Artigos & Opinião

Artigos & Opinião

Moro abandona o barco Bolsonaro

Beneficiado pelas decisões do juiz, Bolsonaro retribuiu com um superministério

Por Merlong Solano

Segunda - 27/04/2020 às 12:46



Foto: Agência Reuters Moro e Bolsonaro
Moro e Bolsonaro

Sérgio Moro apareceu inicialmente como uma esperança, no sentido de que o combate à corrupção poderia galgar a envergadura de uma caminhada rumo à construção de uma nação justa e capaz de cuidar de todos os seus filhos e filhas, reduzir as desigualdades sociais e tratar todas as pessoas na forma da lei.

Mas infelizmente, logo ficou claro de que não passava de peça importante numa ampla engrenagem de utilização do combate à corrupção como instrumento político pra atingir um objetivo principal: viabilizar o retorno do Brasil ao receituário do Estado Mínimo e ao império do capital financeiro. Para isso, era preciso retirar Lula e o PT do caminho.

O então juiz exerceu com maestria suas atribuições no plano: antecipou processos, comandou e orientou procuradores, vazou informações, julgou com base em convicções e sem provas e, finalmente, prendeu Lula, retirando-o da eleição de 2018.

Beneficiado pelas decisões do juiz, Bolsonaro retribuiu com um superministério. Mas não demorou muito. Os fatos demonstraram que ao presidente não interessava um ministro que fosse concorrente em matéria de apoio popular, e progressivamente Moro foi virando uma rainha da Inglaterra ou, numa alegoria mais contemporânea, um zumbi político.

Agora, com a renúncia, Moro mostra o progressivo isolamento de Bolsonaro, que caminha pra ficar com os terraplanistas e com os setores mais atrasados do Congresso, o Centrão.

Além disto, Moro ressuscitou politicamente. A centro-direita, que já recorreu a Bolsonaro em 2018 por não ter nomes próprios viáveis eleitoralmente, poderá muito bem recorrer à extrema direita novamente em 2022, na esperança de que Moro, um extremista com título de doutor, seja melhor do que um autoritário capitão reformado por indisciplina e com forte odor que exala das milícias.

Seria hilário se não fosse trágico. Enquanto o governo apodrece diante da TV, o País vê a pandemia se expandir sem que Bolsonaro, que tem os meios para tal, se sinta na obrigação de socorrer os Estados e Municípios, que estão na linha de frente do combate.

(*) Merlong Solano é deputado federal pelo PT e secretário de Administração do Estado do Piauí
24.04.2020

Siga nas redes sociais
Redação

Redação

Se você quer escrever e expor suas ideias esse é seu espaço. Mande seu artigo para nosso e-mail (redacao@piauihoje.com) ou pelo nosso WhatsApp (86) 994425011. Este é um espaço especial para leitores, internautas, especialistas, escritores, autoridades, profissionais liberais e outros cidadão e cidadãs que gostam de escrever, opinar e assinando embaixo.

Compartilhe essa notícia: