Em resposta à operação policial considerada a mais letal da história do país, que resultou em 121 mortos no Complexo da Penha e do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, protestos tomaram as ruas de algumas capitais brasileiras nesta sexta-feira (31/10). Convocados por entidades de direitos humanos e movimentos antirracistas, como a Coalizão Negra por Direitos, os atos denunciaram o que classificam como uma "política de morte" contra a população negra e periférica.
Os protestos, que ocorreram no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Vitória, Curitiba, Porto Alegre e Florianópolis, tiveram como foco cobrar investigações aprofundadas, a responsabilização dos envolvidos e mudanças estruturais na política de segurança pública.
Manifestação em frente à Biblioteca Nacional, em BrasíliaNo Rio de Janeiro
O protesto no Rio, batizado de "Chega de Massacre", foi o epicentro dos movimentos. Concentrando-se no Campo da Ordem, na Penha, mesmo sob chuva, o ato reuniu familiares das vítimas, moradores dos complexos da Penha e do Alemão, ativistas e políticos. Vestidos de branco e carregando velas, os participantes homenagearam os mortos.
Uma multidão a pé e uma carreata de kombis e motociclistas percorreram as ruas da região de forma pacífica, acompanhada por agentes da Polícia Militar. Com faixas e cartazes pedindo paz, os manifestantes entoaram o "Rap da Felicidade", um hino das favelas cariocas: "Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci".
Entre as lideranças políticas presentes estavam os deputados federais Pastor Henrique Vieira, Glauber Braga e Tarcísio Motta, e a vereadora Mônica Benício (viúva de Marielle Franco), todos do PSOL. O ato foi organizado por coletivos como Instituto Papo Reto, Raízes em Movimento, Voz das Comunidades e Frente Penha.

A voz em Brasília
Na capital federal, um protesto foi realizado em frente à Biblioteca Nacional de Brasília no início da noite. Representantes da Coalizão Negra por Direitos discursaram, denunciando a "necropolítica racista que transforma a morte da população negra em projeto de poder". Eles exigiram "investigação, responsabilização e o fim da política de morte que governa as favelas".
Grupos de capoeira se apresentam na manifestação contra violência policial em Brasília Maria das Neves Filha, do Conselho Nacional de Direitos Humanos, participou do ato e anunciou que o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), iria ao Rio de Janeiro para acompanhar a situação de perto, em nome do Judiciário federal. Os manifestantes também defenderam a PEC da Segurança Pública, enviada ao Congresso Nacional pelo governo Lula há meses.
Operação mais letal da história
A operação "Contenção", realizada na terça-feira (28/10) no Complexo da Penha e do Alemão, entrou para a história como a ação policial com o maior número de mortos em um único dia no Brasil, superando a operação no Jacarezinho em 2021, que teve 28 mortos.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ), as operações policiais no estado do Rio de Janeiro resultaram em mais de 1.400 mortes só em 2022, sendo a grande maioria de homens, negros e moradores de áreas periféricas. Esses números só aumentam e evidenciam o padrão racial e social da letalidade policial, pauta central dos protestos.

Fonte: Agência Brasil
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