Proa & Prosa

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Kennedy e Sérgio & Caminhos e Fronteiras

O estudo e publicação lavrados por J. K. objetou, em peneira fina, finíssima, Raízes do Brasil e Caminhos e Fronteiras.

Fonseca Neto

Segunda - 04/10/2021 às 12:13



Foto: Divulgação Livro
Livro

O doutor João Kennedy Eugênio, de Altos, professor da Ufpi, provavelmente seja o mais completo sergiano de Buarque da atualidade. Conhece muito do notável Sérgio Buarque de Holanda, pois cometeu a aproximação e ousou tocar as raízes do conjunto da obra referencial desse mestre.  

Mais: as raízes, seu entroncamento num corpo robusto, e sua imensa fronde, que não para de se agigantar, nutrida na atmosfera do desenvolvimento de novos estudos. De Holanda se encontra entre os mais instigantes entendedores do Brasil.      

Literalmente, J. K. fez luz sobre a obra de SBH tida e havida por interpretacional da formação brasileira, Raízes do Brasil, e de sua irmã congênita Caminhos e Fronteiras. E lógico que leu Monções, Visão do Paraíso. Delas todas, sobretudo de Raízes, de 1936, dizem ser sua obra mais original e influenciável.     

O estudo e publicação lavrados por J. K. objetou, em peneira fina, finíssima, Raízes do Brasil e Caminhos e Fronteiras. A primeira parte da tese publicada em 2011, pela Edufpi, com o título Ritmo espontâneo: organicismo em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, foi agraciada com o Prêmio Jabuti, acontecimento inédito na vida literária piauiense. 

Agora, 2019, vem publicada a segunda parte da tese, em livro intitulado São Paulo de Sérgio Buarque, organicismo em Caminhos e Fronteiras, fechando-se o esforço de Kennedy de situar a constituição do contributo sergiano no lugar, no tempo, e na genética e orgânica das ideias da ocidentalidade. Não só ideias, mas experiências postas à recepção num lugar longe.   

No volume que vem editado, de Goiânia, pela Kelps, opção editorial acertada, J. K. reimprime a Introdução da edição da primeira parte, em que oferta ao leitorado pistas essenciais sobre as interpelações que levam às linhas da pesquisa, às evidências, ao diálogo das lavraturas sergianas com diversas fontes, na chamada produção historiográfica, socio-etnoantropológica. 

Repita-se: esse livro 2 da tese kennediana trata em profundidade do organicismo em Caminhos e Fronteiras e seu autor o edita e apresenta sob a forma de dois densos capítulos: 1. Necessidades específicas – As formas do organicismo em Caminhos e Fronteiras; Organicismo e realidade: adaptação e trocas culturais. Capítulo 2. Diálogos em voz baixa – Diálogo com Raízes do Brasil; Diálogo com Gilberto Freyre; Diálogo com Capistrano de Abreu; Diálogo com historiadores paulistas; Diálogo com Eduardo Prado; Diálogo com Paulo Prado; Diálogo com Euclides da Cunha; Diálogo com Max Weber.  

Por que São Paulo no título desse segundo livro? Porque a capitania dos paulistas, formação primordial do atual Estado de São Paulo é o cenário e a engenharia experiencial contemplados por Buarque de Holanda em Caminhos e Fronteiras.

O organicismo é o “detalhe” que foi deslindar nessas obras sergianas capitais. Diz o autor, em resumo, que “nos dois livros há um trecho-síntese da concepção organicista de cultura, que permanece praticamente idêntico nos trinta anos que vão da primeira edição de Raízes do Brasil (1936) à edição de Caminhos e fronteiras (1957)”.

No prefácio de Ronaldo Vainfas, orientador de tese de J. K. E., uma pista larga para se entender a grandeza intelectual de seu orientando e a magnitude da sua contribuição intelectual: “Kennedy nunca foi muito apegado a rótulos ou disciplinas organizadas, que muitas vezes não passam de camisas-de-força que inibem a liberdade intelectual e consagram mesmices”. “Kennedy, a exemplo de Sérgio, viaja no ‘espírito’, como um hermeneuta da alma do historiador”. “Aventura audaciosa a de João Kennedy: eleger a obra de SBH como objeto de investigação e considerá-lo também como sujeito, enquanto historiador, e portanto marcado pelas angústias de seu tempo. [...]. O Brasil de Raízes é a fronteira da Europa, quiçá Pernambuco, terra do pai de SB. O Brasil de Caminhos é São Paulo, berço de Sérgio, fronteira da fronteira”.

Eruditas, na plena acepção, a obra de Sérgio e a obra de João. O conhecimento festeja.  

Fonseca Neto, historiador, da APL, do IHGP.  

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Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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