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Luiz Phelipe Andrès

Nosso amigo Luiz Phelipe Andrès – notável mestre em matéria de Patrimônio Histórico – agora foi sorvido pelo tempo, na viagem imensurável que marca a finitude física de todo vivente ser.

Fonseca Neto

Domingo - 12/12/2021 às 13:21



Foto: Divulgação Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés
Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés

                                        

“São Luís é minha Ouro Preto à beira-mar”! Esta a sua consigna de mineiro na capital de  Daniel e Sousândrade.

Um homem necessário cumpre seus deveres pelas trilhas desta velha terra, passa ao Silêncio e fica uma obra plena de relevância e parteira de novas linguagens: chama-se Luiz Phelipe de Carvalho Castro Andrés.

Nosso amigo Luiz Phelipe Andrès – notável mestre em matéria de Patrimônio Histórico – agora foi sorvido pelo tempo, na viagem imensurável que marca a finitude física de todo vivente ser.

Dele se diz no Maranhão: “O mais notável engenheiro quando se trata da arquitetura do patrimônio edificado de São Luís”. Também se diz o contrário: “O mais notável arquiteto quando se trata da engenharia do patrimônio edificado de São Luís”. No rigor formal, Luiz era graduado em Engenharia, pela UFRJ, e mestre em Desenvolvimento Urbano pela UFPE. Era mineiro de Juiz de Fora.

Quando se imagina alguém, que a alma e o corpo se engajam num determinado ideal, dele faz um projeto e contempla a floração vitoriosa, tome-se como exemplo Phelipe Andrès. Acima de qualquer referência, um ser humano cujas paixões pela beleza o fizeram grandioso.

Por que São Luiz na vida de Andrès? Perguntei-lhe algo assim, ao conhecê-lo pessoalmente. Contou-me.

Jovem engenheiro, no Rio de Janeiro, amizades comuns o levaram a um círculo de maranhenses ali existente, em torno de Josué Montelo e Odylo Costa Filho. Surgiu então a oportunidade de vir servir ao Maranhão, na empresa de luz do Estado; em princípio, sem pretensão da longa permanência. São Luís o encantou à primeira vista – “achei uma Ouro Preto à beira-mar”! Entranhou-se ao corpo da cidade: uma ilhéu; filhos; a poética visceral da Ilha; as artes; o velejar da tradição-artesanal que os séculos trazem ao presente, dos velejadores das entrâncias mais que fugazes da costa maranhense – esse turbilhão literalmente sensacional passa a disputar ardorosamente seu coração. Inverteu-se a equação: São Luís passou a morar no dito coração.      

Naquela circulação pelo Rio de Janeiro, também na casa de Odylo e Nazaré, conheceu um sobrinho desta, do Piauí, Olavo Filho, morador de Minas, arquiteto pela UFMG, e já engajado nas pesquisas sobre o patrimônio edificado do Maranhão, sobretudo de São Luís, Alcântara e baixadas coloniais. Olavo e Andrès se tornaram grandes amigos e parceiros, tendo São Luís como aquele elo que os unia, a contemplação e a vontade maior de atuarem por sua salvaguarda e reabilitação. Uma espécie de imaginação utópica reversa os dominou ante a cidade-arte de uma Lisboa sob o Equinócio. Olavo publicou, em 1986, Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão, obra que dez anos depois se tornaria um dos principais referentes na constituição do dossiê que respaldaria, junto à Unesco, a concessão do título de Cidade Patrimônio da Humanidade à urbs erguida entre tabas e ocas de Upaon-açu.

E foi pela voz do amigo Olavo, que fui apresentado a Andrès, por ocasião do doutoramento, na UFMA, estudando justamente o esforço para reabilitar a antiga São Luís nos processos contemporâneos da dinâmica urbana. E, de quebra, em tudo, a força significante da inscrição de São Luís no livro mundial do Patrimônio da Humanidade.

Cheguei em São Luís, e meia hora depois, o grande Luiz Phelipe Andrès se apresentou e logo me convocou a “olhar” de perto a cidade. Como se diz, as portas – também todos os pórticos – se abriram, quando precisei. Fantástico. Tornou-se meu coorientador, informal. Algo inestimável.

Dediquei a ele e a Olavo a tese e o livro que dela resultou: A pátina do tempo – São Luís: cataclisma telúrico e patrimônio mundial.  Estávamos tratando do lançamento em São Luís, na expectativa do pós-pandemia.           

Ele do Conselho do Iphan, federal, fizemos bons diálogos quando a si foram submetidos os projetos de tombamento dos sítios antigos de Oeiras, Parnaíba e Piracuruca como Patrimônio Nacional. Relatou, depois, a inscrição da Estação de Trem, de Teresina, no Patrimônio federal.  

"O Maranhão perde um homem que se entregou de corpo e alma a promover a proteção do legado cultural do povo maranhense. Toda vez que você caminhar pela Praia Grande e suspirar a plenos pulmões diante de tanta beleza Luiz Phelipe vai Reviver", disse Alex Oliveira, certeiro.

Secretário Estadual da Cultura e titular da Cadeira Graça Aranha da Academia Maranhense de Letras, recebido pelo confrade Lino Raposo; belos discursos. Tinha o que dizer.  

Fonseca Neto, historiador, Cadeira 1, Academia Piauiense de Letras

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FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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