Muitos livros entrando em circulação por estes meses. Em Teresina e Oeiras foi lançado um deles com bastante impacto: Bacia do Canindé, de Wilson Nunes Martins, pela Bienal Editora, 500 páginas.
O título dessa obra é direto e trata-se de um livro revelador sobre o micromundo também denominado de vale do rio Canindé, e seus afluentes de diversas grandezas, região geo-histórica do Piauí, assim constituída no passo da vida social local e de suas interrelações nos últimos 500 séculos.
Sim, o livro é pretensioso pelo alcance de sua temática, conquanto seja um compêndio circunstanciado de informações sobre a espacialidade da referida bacia hidrográfica, com bastante detalhes sobre o meio físico e a demografia que o move em processo social. Rico em gráficos e afins. Foografia, idem.
O bioma caatingueiro num reino de natureza incomum no Brasil; a vicissitude dos estios alongados; a distribuições de sua gente pelas beiras e ribeiras; os cultivares; sol e vento abundantes se tornando riqueza amoedável; o deslumbre da paisagem... Todas as culturas da hinterlândia semiáridasão examinadas, entre a historicização de seu real vivido e a projeção de sua potência econômica nas mãos da presente geração.
Do ponto de vista da ocupação humana, a bacia e os grupos sociais que a habitam, são referidos, de maneira mais detida, aos últimos 359 anos de sua formação humana, com acento na dinâmica da economia política colonizadora.
Costuma-se dizer que a invasão colonial que cria a sociedade a que chamamos de Piauí, tem seus referentes fáticos relacionados à bacia do Canindé, sem esquecer que a dominação dela decorrente estabelece seus marcos com a força das leis que despojam a população habitante e do que sobre esta decorrerá em termos de flagelo e exasperação. Nesse sentido, o primeiro vale devastado foi o do rio Gurgueia. Mas o do Canindé, objeto do autor, foi-lhe contemporâneo.
Wilson dá notícias rápidas sobre esse acontecer original da região e então passa a retratar e refratar o que é hoje a Bacia do Canindé, com ânimo de acentuar em detalhes as condições de sua existência dada, em termos do que se conceitua como desenvolvimento, e seu contrário. Neste contrário, uma certa historicização das permanências – e digo eu, permanências que conspiram contra o real transformar.
Como o livro declaradamente é um repertório de conhecimentos para alavancagens de experiências exitosas do processo formados da região, temos diagnosticado praticamente tudo do que se precisa para referenciar iniciativas de quantos queiram ser delas protagonistas. Sobretudo no que diz respeito à imediatidade de ações sabidamente alcançáveis pelas políticas públicas governamentais e de agentes diversos.
Aliás, Wilson, além de notável profissional-médico, há cinco décadas tem engajamento nas lutas políticas do País e governou o Piauí em dois períodos administrativos. Sua escrita deriva, assim, de um circunstanciado conhecimento empírico sobre o Piauí, suas querências sonhadoras, e, claro, sobretudo, sabe ele acercadas travas de certo atraso. Mais: também declaradamente o livro e sua massa informativa são matéria de um conhecimento efetivo do filho da região. Wilson é um valoroso canindense.
Para o livro, foi re/ver e registrar diretamente cada nascente e desembocadura das aguadas, os 89 municípios e o que cada um dispõe. Ele não esquece que a bacia do Canindé foi descrita na década final do Seiscentos – 1697, 2 de março –, pelo padre Miguel de Carvalho, que liderou a fundação da que seria, a partir de 1762, a cidade de Oeiras, capital do Piauí, e dos sertões da gadaria. A obra de Wilson e a de Miguel confluem por incorrerem em lavrar o mesmo destino, do rio e de gentes.
Qual a diferença desse livro em relação a um livro qualquer sobre a região do Canindé e o próprio Piauí? A diferença é a riqueza informativa e o modo de apresentar a região com os pés no chão e a compreensão formal dos seus processos e vivências.
Outro ribeiro canindense prefaciou o Bacia: Wellington Dias.