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RELIGIÃO E FÉ

Páscoa e natureza

Por Álvaro Mota

Sexta - 18/04/2025 às 06:39



Foto: Reprodução/Redes sociais Ressurreição de Cristo é o sentido da Páscoa
Ressurreição de Cristo é o sentido da Páscoa

A Páscoa é a festa judaico-cristã que celebra a libertação e a vida. Os hebreus celebram a fuga do cativeiro no Egito, enquanto os cristãos lembram a ressurreição de Cristo. Nos dois casos, a data serve de guia para reflexões sobre agir com mais humildade, sabedoria e bom senso diante da vida – sobretudo considerando que nenhuma pessoa está isolada.

No Evangelho de Mateus, capítulo 6, encontra-se a oração do Pai Nosso. Há nesse texto bem mais que um modo de um crente cristão dirigir-se a Deus, há a lição de que para merecer o perdão a gente precisa primeiro perdoar – o que parece ser uma recorrência nas lições do próprio Jesus Cristo. A vida é que deve ser valorizada.

Esse mesmo texto, nos apresenta a ideia de que se as pessoas trazem dentro de si a ansiedade de querer bem mais do que precisam ou merecem, estarão em desencontro com Deus. Sabemos todos a resposta a uma indagação contida no texto: “Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?”. Sim, a vida vale mais do que o que comemos e o que vestimos.

Assim, ainda seguindo pelo texto, compreende-se que ele nos proponha colocar na balança o valor da vida com igual para um ser humano e outra criatura de Deus, uma ave, que nem semeia, nem corta o que foi semeado, nem guarda essa colheita, mas mesmo assim tem o alimento que lhes é dado por Deus.

A vida vale tanto para nós quanto para as aves livres no céu. Daí a importância de sua valorização por nós mesmos, de sua preservação, da conservação das formas de se viver, de tal modo a haver menos riscos à nossa sobrevivência – cada vez mais guiada por ter que ser; por possuir que experimentar; que consumir que contemplar.

Humildade diante da vida para preservá-la pode ser uma regra escrita num texto considerado sagrado, como o Evangelho de Mateus, novamente em seu capítulo 6, versículos 28 e 29, recoloca em nós a visão de que somos pequenos demais diante da Criação: “Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.”.

Devemos tirar desta última afirmação uma lição firme sobre como é importante a gente se despir das vaidades, porém, mais do que isso, de perceber que somos apenas parte de um conjunto de maravilhas da Criação – não sendo mais importantes que uma planta que nasce sem ser semeada, vestindo-se de modo perfeito, muito mais que a perfeição faustosa construída por mãos humanas.

A leitura do texto fez-me levar adiante a ideia de que, sim, a Páscoa pode estar ligada à natureza – não pela razão religiosa, mas pelo que se pode aprender da religião na valorização da vida. Os hebreus vagaram no deserto à busca da terra prometida após a fuga do Egito; os cristãos buscam ter uma vida mais proba e comedida para lembrar o sacrifício de Jesus, que venceu a morte. E nas duas situações, como já posto, é a vida que se deve buscar preservar, por melhoria comum a todos.

Creio que se cuidamos da natureza agimos sempre pela vida. Nenhum de nós poderá se sentir melhor vestido que o lírio do campo porque esta ou qualquer outra flor silvestre deixar de existir. Se morrem os lírios ou quaisquer que sejam as flores no campo, é a vida que perece. Se desaparecem as aves dos céus porque cuidamos mais de nossas vidas que da vida delas, não fizemos o bastante para uma vida que nos liberta.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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