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Lula, eu, o fusquinha

Lula veio do périplo interiorano, no dia anterior ao retorno para São Paulo, foi realizado um grande ato público à praça do Verdão, final da tarde/noite

Fonseca Neto

Segunda - 18/04/2022 às 07:16



Foto: Divulgação Lula
Lula

1980: Luís Inácio da Silva, o Lula, visitou o Piauí pela primeira vez, entrando por Floriano, vindo de carro, pelo Maranhão, acompanhado de pequena comitiva, da qual fazia parte o deputado federal Freitas Diniz (PT-MA, eleito na “ala autêntica” do MDB).

Ficou quase uma semana no Piauí. Entre mais, visitou Oeiras, Picos, Pimenteiras, Valença, Água Branca, Parnaíba, Esperantina, além de Teresina, onde encerraria a jornada, com ato público.

Lula veio do périplo interiorano, no dia anterior ao retorno para São Paulo, foi realizado um grande ato público à praça do Verdão, final da tarde/noite. Após isso, um grupo de organizadores pró-PT, liderados por Antonio José Medeiros, reuniu-se a Lula num comes e bebes, na Beira-Rio, entre mais pessoas, este que agora conta a história, Rita Cavalcante, Antonio Carlos de Andrade, Manoel Meireles, e a companheira Mascarenhas; Altino Dantas, vereador de Santos, SP, acompanhava Lula.

Na “janta”, eram cerca de 9 da noite e Lula disse – lembro bem: “não posso voltar sem fazer uma fala pros companheiros de Campo Maior, prometi a Luiz Eduvirge...”. E fala para que o próprio Luiz mobilizara e esperada para as 5 da manhã, no Mercado ou Feira.

O voo de volta de Lula estava marcado para as nove e meia da manhã. Transbrasil. Qual o problema urgente a resolver? Como garantir – carro – para Lula e Altino irem a Campo Maior e aqui estarem de volta na hora do voo? Ninguém podia. Ritinha do Antonio Jose logo disse que o seu fusca estava sem condições de sair de Teresina; Antonio Carlos, com quem Lula circulava em Teresina e o hospedou em sua casa, também não poderia.

Que fazer: Lula não iria por falta de carro? Eis um arranjo: Meireles e Mascarenhas moravam em Altos e se dispuseram a levar Lula, Altino e Antonio José para dormir em Campo Maior... Mas não podiam trazê-lo na manhã seguinte... E aí?

Fui então convocado a fazer minha parte: eu tinha um fusquinha 78, bom estado, placa BC-9308/PI, dispus-me a ir, cedinho, buscar a comitiva, de forma que às 8 e meia estaríamos todos no Aeroporto, já de volta.

Assim fiz: cinco e meia da manhã saí na missão, cheguei em Campo Maior quase 7. Na praça do Mercado, Lula muito assediado e atencioso; perto das 8 embarcamos de volta: na frente, eu, dirigindo, e Antonio José, banco do carona. No banco de trás, Lula, Altino, e Mascarenhas, que desceu em Altos. Aliviou um pouco a carga do fusca.

Lula pressionando tempo todo para apressar, temendo atraso no embarque e lembrando que tinha um compromisso às 8 da noite, em Santos, que não poderia faltar – Altino era testemunha.

Acelerei o quanto possível, em segurança – nunca abusei com velocidade... Quase de frente à placa “Teresina 20” Km, um pneu traseiro estourou, desembeiçou, consegui segurar e frear, o carro rodopiou, a calha vincando o bom asfalto em elipse e por fim ficando no acostamento com a parte da frente descendo o pequeno aterro – sorte que quase plano.

Nós quatro nos olhamos, “amarelos”, assustados. Rápido descemos... Empurramos e reposicionamos meu fusquinha ao acostamento. Lula logo bradou: “tenho o ato em Santos...” e “quem é o brasileiro que não sabe trocar pneu de fusca!?” e correu ao bagageiro pra pegar o pneu de socorro. E a surpresa, ruim: estava “seco”. Lula: “como pode?” Mas sabia as condições daquela viagem.

Coisa de anjo: nessa exata hora, levantamos a mão pedindo carona. E o primeiro que apareceu e parou foi um estudante do Colégio Agrícola, meu conhecido. “Fonseca, o que foi?” Contei rápido e pedi que levasse os dois ao Aeroporto; ele abriu sua Belina Um, Lula e Altino entraram, rápido, com suas pequenas bolsas; eu e Antonio José ficamos, fechamos bem o fusquinha, sobre os três pneus; incontinenti passou, e embarcamos num ônibus Cícero Santos; descemos na Miguel Rosa/Estação, tomamos um táxi e chegamos no Aeroporto antes do próprio Lula... Aeroporto cheio de militantes e Cineas perguntou: “como pode?” Avião atrasou um pouco.

Lula embarcado, ali mesmo tomei táxi, peguei borracheiro com estepe, voltei ao local e tudo resolvido. No dia seguinte, jornal O Estado alarmou em manchete de quatro colunas: “Lula Quase Morre de Acidente no PI”. Num equívoco, disse ser o fusca de Medeiros.   

Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
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