É o que eu acho

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Será a hora de soltar Lula?

Terça - 26/06/2018 às 14:06



Foto: Reprodução Marco Aurélio Mello
Marco Aurélio Mello

Por mais que não se goste de Lula, Dilma, Gleisi Hoffmann ou o PT, caso não se tenha preconceito ou má intenção, não há como negar que a prisão do ex-presidente é ilegal, não só porque o ministro do STF, Marco Aurélio Mello afirmou isso em entrevista à imprensa portuguesa, mas também porque os maiores juristas do país consideraram, após ter acesso ao processo do tríplex, que não há nenhuma prova de crime de corrupção.

Mas, apesar disso, chegamos a mais de dois meses com o candidato que detém de 30 a 40% das intenções de voto, dependendo do instituto de pesquisa, preso no Paraná.

Temos que admitir que Lula está preso somente para que não possa disputar as eleições que venceria com certa facilidade. Temos que admitir que isso é um desdobramento do golpe que derrubou Dilma Rousseff, apesar dela já ter sido inocentada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Simplesmente a direita do Brasil, após a derrota de Aécio Neves nas eleições de 2014, percebeu que pelo voto não retomaria o poder. Era preciso tirar Dilma e eliminar Lula da disputa.

Imaginava também a direita que, com Lula preso, seus eleitores migrassem para outro candidato, de preferência Geraldo Alckmin. Mas o ex-governador de São Paulo não avança e se mantém em parcos 6%.

A direita, enquanto mantém Lula preso, trabalha por Alckmin, mas também tem demonstrado ter um ás na manga, um plano B: Ciro Gomes.

Ciro tentou mostrar uma face de esquerda ao eleitorado. Alguns blogs se deixaram seduzir pelo canto da sereia, mas como os 30 a 40% de Lula continuam irredutíveis, resolveu deixar a máscara cair e agora tenta se apresentar como um nome de centro, capaz de amealhar eleitores tanto à esquerda quanto à direita. Não hesitará, para isso, em se aliar com o DEM, o PP e quem mais quiser, pois percebeu a fragilidade Alckmin e quer ocupa seu lugar.

A sinuca de bico em que a direita se meteu é difícil de sair, pois o segundo colocado nas pesquisas é o ultradireitista Jair Bolsonaro, homem temido por suas posições extremistas.

Por que a direita não quer Bolsonaro? Porque ele é perigoso e incontrolável. Já deu mostras disso quando ainda estava no exército.

Um governo Bolsonaro não duraria muito e novo impeachment teria que ser arranjado pelo simples fato de que não conseguiria resolver os problemas do país com autoritarismo e truculência. Seu governo em pouco tempo seria um caos. Além disso, a direita quer uma agenda neoliberal, mas todos sabemos que, apesar de ultimamente ter falado em privatizações, não é isso que seu eleitorado quer, pois a imagem que criou é de patriota e nacionalista.

Marina Silva já é carta fora do baralho. O banco Itaú a abandonou pelo seu candidato, João Amoedo e ela enfrenta uma queda na preferencia do eleitorado.

Enquanto isso a crise econômica só aumenta no país, depois de uma greve de caminhoneiros que causou enormes prejuízos, há a possibilidade de nova paralisação por pura incompetência de um governo que não sabe negociar e, pelo que constatamos, tentou enganar a classe que agora se sente traída.

Temer está atolado até o pescoço na denúncia de favorecimento a empresa Rodrimar no Porto de Santos e nada indica que desta vez consiga se safar. 

Portanto, o sonho da direita em carimbar um candidato seu em outubro se esmaece.

Não há quem neste momento de crise gravíssima possa conciliar e unir o país, além de Lula e a direita sabe disso. Além disso, foi em seus dois governos que os ricos mais lucraram. Por que num terceiro governo não continuariam a lucrar?

O ministro Edson Fachin foi o primeiro a dar sinais de capitulação da direita em relação a Lula, em princípio acatando o recurso da defesa do ex-presidente para que ele fosse libertado e intencionando que esse recurso fosse apreciado pela segunda turma do STF, tida como garantista. Porém, o TRF-4 foi mais rápido e interviu obrigando Fachin a arquivar o recurso.
Marco Aurélio de Mello, ao afirmar que a prisão de Lula é ilegal, demonstra que a direita pode estar sim cogitando negociar com Lula para que ele possa ser candidato.

Para o bem do país, seria o que de melhor poderia acontecer.

Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada
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