Olhe Direito!

Olhe Direito!

REFLEXÃO

80 anos depois: o fim da II Guerra Mundial

Com vilania e mal sendo banalizados, é desestimulante que as memórias reflexivas sobre a II Guerra Mundial se esmaecem

Por Álvaro Fernando Mota

Sexta - 09/05/2025 às 15:31



Foto: Domínio público/Wikimedia Commons Tropas alemãs avançam na Noruega, no primeiro semestre de 1940: os nazistas na ofensiva
Tropas alemãs avançam na Noruega, no primeiro semestre de 1940: os nazistas na ofensiva

Os 80 anos do fim da II Guerra Mundial na Europa devem ser celebrados na quinta-feira, 8 de maio de 2025. Tratou-se do mais letal dos conflitos, o que mais pessoas matou em menor espaço de tempo, com estatísticas que chegam até a 60 milhões de pessoas, considerando não somente as baixas nos campos de batalha, mas as perdas de vidas de civis assassinados ou levados a óbito por fome e doenças.

Tony Judt, historiador inglês nascido em 1948, três anos após o fim da II Guerra e morto em 2010, produziu um dos mais sensacionais livros sobre a Europa depois da carnificina – “Pós-guerra, uma história da Europa desde 1945”, que em suas mais de 800 páginas deixa o leitor quase sem fôlego diante dos dados – entre os quais a presença 7,4 milhões de estrangeiros obrigados a trabalhar na Alemanha pelos nazistas; a morte de 36,5 milhões de europeus, 16 milhões deles na Rússia, 5 milhões na Polônia; 1,4 milhão na extinta Iugoslávia e 450 mil na Grécia.

A II Guerra Mundial, define Judt, foi um conflito total que se abateu sobre a população civil de modo devastador, deixando que escapassem daquele inferno bélico mas poucas aldeias. No Leste europeu, destaca o autor, a ação das tropas nazistas, primeiro, e soviéticas, depois, foi marcada pela crueldade que fez da morte de civis uma rotina. Os campos de extermínio nazistas são a mais conhecida evidência disso, mas as execuções em massa de “partisans” nos Balcãs também são provas de como as coisas eram bem ruins nos quase seis anos em que a Europa de engalfinhava em uma luta sem precedentes.

Convém é que sejam citadas que as mortes e a destruição causadas na Europa – mais e melhor documentadas, pelo menos em razão do acesso a esses documentos por nós brasileiros – não obscureçam também os resultados nefastos da II Guerra Mundial sobre a Ásia e África, este último continente desconsiderado ou esquecido nessa história, mas com perdas materiais e humanas consideráveis antes, durante e depois do conflito.

A China teve 25 milhões de mortos pela ação imperialista japonesa, onde as baixas militares somaram 2 milhões de homens, enquanto na Índia, a fome causada pelo conflito levou à morte 2 milhões de pessoas. Há dados a indicar a morte de 5,5 milhões de pessoas na Indonésia, sob ocupação holandesa, Vietnã, Laos e Camboja, sob domínio francês – o que evidentemente colocou esses territórios sob a bandeira nazista entre 1940 e 1945.

As perdas materiais foram tamanhas que até hoje não há consenso sobre o tamanho delas, mas, novamente levando-se em conta os dados de Judt, isso deixou infraestruturas agrícolas, viárias, residenciais, de serviços essenciais e de energia quase que totalmente destruídas. Alemães, ingleses e japoneses deixaram a guerra com mais da metade de suas economias queimadas no conflito.

Passados 80 anos de uma guerra total muitíssimo bem documentada, que tem entre suas causas o expansionismo de potências imperialistas sobre outras potências imperialistas, com vilania e mal sendo banalizados, é desestimulante que as memórias reflexivas sobre a II Guerra Mundial se esmaecem. Anda para trás o mundo que experimentou avanços civilizatórios com o fito de conter e coibir extremismos ideológicos que vulgarizam o extermínio e estimulam a intolerância.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
Siga nas redes sociais

Compartilhe essa notícia:

<