Proa & Prosa

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Passagismo político. Sem mormaço

Minha terra é linda; as paisagens são inigualáveis.

Fonseca Neto

Domingo - 22/11/2020 às 18:12



Foto: Divulgação Minha terra é linda
Minha terra é linda

Passagem Franca, meu município de nascença, localiza-se na zona centro leste do Maranhão e é uma terra de palmeiras de muitas espécies, cocais quase sem fim – infelizmente já quase todos dizimados por vários tipos de especulação.

Minha terra é linda; as paisagens são inigualáveis. Basta dizer que a cidade-mãe, está assentada nos pés da serra do Bom Jesus, as águas do rio Inhumas correndo límpidas e molhando os seus pés. Imaginem que do húmus e das águas virgens, limpas, brota um imenso buritizal que aureola uma banda da póvoa original, o lugar da Passagem. Não precisaria berço mais ameno para se nascer.   

Não conhecesse eu um pouco mais o Brasil, diria que nesse paraíso de natureza se pratica a mais apaixonada “política” imaginável numa cidade sertaneja, já muito velha para os padrões brasileiros. Na Passagem – num falar dos mais velhos –, ninguém fica em cimo do muro quando se trata de eleição municipal. Ninguém fica “emormaçado” numa hora dessas. É tido como coisa feia... Também uma forma de subjugar a cidadania. É um município governado por arranjos familiais oligarquizados desde suas origens. Nas linhas seguintes, uma tentativa de caracterização e periodização, esquemática:

1. Das origens (1760) a 1820 é gestada a municipalidade, enfim politicamente autônoma em 1838, sediando uma freguesia cristã a partir de 1835 – aqui começa sua vida institucional. Famílias fundadoras e que já mandavam por essa época: os Fernandes Lima, Pereira Franco, Oliveira, Brandão, Pereira de Sá.

2. A partir de 1840, até 1880, avulta o poder sob o controle e maior mando dos Dias Carneiro, dos Carvalho, Pacheco, Bandeira Barra, Labre, Araújo, Costa Nunes... Carregando nos ismos e istas neologizantes, diria que é o tempo dos labre-carvalhistas.

3. De 1860 a 1895, preponderam os Coelho, Moreira Lima, Noleto, Carneiro, Rocha Santos, Correia... É o carno-vasquismo.

4.   De 1890 a 1920 expande-se enormemente o mando dos Vasco e Borges de Araújo, e Leite Guimarães... É o vasco-borgismo, que, sem queda, adentrará o século XX.

5.  De 1920 a 1950 o mando é centrado nos Cardoso da Silva, Vilanova, Porto, Saraiva e Francisco de Guimarães. É a era germanista no esplendor.

6. De 1960 a 2000, tempo de “ratos” e “labigós”: revezam-se à frente do mandonismo oligárquico local os germanistas reciclados – ou rato-germanismo – que ascendem ao poder, com os Pereira da Costa; revezam-se eles com o vasco-borgismo reciclado em porto-labigoismo.

7. Nas duas últimas décadas, impõe-se o rato-sousismo, que no último domingo, 15 de novembro, piscou, enquanto restou adensado uma espécie de parabo-labigoismo.

Nestes duzentos anos de história política, outros grupos familiares ganharam destaque passageiro, mas em regra, sob a centralidade desses mandonismos mais arraigados. Nessa categoria, entre outros, aliando-se a uns e a outros, convém assinalar os Barros Marinho, Pereira da Cruz, Alencar, Silva Moreira, Moreira Frazão, Soares, Silveira, Neiva, Nogas da Silva, Cazé, Melo, ...

Sendo uma municipalidade-mãe, que gerou mais dez, atualmente, esses grupos familiares mandões se projetaram fundando e dominando a vida partidária de algumas dessas unidades-filhas. Com efeito, em todo esse tempo, por exemplo, vê-se Pereira de Sá e Brandão, Coelho, e Moreira Lima, segurando Colinas; Leite Guimarães e Carvalho para Buriti Bravo, com Pereira da Cruz, e da Costa, agregando Aires e quetais. Na Manga, São Francisco e Patos, avultarão os Pereira de Sá, Fonseca, Ribeiro, Rocha Santos e Fernandes Lima...

Repito: na última eleição, observando esse quadro secular-histórico, ainda podemos referenciar em relação a esse oligarquismo reciclado passagense, que, enquanto se mexe de volta ao poder o parabo-labigoismo, vê-se derrotado o rato-sousismo expandido para Colinas, e o rato-costismo expandido para Buriti Bravo, e agora viçoso na Fortuna... Em Patos, triunfa das cinzas, reconfigurado, o rochassantismo, ou xeleléu.   Um ramo do labre-silveirismo, secular, já faz é tempo governa Parnarama, que, dantes, teve uma banda de sua territorialidade sob o governo eclesiástico da Passagem.

Não parece alentadora a possibilidade desse familismo ceder lugar ao verdadeiro governo republicano. Sim, historicamente é possível.          

Fonseca Neto, da APL.

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Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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