É o que eu acho

Até quando esses Catilinas abusarão de nossa paciência?

Quarta - 28/06/2017 às 14:06



Foto: Reprodução/Google Cesare Maccari, 1888
Cesare Maccari, 1888

“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?

Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura?

A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio?

Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te?

Não sentes que os teus planos estão à vista de todos?

Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?

Quem, de entre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, em que local estiveste, a quem convocaste, que deliberações foram as tuas?”

Trecho de quatro discursos proferidos pelo cônsul e filósofo romano Cícero contra o senador Catilina, que tentava um golpe para derrubar a República romana.

Em novembro de 2013 um helicóptero carregado com 445 quilos de pasta de cocaína foi apreendido pela Polícia Federal. Nada de mais se a aeronave não pertencesse à Limeira Agropecuária, de propriedade do deputado estadual Gustavo Perrella (Solidariedade – MG), filho do senador Zezé Perrella, ligado ao também senador, Aécio Neves.

Após várias acrobacias internas da PF, a aeronave e seu piloto foram liberados, a mídia se calou e ninguém mais falou sobre o assunto.

Antes disso, pelos idos de 2009, a Polícia Militar apreendeu um tambor contendo 19 quilos de pasta de cocaína e meio quilo de crack, além de 13 cartuchos de pistola na fazenda de Aloísio Nunes, ministro das relações exteriores. O delegado, na ocasião, concluiu que o então senador foi vítima.

Domingo, 25, um avião bimotor, prefixo PT-IIJ, transportando 653 quilos de cocaína, foi interceptado pela Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo o piloto, a aeronave decolou da fazenda Itamarati Norte com destino a Santo Antônio Leverger, no Mato Grosso.

Os veículos de informação logo divulgaram que a fazenda é uma propriedade arrendada pela empresa Amaggi, da família do ministro da agricultura, Blairo Maggi.

À noite, a FAB divulgou nota sobre o ocorrido, dando conta de que a palavra do piloto por si só não constituiria prova, o que é verdade. Porém, o que chama a atenção é o fato de que à FAB não competiria esse tipo de declaração, uma vez que cabe à Polícia Federal investigar o caso e só mais tarde, após a conclusão, divulgar os resultados. Soou como se a FAB, após ter percebido que mexeu com peixe grande, se arrependesse da apreensão.

Outro fato que chama a atenção é o fato de hoje, 27 de junho, enquanto escrevo, a notícia ter sumido da imprensa. Ninguém fala mais nisso!

Nestes tristes dias em que vivemos, quando um presidente é denunciado por corrupção, um senador da República que teve 51 milhões de votos na eleição presidencial recebeu propina e corre o risco de ser preso e grande parte do ministério e do congresso está sendo investigada na Operação Lava Jato, causa repulsa termos traficantes no Senado, justamente um dos poderes de maior relevância na estrutura política da Nação.

A PF acaba de concluir em tempo recorde a investigação sobre o local de decolagem do avião. Adivinhem: não foi da fazenda de Maggi. Causa indignação perceber a operação abafa que já está em curso.

E tenho que frisar veementemente que isso é um fato gravíssimo!

A República NÃO PODE ser entregue a bandidos e traficantes! Em qualquer país com um mínimo de decência e civilidade, o povo já teria saído às ruas e derrubado esse governo.

Não há dúvidas de que Blairo Maggi sequer será investigado, afinal, como já é a segunda vez que o poder é pego com a boca na botija, o caso será tratado como banalidade.

É este justamente o perigo que corremos. O de começarmos a encarar tudo como banalidades.

Até que nos tornemos indiferentes e tolerantes à corrupção.

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Fernando Castilho

Fernando Castilho

Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada

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