Olhe Direito!

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A imigração faz bem

Segunda - 16/07/2018 às 22:07



Álvaro Fernando Mota

Advogado

Quinta-feira da semana passada, em sua coluna no jornal O Globo, Carlos Alberto Sardenberg, escreveu que um dos mais bem acabados exemplo das virtudes da globalização está no futebol. Isso pode ser visto em campo agora, no desenrolar da mais vitrine futebolística do planeta, a Copa do Mundo.

Segundo disse o jornalista em sua coluna “a Copa é uma síntese da globalização em todos os sentidos, e mais especialmente quando se trata da União Europeia. Os times em campo refletem o multilateralismo, da livre circulação de pessoas, jogadores no caso, ao livre mercado dos clubes (empresas) e, sobretudo, ao livre trânsito e à comunhão de ideias”.

O texto do jornalista especializado em economia usa o futebol para mostrar ser um erro rejeitar a livre circulação de pessoas – algo que anima partidos europeus de uma direita menos liberal, mais populista e mais xenófoba. E que anima pessoas do lado de cá do Atlântico, onde a chegada de levas de imigrantes nunca, jamais deveria ser avistada como um problema.

Tomemos a questão aqui para mais perto de nós: será cada vez maior o número de estrangeiros em nosso país. Eles virão de países pobres ou afetados por problemas os mais variados. Serão pessoas com qualificação, capacidade empreendedora e talentos pessoais que poderão fazê-las se destacar em nossa sociedade, ganhando espaços que alguns imaginam reservados aos brasileiros.

Deriva daí um problema, que é a de achar que um estrangeiro não pode vir para cá porque tomará nossos empregos ou nossos espaços. Encarar o estrangeiro deste modo é uma forma de incensar o preconceito, estimular a xenofobia, como ocorre na Europa. Temos que olhar a presença cada vez maior de estrangeiros não como um problema, mas como uma oportunidade.

Não há somente tristeza e problemas nas levas e levas de homens, mulheres e crianças que circulam pelo mundo em razão de dificuldades em suas terras de origem. Existem certamente talentos, garra e gana de trabalhar, estudar, aprender e ensinar, compartilhar e cambiar conhecimentos – algo que realmente produz mais ganhos que perdas para um mundo em que circulam ideias, pessoas e capitais sem maiores obstáculos.

Sardenberg observa isso em seu artigo já citado, quando detona a ideia de que jogadores estrangeiros tomariam vagas de atletas locais, prejudicando o desenvolvimento do futebol nacional – o que se mostrou uma percepção falsa da realidade, porque quando a Europa se abriu para craques estrangeiros, eles trouxeram qualidade e evolução para todo o futebol.

Se no futebol a presença de imigrantes ou de seus filhos concorre para tornar o esporte mais competitivo, bonito e rico – literalmente rico –, que razão há para nós olharmos para o imigrante estrangeiro como uma ameaça? É um olhar desinformado ou preconceituoso, que não se sustenta em nossa própria condição histórica de país que recebeu estrangeiros desde sempre, incluindo aqueles trazidos até aqui à força, como os africanos escravizados.

O Brasil de agora, uma nação rica e bem formada, a despeito de mazelas e diferença sociais, também poderá ser favorecido por uma nova onda migratória, desde que saiba fazer bom uso dessa situação. Como no passado, em que estrangeiros vieram para cá e ajudaram a construir o país que somo hoje, agora muitos dos que podem vir devem colaborar para construir o Brasil que está por vir.

Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Atual Presidente do Colégio de Presidentes dos Institutos dos Advogados do Brasil.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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