Qual Jacarandá? Sim. Mas o professor Zózimo Tavares, com graça, até diz: qual Jequitibá.
Estamos falando sobre Celso Barros Coelho, que agora alcançou, ao vivo, como sonhou a vida inteira, seus 100 anos de nascimento. As mulheres são a primeira maravilha da criação e a variável de emoção a impulsionar o essencial de seu longo e centenário viver.
Biógrafos do notável Dom Helder Câmara lembram que ele, ainda seminarista, perto da ordenação, hesitou sobre esse passo decisivo em sua vida: seria um padre eclesiocêntrico ou deveria seguir a vida como leigo universalista? Resolveu ser padre universalista.
Seminarista, porém, não cortou as interlocuções com o pensamento e outras leituras do mundo, extramuros, filosofia e política etc. Numa queda por Santo Tomás de Aquino, para quem “Deus revela-se na beleza, que constitui uma prova de sua existência”, Helder entendia “uma graça divina ser sensível à beleza”. Recebeu a sagração das ordens.
Celso, também seminarista, lastreou-se nessa ambiência de significativas leituras do mundo e, claro, da própria vida religiosa. Antes da ordenação, descobrira-se, mais, um ser pulsante da extramuralidade, lugar das evas, da beleza divinal. E assim, qual um evano edênico, segue a vida como leigo universalista.
Sobre Celso, digo isso, do que o conheço, pelos contatos da sala de aula, no curso de Direito, eu, estudante, ele professor. Depois na Academia Piauiense de Letras, ele, com os cardeais Paulo Nunes e Monteiro de Santana, liderando o chamado para nossa candidatura. O banquete de ideias e o apego à cultura.
Uma solenização sem exageros rituais e ornatos e cheia de beleza – elas, muitas –, cantou escancaradamente a vida de Celso nestes dias: boa prosa, poética, sua vida revisitada por muitos e a pessoa corporal reverenciada, entre a lisonja beijada e abraçada.
Nos cem anos de vida, e 88 de labor continuado, tem ele muito o que contar: do balcão de loja; do magistério por vocação; o Direito, pela advocacia; cargos e funções públicas, inclusive mandatos eletivos; a lavra acadêmica sistemática – daí que é um respeitado jurista e não mero “operador do direito”. Celso sabe e vive a diferença entre Direito e Justiça. E a unanimidade se faz na percepção de ser pessoa eticamente inteira.
Essas referências todas foram evidenciadas na magna sessão, e são evidenciadas nesta hora em que, pela primeira vez, a APL e as academias que ele integra celebram o Centenário de um “imortal” ainda em vida.
Imagine-se uma coisa dessas, contada por ele a vida inteira: ainda uma criança, na tenríssima idade, foi dado em família como morto, ante enfermidade grave e à míngua de meios para se curar... Já quase se tratando do enterro, entre rezas, benzeções e unguentos, ele despertou. Um milagre?
Pouco tempo depois, em Pastos Bons, já conhecendo o alfabeto e be-a-bá por sua tia de sangue, Maria de Lourdes Barros, ingressou na escola pública formal, primária, muito aprendendo, mas sobretudo retendo na alma a beleza feminina de sua professora pública, Helena de Gusmão. E, logo, por contingência da vida paterna, muda de ares e vai morar mais adiante no sertão, em Picos – Colinas –, onde estuda num Grupo Escolar, João Pessoa, logo mudando-se novamente do lugar de nascença por injunções na vida de seu pai, Francisco.
Nos arredores da histórica Pastos Bons, da infância, cultiva a memória agradável da fazendola do avô paterno, Conrado Coelho, chamada de Jacarandá, ligada a outra, perto, de nome Fortes, referentes telúricos que o animam, muito, na estação da vida que alcançou.
Duas vezes o acompanhei aos Fortes em jornadas para ver o lugar e amigos de infância dele. Um olho d’água em bicas naturais, ao sopé de um contraforte em lajes, encharcando o brejal dadivoso. Acho que aquelas águas virgens e mornas são elixir que alongam a vida. Eis a prova.