Olhe Direito!

O holocausto e nós


Judeus húngaro após desembarcarem em Auschwitz II, na Polônia ocupada, em maio de 1942

Judeus húngaro após desembarcarem em Auschwitz II, na Polônia ocupada, em maio de 1942 Foto: Museu do Holocausto

Desde 2005, uma resolução das Nações Unidas determina que o 27 de janeiro seja lembrado como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto. A data marca a liberação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, em 1945.

Trata-se de data para refletir sobre a dor infligida a uma população ou etnia por ações deliberadas de extermínio – o que se caracteriza como genocídio, no caso em tela comum a judeus e outros inimigos escolhidos pelos nazistas, como ciganos, homossexuais e comunistas.

O extermínio em escala industrial de judeus, sobretudo, é algo que não encontra paralelo na Humanidade, embora haja casos de ações genocidas tão cruéis quanto como o genocídio armênio (1915-1923), imposto pelos turcos ao povo da Armênia, com 1,5 milhão de mortos; o genocídio ucraniano, também conhecido como holodomor (1931 a 1933), imposto pelos russos liderados por Stálin ao povo da Ucrânia, com mais de 4 milhões de pessoas mortas pela grande fome; o genocídio dos tutsis pelos hutus, em Ruanda (1994), com 800 mil mortos.

Ante o fato de que extermínios étnicos em grande escala precede o genocídio judaico e segue existindo mesmo após o horror dos campos de concentração nos mostra que há muito a percorrer para a Humanidade atingir um grau de avanço civilizatório em que as diferenças étnico-raciais não possam ser levadas ao extremo de produzir ódio e morte.

A resolução da ONU que institui um Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto reporta-se basicamente às vítimas judaicas desta infâmia – no que não erro, evidentemente, mas há um vazio da não lembrança dos que pereceram em outros extermínios étnico-raciais. É claro que será preciso eliminar as barreiras políticas que impedem, por exemplo, lembrar dos armênios massacrados pelos turcos ou dos ucranianos mortos pela fome imposta a eles pelos russos.

Há um longo caminho a ser percorrido até que todos os que morreram em razão de ódio étnico-racial ou religioso sejam lembrando como vítimas de holocausto ou genocídio. Lembrar os judeus mortos nos campos de concentração é sempre uma boa forma de também manter vivas as memórias de outros povos e etnias submetidos à crueldade que mata em escala industrial.

Devemos, assim, seguir nesse passo de sempre lembrar dessas pessoas – a partir das mais esquecidas ou sequer citadas, como milhões de africanos mortos na travessia atlântica como escravos, até vítimas muito atuais de holocausto e genocídio em lugares como a África e a Ásia, onde o ódio étnico-racial e religioso permanece como um elemento produtor de dor, sofrimento e morte para milhões de pessoas.

(*) Álvaro Fernando da Mota é advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

Siga nas redes sociais
Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
Próxima notícia

Dê sua opinião: