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Cerrado, nosso bioma

O Parnaíba, nascido numa parte do que é o Brasil central, com sua imensidão de Cerrado, é tributário do que estudiosos chamam de “a caixa d’água do Brasil”.

Alvaro o Mota

Sábado - 26/10/2024 às 11:36



Foto: Ascom Cerrado do Piauí
Cerrado do Piauí

O ser humano é aquilo o que come, ensina uma máxima bastante difundida. Pode ser que seja essa uma verdade que muda na medida em que se alteram latitudes e longitudes, biomas e ecossistemas em que nós estamos inseridos. Nesta perspectiva, nós que somos de Teresina, habitantes de uma região de Cerrado, mas com a Caatinga a menos de 200 km de nós, matas de cocais no nosso entorno e manguezais a menos de 300 km em linha reta podemos nos orgulhar e termos o contentamento de sermos bem mais o que comemos.

Mas vamos ficar no Cerrado, o bioma que predomina em Teresina segundo registra o IBGE. Somos nós o que comemos deste bioma? Do que comemos e bebemos, melhor dizendo. Toda a nossa água decorre de um manancial que nasce na Chapada das Mangabeiras, nome decorrente dessa árvore endêmica do Cerrado que produz um fruto cujo doce habita as minhas mais especiais memórias afetivas.

O Parnaíba, nascido numa parte do que é o Brasil central, com sua imensidão de Cerrado, é tributário do que estudiosos chamam de “a caixa d’água do Brasil”. É no tabuleiro planaltino central que as águas se acumulam para abastecer as planícies no entorno – o vale do Parnaíba entre elas. Trata-se de riqueza natural comum pela qual todos nós devemos zelar.

Mesmo aqueles que ignoram estamos inseridos no Cerrado hão de se dar conta, uma hora ou outra, de que a sua substância decorre do que o bioma oferece, seja porque nele se cultiva ou se cria, seja porque nele vicejam plantas nativas de enorme importância como o araticum, o caju (comum também ao bioma Caatinga), o buriti, o bacuri, o tucum, o babaçu, o jatobá, a macaúba, o jenipapo, a pitomba e tantas outras.

Todos nós, em algum momento de nossas vidas ou durante toda a vida em variadas épocas do ano, temos à nossa mesa frutas nativas do Cerrado ou nos alimentamos daquilo o que se produz nestas terras antes tidas como pouco férteis, mas que graças a estudos da Embrapa se mostrou essencial à economia agropecuária do país. Mas ocorreu que o avanço da agropecuária se deu sem os devidos cuidados que, felizmente agora, há quem perceba a necessidade e busque corrigir os rumos do uso das terras no Cerrado.

Devemos lembrar que o Cerrado é o segundo maior bioma do país. Tem 2.036.448 quadrados ou 23,9% do território brasileiro. No Piauí, conforme dados da extinta Fundação Cepro. O bioma cobre 11.856.866 hectares, o que corresponde a 46% da área do Estado, equivalente a 5,9% do Cerrado brasileiro e 36,9% do bioma no Nordeste.

Esses números em si reforçam necessidade inadiável de preservação, conservação e uso racional do bioma, ao mesmo tempo que apontam para a sua importância social e econômica – e isso implica em se trabalhar a mais importante ferramenta para conciliar variados interesses e demandas de produção, preservação e conservação: a pesquisa e a produção de conhecimento. E isso vale para todos os biomas brasileiros, cuja ocupação econômica não pode ser feita em prejuízo da exploração racional de seus ativos naturais.

É, portanto, um imperativo o avanço em pesquisas e estudos para garantir que o Cerrado – assim como outros biomas – sigam como tributários de equilíbrio ambiental. No caso do Cerrado, tão próximos de nós, podemos todos dizer que ações que preservam boa parte da cobertura vegetal nativa e garantam a existência das frutas e da fauna própria são um alento. Afinal, todos nós que amamos os frutos do Cerrado, poderemos seguir sendo parte do que essa terra nos dá.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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