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Paulo Freire, radicalidade libertadora


Paulo Freire

Paulo Freire Foto: Divulgação

Paulo Freire, cem anos de um brasileiro dos maiores. Uma glória. Titã da lucidez. Radical. 

Por que tanta superlativação? Ele merece: um mestre na plena acepção. O Brasil em luta pela dignidade humana tem nele um sinal prático. Sua radicalidade? Ensina: te fazem faminto, não há liberdade.

Não é pouco ter esta terra portupãfrica pós atlântica o professor Freire como seu filho. Ainda que filho desconhecido-desamado pela maioria dos seus “compatriotas”. E pode uma coisa dessas? 

Não pode mas é assim: o prestígio e devotamento dele se agigantou como efeito de feroz perseguição do sistema dominante a sua pessoa e obra. Domínio que tem raízes fincadas no solo profundo que nutre a elite ignota que manda neste país. 

Vejam que coisa! No exato momento em que escrevo, há notícias vagas dando conta de uma juíza – Juíza! Quanta coragem cívica – proibindo o Inominável da república em frangalhos de atacar Freire, formal e criminosamente, de “melar” o Centenário dele. 

Por que “os donos do poder” no Brasil militam para destruir o valoroso mestre? Porque sabem que – ombreado Freire com figuras extraordinárias, tais Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes –, o que muitos chamam de “crise” da educação brasileira – a baixa qualidade – é um projeto deles donos, há muito praticado.

O projeto dos “donos do poder”, da classe desses donos, trata de conservar a maioria da população como massa propícia à servidão, forçada e voluntária. Conservar essa maioria sem o compartilhamento do ganho civilizatório do engenho e labor humanos.   

Freire aponta exatamente no contrário da servidão e da escravização em larga escala que tanto marca o Brasil. Indica a pedagogia da liberdade na construção do caminho para a igualdade. Para elaboração da convivência humana comungante e companheira, sem algozes. 

O conhecimento há que libertar. O conhecimento advindo do ato educativo há que ter esse papel. Mas não é assim que as relações se fazem e conduzem no movimento da sociedade na História. O poder e a estupidez poderosa também disputam esse butim de possibilidades. É o que acontece no Brasil: a escola formal não encaminha para a liberdade essencial; norteia a submissão. 

Paulo Freire precisa ser amado e seguido porque, para transformar o Brasil num lugar de igualdade e reino de justiça é preciso solapar o projeto insolente de dominadores cruéis.  

O controle do sistema educativo no Brasil é absolutamente impermeável a mudanças no horizonte apontado por Freire. Repita-se: ele se orienta para impedir a emergência de uma inteligência libertadora da opressão colonial-mãe imposta em cinco séculos. 

O Brasil talvez seja a unidade dita nacional com mais analfabetos nesta parte do mundo. Analfabetos no sentido da ignorância e inabilitação sobre coisas aparentemente banais da vida comum. Por exemplo: não sabem porque não têm comida para si e milhões; desconhecem sua história. Escola? Se é escola pública como concessão particular-empresarial, sua dinâmica é orientada ao lucro e sua alienação e práticas. Se escola pública-estatal é pasto da burocracia para os proveitos da classe que manda. 

O sistema educativo brasileiro é tão excludente, de quem de fato precisa de escolarização para tocar a vida, que a escola da burocracia pública, sobretudo esta, trabalha com a variável de que o aprendendo pode ser promovido de ano ainda que no estado de ignorância primária. É o abismo.

Um dia milhões de brasileiros descobrirão o significado de Freire e sua obra intencionada em libertar o Brasil da escuridão cognitiva e da ignorância de si como sujeito da vida política – por exemplo.  

Pernambucano, Freire nasceu no 19 de setembro de 1921. Tinha 40 anos quando a infame ditadura militar, a serviço do sistema do capital, e sua oligarquia local, o expulsou de seu país, esta vilipendiada república miliciana. O expulsou junto com Darcy e outros. Lançou sobre eles a “condenação” de comunistas. 

Até o google-mundo o homenageia neste dia.    

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
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