Olhe Direito!

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O Brasil perde Lair Guerra de Macedo

Álvaro Mota

Quinta - 14/03/2024 às 11:58



Foto: Lula Marques/Folhapress Lair Guerra, símbolo de luta pelos direitos da pessoa com HIV
Lair Guerra, símbolo de luta pelos direitos da pessoa com HIV

Por Álvaro Fernando Mota
Advogado


Poucos piauienses das atuais gerações e mesmo aqueles de minha geração trazem vivo na memória o nome da médica Lair Guerra de Macedo. Seu nome não se destaca por ser uma celebridade ou por ter sido vencedora de alguma disputa esportiva, que sempre é uma distinção boa. Lair pode ser descrita com coisas mais simples, como o fato de ter sido uma médica que, no serviço público, fez muito mais do que se faz. Ela foi uma gigante. Desde ontem, é memória.

Lair Guerra de Macedo nasceu 80 anos atrás em um Piauí onde tudo era mais difícil e distante. Sua família, contudo, fê-la estar perto de um valor que deve ser dado a todos, a educação. Uma diferença e tanto que fez não somente dela, mas dos irmãos, pessoas bem-sucedidas. Delile Guerra de Macedo exerceu elevados cargos no governo federal, Carlyle Guerra de Macedo foi presidente da Organização Panamericana de Saúde (Opas) entre 1983 e 1995. Outra irmã, Estelita, foi prefeita de Curimatá.

O desconhecimento que recai em nós sobre Lair em nada reduz sua grandeza. Pelo contrário, só mostra o quão grande foi essa médica no seu desempenho como a líder de um dos mais bem-sucedidos programas no mundo de enfrentamento à pandemia do HIV-Aids. Ela somente fez com grande competência o seu trabalho, de modo discreto, sem buscar holofotes.

Foi sob a liderança dela, que esse programa brasileiro de enfrentamento ao HIV-Aids se tornou referência mundial, servindo de modelo para muitos países. Não é sem razão que tenha sido essa piauiense indicada merecidamente para figurar entre os candidatos ao Nobel da Paz.

Entre 1985 e 1996, ela coordenou o Programa Nacional de DST-Aids do Ministério da Saúde – ou seja, ela foi a pessoa certa no tempo certo e no lugar devido. Diz-se isso porque quando Lair Guerra iniciou sua exitosa passagem pelo programa, a pandemia de HIV-Aids estava em seu princípio.

Foi dela a concepção, com base no princípio constitucional de saúde para todos, a ideia de a distribuição gratuita e universal do coquetel antirretroviral. A prevenção, com boas e bem-sucedidas campanhas publicitárias e a distribuição gratuita de preservativos, além dos centros de testagem e aconselhamento também são ações lideradas por essa grande mulher nascida no Piauí.

Pode-se dizer, assim, que Lair Guerra de Macedo salvou milhares de vida, pois ao levar o Estado brasileiro a adotar medidas para mitigar os efeitos devastadores do HIV-Aids sobre a saúde das pessoas, a médica piauiense conseguiu com que houvesse drástica redução de hospitalizações, sequelas e mortes causas pelo vírus. Isso se falar na redução dos custos para o Estado brasileiros, já que é menos oneroso prevenir a transmissão do HIV e evitar as doenças oportunistas com o uso da terapia antirretroviral. 

Por tudo isso, humildemente, como cidadão e pessoa pública, presto minha homenagem a esta grande brasileira nascida no Piauí. Espero que outras homenagens possam-lhe ser feitas – por merecidas que seriam essas homenagens. 

Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Doutorando em Direito pela PUC-SP. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses. Presidente do CESA-PI.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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