Em um mundo cada vez mais imerso no digital, as plataformas digitais tornaram-se os pilares sobre os quais a maioria de nossas interações sociais, profissionais e pessoais se apoia. Entretanto, à medida que navegamos por esse ecossistema digital, surge uma questão crítica, frequentemente ofuscada pelo brilho incessante de notificações e o scroll infinito de feeds: estas plataformas estão verdadeiramente alinhadas com nossas intenções e objetivos, ou estão simplesmente projetadas para capturar e reter nossa atenção a todo custo?
O livro “Liberdade e Resistência na Economia da Atenção”, de James Williams,ĺ lança luz sobre essa problemática, argumentando que a economia da atenção, na qual se baseiam muitas das nossas plataformas digitais favoritas, está em desacordo fundamental com a liberdade e autonomia individuais.
Segundo Williams, o design e a funcionalidade dessas plataformas normalmente desviam os usuários de suas intenções originais, promovendo uma cultura de distração e procrastinação em vez de apoio e realização.
A necessidade de reorientar as plataformas digitais para servir às intenções dos usuários, em vez de monopolizar sua atenção, nunca foi tão urgente. Isso implica uma mudança de paradigma no modo como essas plataformas são projetadas: de sistemas que maximizam o tempo de tela e o engajamento, para ambientes que promovem escolhas conscientes e ações intencionais.
Para efetivar essa mudança, é necessário adotar um design centrado no usuário, que priorize a facilidade de uso e a realização de objetivos, minimizando as interrupções desnecessárias. Além disso, a personalização ética deve permitir que os usuários moldem suas experiências digitais de acordo com suas próprias metas e intenções, longe dos algoritmos predatórios de engajamento.
A transparência e o controle sobre a coleta e uso de dados pessoais são fundamentais para que os usuários possam tomar decisões informadas alinhadas com suas intenções. Ferramentas de gestão do tempo e recursos educacionais sobre os impactos da economia da atenção também são essenciais para capacitar os indivíduos a navegar conscientemente pelo ambiente digital.
Ao promover uma reavaliação coletiva dos valores que orientam o desenvolvimento tecnológico, vislumbramos um futuro digital mais ético e humano. Um futuro em que as plataformas digitais não sejam meras armadilhas de atenção, mas facilitadores de nossas intenções mais profundas.
A transformação necessária vai além da responsabilidade individual dos usuários em gerenciar sua atenção; requer uma mudança estrutural nas práticas e políticas das empresas de tecnologia. Somente através de um esforço conjunto entre desenvolvedores, reguladores e a sociedade civil poderemos reorientar o curso do nosso ecossistema digital em direção a um que valorize e respeite a intenção humana acima de tudo.
Como escreveu Williams: “Tornar novamente livre a atenção humana pode ser a luta moral e política definidora do nosso tempo. Vencer essa batalha é pré-requisito para o sucesso de praticamente todas as outras lutas “.
(*) Nazareno Fonteles é médico, professor de matemática e ex-deputado federal pelo PT/PI