Proa & Prosa

Proa & Prosa

Teresina, figurações

“Teresina169: imaginário, figurações, imagens”

Fonseca Neto

Segunda - 23/08/2021 às 19:38



Foto: Paulo Gutemberg. Teresina
Teresina

No aniversário de Teresina que ainda se celebra neste mês de agosto, a Academia Piauiense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico convidaram o historiador Paulo Gutemberg de Carvalho Souza e ele deu um show de conhecimento sobre a cidade-capital do Piauí. Não é ironia: Paulo é de Oeiras, pétrea e antiga capital do Piauí. É historiador e fotógrafo. 

“Teresina169: imaginário, figurações, imagens”: este o título da Palestra, feita com iconografia muito bem selecionada. Delicie-se vc também, leitor/a desta nota, com os apontamentos do autor que recortamos e compartilhamos; e fazemos algumas crescenças:

1. “a cidade como arquivo / lugar que concentra vestígios-imagens de temporalidades várias”. As cidades são acervos de gentidade, a face luminar do humano vivente em aldeia, o corpo territorializado e rugoso pela faina econômica;

2. “Museu a céu aberto: a História da Terra - Cidade Museu: figurações urbanas - desarquivar as imagens para repensar a cidade não é um apelo nostálgico”. Teresina-museu captura num plano que junta troncos de árvores da Floresta Fóssil a edifícios arranha-céus que já os há muitos por aqui. Um portento museal incomum. Abandonado, digamos mais;

3. “Imaginação histórica - Central de Artesanato - um imaginário mais que bissecular - uma capital sonhada por funcionários de El Rei para redimir o Piauí dos atrasos econômico e cultural”. 169 anos na persecução desse desiderato: a dialética do crescer/desenvolver para quem, é dramática; 

4. “a nova Capital nasce sob o signo da mudança - 2 deslocamentos - da Vila do Poti para Vila Nova do Poti - de Oeiras para Teresina”. A capital do Piauí erguida no meado do Oitocentos é o desaguadouro de aspiração citadina do longo século anterior e clarão chapadeiro inaugural de configuração da cidade-luz de certa modernidade. “Papel histórico reiterado - Cidade Futuro -  figurações oitocentistas - a planta de Isidoro França”. O futuro chega e a figuração da cidade futura se faz insistente. 

5. “imagem literária x imagem visual” “- as 1ªs representações da paisagem urbana de Teresina, não são imagens visuais, mas literárias – Cidade Verde – não incute desejo de progresso material - Coelho Neto – 1899 - Eterna Noiva do Parnaíba (nunca haverá de casar-se com um Velho Monge – Clodoaldo Freitas – 1911)”. Gutemberg mostra a cidade de Teresina imaginada literariamente antes que revelada em imagens visuais. A arte de cidadear de seu povo diz da cidade real que se ergue ao “futuro” que parece não chegar – a tal ideia da cidade, no máximo, “menina”... “Resultado: não criamos uma cultura visual, daí não se conhece ícones visuais antes dos anos 40”;

6. “Estado Novo e invenção visual - interferências físicas e simbólica-visuais - interferência urbanística / via férrea urbana: linha símbolo da segregação espacial-social - alta produção e circulação de imagens e / - ausência de registros fotográficos dos incêndios”. De agora em diante, a cidade não só se imagina, e se ler, a cidade passa a se ver. E a primeira visão de si é a visão de seu corpo em reedificação, mutante, novos imaginários no proscênio; teria chegado o futuro: mudanças nas percepções sobre a mulher, os pobres, a estética da cidade-artefato... Educação-Liceu-Faculdade, Saúde-higiene – e o cataclisma humanitário cruel de eliminar a visão da pobreza tocando fogo no refúgio cinza-palha dos oprimidos.

7. A cidade-arquivo, cinquentenária, de Clodoaldo Freitas, sua história, sua historiografia; Teresina centenária, arcos de triunfo efêmeros lembrando a cidade em fluxos para o futuro. Mas a cidade agora é fixada em registros abundantes, imagens da localidade, de gente da localidade... As primeiras imagens da cidade vista dos céus.  

8, “- encontro dos rios: reencontro com o Poti Velho: - cidade torna-se metrópole, abandona o centro histórico - o triste fim das praças originais da cidade - o centro torna-se periférico”. Sim, o velho Arraial da Barra do Poti é engolido e deglutido no estômago da urbe.

Teresina 169: Teresinas.      

Siga nas redes sociais
Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

Compartilhe essa notícia: