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Lula, tarefas na conjuntura


Luís Inácio Lula da Silva

Luís Inácio Lula da Silva Foto: Ricardo Stuckert

Os ensaios de movimento das ruas para barrar o avanço do golpismo morobolsorista mais que rapidamente move a direita neocolonialista na direção contrária: aciona ela o conhecido jeito do tempo bonifaciano, que pode assim se expressar no manjado “tiremos o povo da rua e vamos resolver isso entre a gente”.

Na prática, o núcleo golpista, que chancelou e feriu a ruptura da lei constitucional, tenta empunhar, taticamente, a bandeira da defesa da democracia, quando nota sinais de que seu golpe corre o risco do desmascaramento popular.

E não querendo nem ouvir falar de povo se movendo nas ruas para reaver direitos sociais, contestando o próprio golpe 2016 e lutando pela vida contra um regime que namora a tortura, a morte, a servidão, lança a isca de sua tática em direção a democratas e republicanos históricos. Alguns aparentemente se iludem.

Os recentes ensaios de lutadores sociais do povo, nas ruas, acontecem sob o impacto de episódio internacional e do desabrimento retórico e prático rumo à ditadura aberta que leva a efeito a direita golpista, agora arranjada com a robo-eleição 2018. Mas parte dos apoiadores do morobolsorismo ensaia afastar-se chefe quando tem esse conduta “pessoal” que fere, em raso, as instituições, a exemplo da bravata de fazer voo rasante de apoio em apoio a ato golpista em Brasília, na companhia do general-ministro da Defesa.

Veio a pandemia. O morobolsorismo então se engaja numa ação deliberada para deixar que o vírus se alastre, e todo mundo pegando a doença, em pouco tempo todos por esse modo estejam auto imunizados. Um delírio genocida, coisa de fascista, por enxergar na alastração virótica um meio de eliminar desvalidos. E por atacar a ciência e assumir o charlatanismo obscurantista como horizonte a seguir.  

Que faz a direita, ante seu chefe agindo, olímpico e nerino, enquanto a mortandade avança? Enquanto (a) seu chefe responde processo no Supremo? (b)  desmoralização militar expande? (c) Congresso atolado num pântano que parece insaneável? (d) O juizeco e o lavajatismo flagrado em seu intento político-partidário?

Acima de tudo, a direita viu que a rua pode conter a voracidade de seu projeto neoliberal radical tocado pelo Testa de Ferro da agiotagem mundial. Que faz, repita-se?

Apressa a rearticulação do secular pacto de dominação, intra elite, para se blindar em face da retomada das ruas – como tantas vezes se viu já no Brasil – e que leve à derrubada do seu chefe, sabujo barato, e sobretudo, que afete a viçosa implantação neoliberal.

Querendo imitar campanhas contra a ditadura de 64, tipo as Diretas Já, a direita tenta puxar setores da centro esquerda tradicional para pactuar a sustentação do seu regime sem maiores abalos vindos das ruas vermelhas de uma esperança que sinaliza se refazer. Aliás, manobra, como é tão recorrente, com o Supremo, com tudo. Mas este, na hora “h” de apresentação dessa última arrumação – noticiou-se – faltou ao encontro.

E algo parece saiu errado nessa manobra para salvar o morobolsorismo aparentemente rachado e no ajeitamento defensivo do núcleo duro da dominação para seu golpe não correr riscos: sibilinamente tentando atrair Lula da Silva, este, com clareza do papel que tem nesta complicada conjuntura, não mordeu a isca.     

A articulação antipopular é sobretudo contra o próprio Lula, a esquerda e o que significam na superação das graves questões que a conjuntura coloca, daí serem vistosos nela figuras emblemáticas do antipetismo: Marinhos, Efeagá, Ciro, Marina, feitos régulos da dominação tradicional. Mas não estão estimulando esse arranjo outras figuras da luta política com identidade na Esquerda? Sim. Dino, Haddad, Freixo, Boulos, fazem lances táticos; podem. Mas sabem que suas chances por lá são igual a zero, sem abdicarem de seu papel junto aos trabalhadores.

Lula logo percebeu o lance. Bastou perguntar, inclusive aos apressados de seu partido: “como é que querem tirar o cara sem falar o nome dele”? “Democracia para quem”? Desconcertou os afoitos. Lula tem papel central na Esquerda e na história presente. Não se candidatando a nada, atestará ainda mais sua sabedoria.  

 

 

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
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