente de todos. Embora faça parte do cotidiano humano, as pessoas evitam tratar do assunto. Até pronunciar seu nome, pelo menos no Ocidente, não é recomendável, uma vez que pode atraí-la sem querer. Remando contra esse senso comum, o cineasta Pedro Almódar, um dos meus preferidos, resolveu trazê-lo à tona em “O quarto ao lado”, seu mais novo filme. Com sensibilidade, a morte surge, em cores fortes e belos enquadramentos, de forma dolorosa e inapelável.

O longa conta a triste história de Martha (Tilda Swinton), uma correspondente de guerra que, diagnosticada com câncer terminal, muda-se para uma casa no meio da floresta. Sua intenção é partir sossegadamente, integrada à natureza e matutando sobre a vida vivida, sobretudo, no que diz respeito à relação nada amistosa com a filha. Para isso, tem a ideia de convidar a Ingrid (Julianne Moore), uma escritora consagrada e amiga da juventude, a fim de compartilharem, juntas, esses momentos derradeiros. Experiência que marca profundamente as duas e, claro, os espectadores.

Em tom intimista, o filme nos leva a refletir sobre o que fazer diante de uma doença fatal: aceitar com resignação ou escolher a maneira de partir?  Um tema, portanto, dos mais atuais na sociedade contemporânea. Afinal, todos almejam, sem distinção, um encantamento digno. No Brasil, tivemos recentemente o caso de Antônio Cícero que, portador de Alzheimer, fez eutanásia na Suíça, por não suportar viver sem lucidez. Por mim, a morte não passaria de um sono infinito, indolor e acionado, quando, seja lá por qual motivo, a gente expressasse o desejo de nunca mais acordar. Sem culpa, tampouco sentimento de pecado.

De tão bom, o novo trabalho de Almodóvar, o primeiro falado em inglês, arrebatou o Leão de Ouro do Festival de Cinema de Veneza em 2024. Quem ainda não viu, estando disponível na Netflix, precisa conferir mais essa obra-prima do cineasta que tem encantado o mundo com seus filmes instigantes – Carne trêmula, Tudo sobre minha mãe, Fale com ela, Má educação, entre outros títulos. Antes de falecer, Martha deixa um bilhete, que toca fundo a amiga, em tom de despedida: “Querida Ingrid, hoje o dia está tão bonito que me pareceu ser o momento de partir.”

Wellington Soares

Wellington Soares

Wellington Soares é professor, escritor e um dos editores da Revestrés. Tem uma longa atuação nas áreas da educação e da cultura no Piauí. Gosta de ouvir música, ver filmes, dormir em rede, ler livros e curtir os dois netos. Sem falar que é torcedor apaixonado do Flamengo.
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