SIMBORA!

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SONHO

Bate-papo com O. G. Rego de Carvalho

O romancista é considerado o melhor da literatura piauiense; morreu em 2013, aos 83 anos

Por Wellington Soares

Quarta - 16/04/2025 às 11:32



Foto: Reprodução O. G. Rego de Carvalho, autor de
O. G. Rego de Carvalho, autor de "Rio subterrâneo"

Uma noite dessas, tive um sonho com O. G. Rego de Carvalho, considerado nosso melhor romancista, lá ele dialogava, mesmo estando do outro lado da vida, com a "galera" de escolas públicas estaduais de Teresina. A conversa rolou no Theatro 4 de Setembro, tomado de jovens, entre 15 e 17 anos, que estão cursando o Ensino Médio. 

Bem à vontade, o nosso escritor não deixou uma pergunta sem resposta. 

O que significa o O e o G do seu nome literário?

Orlando Geraldo.

Em qual cidade do Piauí o senhor nasceu?

Oeiras, nossa primeira capital.

Desde cedo quis ser escritor?

Não, queria ser era compositor, uma vez que tive uma mãe musicista.

Que instrumentos ela tocava?

Piano, bandolim, violão e harmônica.

Como surgiu, então, a labuta com as palavras?

Por derivação, afinal sonoridade e poesia marcam indelevelmente as letras.

Quando o senhor escreveu o primeiro texto?

Aos 10 anos, publicando um artigo para o jornalzinho da escola, chamado "Fanal", sobre a descoberta da América.

Lembra-se do romance que o inspirou a ser escritor?

Claro, impossível esquecer O Guarani, de José de Alencar, narrativa indianista que tanta influência exerceu em mim. Não deixem de ler, por favor.

Que outro autor brasileiro o impressionou também?

Machado de Assis, sobretudo os contos e romances da fase realista. Sua ironia e sondagem psicológica são extraordinárias. 

Quantos livros o senhor publicou?

Apenas três, cada um diferente do outro. Na literatura, não esqueçam, o que importa não é a quantidade, mas a qualidade estética dos textos.

Qual deles é o preferido?

Rio Subterrâneo, a que chamo de livro-filho, pela entrega e doença a que fui levado ao encerrar a última linha da dramática situação de Lucínio.

É verdade que seus primeiros contos foram rejeitados pelas editoras?

Sim, mas isso não me desanimou. Ao contrário, as recusas eram transformadas em desafio, em desejo de aprimorar meus textos.

Quantos anos o senhor tinha ao publicar Ulisses entre o amor e a morte?

Escrevi dos 19 aos 23, uma história centrada num garoto que, apresentado à Conceição, descobre o amor. Embora tenha pitadas autobiográficas, a obra é de ficção.

Por que chegou a dizer, em certa ocasião, que se arrependia de ter publicado Somos todos inocentes?

Talvez por querer agradar aos leitores depois das críticas que partiam de professores da antiga Faculdade de Filosofia de Teresina ao meu primeiro livro, Ulisses entre o amor e a morte. O autor não pode fazer concessões.

De quais assuntos tratam seus livros?

Fugindo ao regionalismo muito em voga na época, abordo temas universais como amor, morte, solidão, loucura, descoberta da sexualidade, relações familiares, entre outros.

O senhor chegou a sobreviver financeiramente de literatura?

Claro que não, infelizmente ainda se lê muito pouco neste país e, particularmente, no nosso estado. Não fosse o Banco do Brasil, onde trabalhei até me aposentar, teria passado grandes dificuldades. 

A leitura é importante para quem pretende ser escritor?

Não só importante como fundamental, até porque, todos sabemos, a leitura precede a escrita. Procurem ler, sobretudo, os autores clássicos – tanto brasileiros quanto estrangeiros. 

De que forma o senhor gostaria de ficar conhecido pela nossa e pelas futuras gerações de leitores?

Como o escritor da juventude. 

Obrigado, mestre!

Sou eu que agradeço a todos vocês!

Wellington Soares

Wellington Soares

Wellington Soares é professor, escritor e um dos editores da Revestrés. Tem uma longa atuação nas áreas da educação e da cultura no Piauí. Gosta de ouvir música, ver filmes, dormir em rede, ler livros e curtir os dois netos. Sem falar que é torcedor apaixonado do Flamengo.
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