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Voto impresso é senha de golpistas

A América portuguesa, hoje Brasil, faz eleição desde o ano de 1532

Fonseca Neto

Domingo - 11/07/2021 às 15:40



Foto: Divulgação Não ao voto impresso
Não ao voto impresso

A catilinária golpista, para continuação da obra, agora sai com a lenda de que voto eletrônico é fraude. Defende a volta do finado voto impresso, exemplo, esse sim, das malandragens eleitorais, mais vis, que o Brasil de há muito conhece.

A América portuguesa, hoje Brasil, faz eleição desde o ano de 1532. Para que se tenha uma ideia, já em 1619, logo após Guaxenduba, São Luís do Maranhão faz eleição para seu governo municipal, na forma de Senado da Câmara, por ser cabeça de Estado, capital. E Oeiras do Piauí faz sua primeira eleição em dezembro de 1717. Desses velhos tempos de eleições dos pelouros ao século atual, viu-se de tudo em se tratando de forma de votar.

Há duas décadas adotou-se o que se tem chamado “voto eletrônico”, em urna, idem. Um avanço tecnológico notável. Outras nações estudam a forma brasileira de votar, por reconhecerem nela um meio de tornar mais seguro e ágil o sufrágio. Repita-se: a urna/voto eletrônico é avanço que muito tem ajudado a qualificar o processo de tomada de voto dos cidadãos.

Ainda há questões e procedimentos graves em eleições no Brasil – a compra de votos, por exemplo – mas disso não se pode culpar a urna, ao contrário.    

Eis que sobrevém o golpe, trazendo um regime movido pelo negacionismo civilizatório, com o projeto, que logo avança, de destruir o Estado social  brasileiro, impondo a agenda neoliberal de volta à escravidão. Regime espúrio, o tempo todo, qual crime continuado, atentando contra a Constituição. Agora diz que “não haverá” eleições – a próxima marcada para 2022 – caso o voto impresso não volte. Que agora marqueteiros chamam de “voto auditável”.

Mas por falar em auditoria, o dito regime golpista e seus chefes, estão assustados com crescentes manifestações populares contra o descalabro administrativo e a obra golpista em seu conjunto. Manifestações que engrossam pelas investigações sobre a mortandade da Covid e as denúncias de corrupção na compra de vacinas e na queima das matas.

Revelando-se cada vez mais letal, escancarada sua ilegitimidade de forma solar, o que faz o regime? Redobra a aposta golpista e ataca as instituições que ainda podem barrar-lhe o ânimo ditatorial. STF está no alvo. Golpistas gostaram quando essa casa consentiu na trama de melar as eleições de 18. Turma gostou da fraqueza. Querem mais!

É nesse cenário de desastre prenunciado dos golpistas que eles astuciam a volta do “voto impresso”. Macaqueiam Donald... Antes fossem só mambembes do escracho. Antes fossem, mas não são.

No centro das denúncias sobre o seringaduto e ataque à democracia, sob investigação, tem colegas de coturno do ministro-milico-logista da saúde. Fardados em todo lugar se querem limpos. Mas deveriam evitar o envolvimento com práticas antirrepublicanas. Não deveriam ser ativistas partidários. Perdem aquela qualidade antiga de que são sujeitos da “religiosidade dos guerreiros”, que nos lembra Manuel  Domingos Neto. Qualidade que os cobriria daquela aura de “alheios aos interesses pequenos”, ressaltando que o “sentido de honra cultivado nas fileiras é estreitamente relacionado às causas elevadas que juram defender”.

Acrescenta o professor Domingos Neto, respeitado por seus estudos sobre militarismo e poder, que o “guardião ideal é incorruptível, como Platão teorizou há mais de dois mil anos. A cristandade recheou sua hagiografia de figuras militares. São Sebastião, São Jorge, São Longuinho, Santa Joana D’Arc, São Luís… Guerreiros vivem passando a ideia de que prezam o interesse coletivo ao custo da própria vida. Demandam a divindade como parceira. Perdendo a sacralidade, o guerreiro se esfarela”.

Notícias dão conta de que são mais de cinco mil funcionários militares exercendo funções políticas de caráter civil da administração federal. A partidarização parece inexorável. Pior, o contágio da corrupção – com o selo de miliciana é mais mortal – pode pegar os guerreiros que amam o país em que nasceram.   

A lorota da volta do voto impresso é senha do golpe dentro do golpe, do milico-político, a caminho este de sofrer um revés nas próprias urnas. É pretexto para melar o próprio pleito. Urge desmorolizar o cenário; deter o capetão.  

Fonseca Neto, historiador, da APL. 

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FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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