Por Álvaro Fernando Mota
Advogado
Poucos piauienses das atuais gerações e mesmo aqueles de minha geração trazem vivo na memória o nome da médica Lair Guerra de Macedo. Seu nome não se destaca por ser uma celebridade ou por ter sido vencedora de alguma disputa esportiva, que sempre é uma distinção boa. Lair pode ser descrita com coisas mais simples, como o fato de ter sido uma médica que, no serviço público, fez muito mais do que se faz. Ela foi uma gigante. Desde ontem, é memória.
Lair Guerra de Macedo nasceu 80 anos atrás em um Piauí onde tudo era mais difícil e distante. Sua família, contudo, fê-la estar perto de um valor que deve ser dado a todos, a educação. Uma diferença e tanto que fez não somente dela, mas dos irmãos, pessoas bem-sucedidas. Delile Guerra de Macedo exerceu elevados cargos no governo federal, Carlyle Guerra de Macedo foi presidente da Organização Panamericana de Saúde (Opas) entre 1983 e 1995. Outra irmã, Estelita, foi prefeita de Curimatá.
O desconhecimento que recai em nós sobre Lair em nada reduz sua grandeza. Pelo contrário, só mostra o quão grande foi essa médica no seu desempenho como a líder de um dos mais bem-sucedidos programas no mundo de enfrentamento à pandemia do HIV-Aids. Ela somente fez com grande competência o seu trabalho, de modo discreto, sem buscar holofotes.
Foi sob a liderança dela, que esse programa brasileiro de enfrentamento ao HIV-Aids se tornou referência mundial, servindo de modelo para muitos países. Não é sem razão que tenha sido essa piauiense indicada merecidamente para figurar entre os candidatos ao Nobel da Paz.
Entre 1985 e 1996, ela coordenou o Programa Nacional de DST-Aids do Ministério da Saúde – ou seja, ela foi a pessoa certa no tempo certo e no lugar devido. Diz-se isso porque quando Lair Guerra iniciou sua exitosa passagem pelo programa, a pandemia de HIV-Aids estava em seu princípio.
Foi dela a concepção, com base no princípio constitucional de saúde para todos, a ideia de a distribuição gratuita e universal do coquetel antirretroviral. A prevenção, com boas e bem-sucedidas campanhas publicitárias e a distribuição gratuita de preservativos, além dos centros de testagem e aconselhamento também são ações lideradas por essa grande mulher nascida no Piauí.
Pode-se dizer, assim, que Lair Guerra de Macedo salvou milhares de vida, pois ao levar o Estado brasileiro a adotar medidas para mitigar os efeitos devastadores do HIV-Aids sobre a saúde das pessoas, a médica piauiense conseguiu com que houvesse drástica redução de hospitalizações, sequelas e mortes causas pelo vírus. Isso se falar na redução dos custos para o Estado brasileiros, já que é menos oneroso prevenir a transmissão do HIV e evitar as doenças oportunistas com o uso da terapia antirretroviral.
Por tudo isso, humildemente, como cidadão e pessoa pública, presto minha homenagem a esta grande brasileira nascida no Piauí. Espero que outras homenagens possam-lhe ser feitas – por merecidas que seriam essas homenagens.
Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Doutorando em Direito pela PUC-SP. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses. Presidente do CESA-PI.