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100 anos de A. Tito Filho, intelectual apaixonado por Teresina

Escudado por tantas “lentes”, como eram chamados os professores no século XIX, A. Tito Filho foi mais que um escritor que vivia, respirava a cidade

Alvaro Mota

Quinta - 24/10/2024 às 09:49



Foto: Divulgação A. Tito Filho
A. Tito Filho

Domingo, 27 de outubro, completam-se 100 anos do nascimento de José de Arimathéa Tito Filho – cuja existência se marca por três grandes amores, a esposa, dona Delci Maria, Teresina, a cidade que o acolheu, e a Academia Piauiense de Letras, que presidiu com desmedidos zelo e acuidade.

Tenho a sorte de tê-lo conhecido e de fazer parte do entorno de amizades que o cercaram, já que desde criança tive um contato com suas obras, levados à casa de meu pai, Berilo, por outra imortal da APL, a estimada professora Nerina Castelo Branco, de quem Tito Filho deveria ser parente, posto que seu avô, Silvestre Tito Castelo Branco, suprimiu este sobrenome dos registros civis dos filhos, incluindo José de Arimathéa Tito, seu pai.

Lembro que não foram poucas as vezes que os livros de A. Tito Filho entraram em minha casa para frequentar os olhos atentos de meu pai e, depois, a minha curiosidade em saber sobre esse excepcional cronista de nossa capital Teresina. Isso me fez alimentar-me do amor por Teresina, sempre frequente em seus escritos.

Compreendo que tenha sido ele essa pessoa capaz de falar muito e registrar a cidade de Teresina sob particular e privilegiada posição porquanto foi professor do Liceu Piauiense, magistério que exerceu paralelamente à sua atividade de procurador do Instituto de Assistência e Previdência do Estado do Piauí (IAPEP).

Escudado por tantas “lentes”, como eram chamados os professores no século XIX, A. Tito Filho foi mais que um escritor que vivia, respirava a cidade. Espelhava-se em intelectuais como clássicos no Piauí, como Higino Cunha, Clodoaldo Freitas, Odilon Nunes e seus professores no Liceu Piauiense, que igualmente se podem relacionar no seio desta intelectualidade, como os poetas Martins Napoleão, e João Pinheiro; Benjamin Batista;  o fundador do Arquivo Público do Piauí, Anísio Brito; Álvaro Ferreira, padre Joaquim Nonato Gomes; Edgard Tito; Raimundo Area Leão; Mário Batista; Moisés Pereira dos Santos; Francisco César Araújo; Agripino Oliveira e Júlio Vieira.

Em sua longa trajetória de escritor, produziu 38 obras literárias – boa parte delas com foco em Teresina, como é o caso de “Carnavais de Teresina”, “Chico’s Bar, a Solução”; “Crônicas da Cidade Amada”; “Praça Aquidabã, Sem Número”; “Teresina, Meu Amor”; “Teresina Roteiro Turístico” e “Teresinando em Cordel”. Essa produção literária com um olhar sobre a capital do Piauí nos permite realçar em A. Tito Filho a condição de um apaixonado por Teresina.

Era apaixonado pela cidade, mas também tinha seu coração pulsando de amor pelo Piauí, e sua obra voltar-se para o Estado como um cronista de sua História, um observador arguto das personalidades políticas e culturais que se fizeram importantes em seu viver; um memorialista do Tribunal de Justiça do Piauí, ao descrever fatos atinentes a uma cronologia da Corte, em seu fundamental livro “Sua Excelência, o Egrégio”, de que fez parte seu pai, o desembargador José de Arimathéa Tito.

Muito mais do que paixão, porém, a vasta obra de A. Tito Filho pode e deve ser entendido – e lido – como registros de época, como um importante documento no recorte de tempo em que foi produzido – ou fora do espaço temporal em que viveu, já que o escritor revela-se um registrador de memórias anteriores à sua existência na cidade de Teresina.

Tomo de exemplo a descrição que faz de Teresina em sua chegada à cidade, em 1932, no que narra haver “trilho de bonde, mas sem bonde”, em “Teresina, Meu Amor”, livro que faz um magnífico passeio pela memória da cidade, a partir de depoimentos, de poemas, de descrição sobre elementos típicos da culinária, alguns já até em desuso, como o chouriço, um doce feito com sangue e porco e castanha de caju.

Nos demais livros e em incontáveis textos jornalísticos, sempre se pautou o centenário A. Tito Filho por paixão a Teresina, que, aliás, se fez bastante concreta quando de sua passagem pela Secretaria de Cultura do Piauí, entre 1974 e 1975, quando legou a Teresina a conclusão de obra de restauro do Theatro 4 de Setembro. Porém, é a sua mais sólida obra, um conjunto de 38 livros, a mais viva e permanente contribuição para a História e a Cultura do Piauí.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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