Política

PROTESTO

Grupos de capoeira de Brasília se unem em protesto contra violência policial no RJ

Manifestação cultural e política na capital federal reforça o grito por direitos humanos e denuncia o racismo estrutural nas operações das periferias

Por Luiz Brandão

Sexta - 31/10/2025 às 22:30



Foto: Luiz Brandão Grupos de capoeira de Brasília participam de protesto contra violência policial
Grupos de capoeira de Brasília participam de protesto contra violência policial

Em um protesto carregado de simbolismo e resistência cultural, cinco grupos de capoeira de Brasília marcaram presença, na noite desta sexta-feira (31/10), em um ato contra a violência policial que chocou o Rio de Janeiro. A operação policial na última terça-feira (28/10) resultou na morte de 121 pessoas, em sua maioria negras, pobres e moradoras de favelas, reacendendo o debate sobre o genocídio da população preta e periférica no Brasil.

A manifestação, convocada por entidades de direitos humanos e movimentos antirracistas, incluindo a Coalizão Negra por Direitos, teve como palco a Esplanada dos Ministérios, em frente à Biblioteca Nacional de Brasília. No coração do poder político do país, os capoeiristas realizaram uma roda de capoeira angola ecumênica e um cortejo de berimbaus, transformando o protesto em um poderoso ato de denúncia por meio da cultura.

A força da cultura na luta política

A participação dos grupos de capoeira não foi um fato isolado. Conforme destacado na organização do evento, esses coletivos têm uma trajetória consistente de participação em manifestações artísticas, culturais e políticas progressistas em Brasília. Sua presença reforça a importância de artistas e entidades culturais na amplificação das vozes que clamam por justiça social e no enfrentamento ao racismo.

"Ver a capoeira, uma expressão cultural nascida da resistência negra, no centro do poder, é extremamente significativo. Ela carrega em seus golpes e cantos a memória da luta do povo preto, e hoje essa luta é contra a violência de Estado", afirmou o arquiteto Pedro Praia, um dos capoeiristas que participaram do protesto.

Os grupos que participaram do ato foram: Nzambi Capuêra Angola, Grupo Nzinga de Capoeira Angola, Balaio Escola Capoeira Angola, No Pé do Berimbau e Formigueiro de Angola.

Capoeira: a luta-dança da resistência

Para a manifestação é essencial conhecer a história da capoeira. Desenvolvida por africanos escravizados e seus descendentes no Brasil, entre os séculos XVI e XIX, a capoeira surgiu como uma forma de resistência física, cultural e espiritual. Sob o disfarce de uma dança, os praticantes treinavam golpes e defesas para enfrentar a opressão e para a defesa de quilombos.

Proibida por lei no Código Penal de 1890, a capoeira foi criminalizada até 1937, quando recebeu o primeiro registro oficial. A perseguição aos seus praticantes, os "capoeiras", era uma política de estado. Hoje, a capoeira é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO (desde 2014) e se tornou um dos maiores símbolos da cultura brasileira no mundo, sem nunca ter abandonado seu caráter de luta pela liberdade e igualdade.

Dados que alarmam

O protesto ocorre em um contexto de escalada da letalidade policial no Brasil. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as polícias brasileiras foram responsáveis por 6.457 mortes em 2023, uma média de 17,7 por dia. 

Essas operações, que se concentram majoritariamente em territórios periféricos, têm um recorte racial evidente: 83% das vítimas de intervenção policial são negras (pretas e pardas), conforme o mesmo relatório. Os números evidenciam a urgência do tema e justificam a mobilização de entidades e grupos culturais.

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