
Após um longo período sem registrar grandes mobilizações, a esquerda brasileira voltou a ocupar as ruas neste domingo (21). Protestos contra a chamada PEC da Blindagem, apelidada por críticos de “PEC da Impunidade” ou "PEC da Bandidagem", e contra o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro reuniram dezenas de milhares de pessoas em várias capitais. O movimento marca um ponto de virada, já que, desde a ascensão de Jair Bolsonaro (PL), a direita vinha dominando os atos de rua.
Mobilizações em diferentes cidades
As manifestações ocorreram em todo o país. Em Belo Horizonte, a Praça Raul Soares recebeu cerca de 50 mil pessoas, segundo organizadores. Em Brasília, o deputado distrital Fábio Felix (PSOL) estimou a presença de 30 mil no Museu da República. Já em Salvador, a cantora Daniela Mercury puxou um trio elétrico que arrastou milhares de manifestantes desde as primeiras horas da manhã, acompanhada do ator Wagner Moura.
Na capital baiana, Moura foi direto: “Aqui a extrema direita não tem vez. Democracia se fortalece sem bandidagem, sem anistia”. Daniela Mercury e o rapper Baco Exu do Blues também ecoaram as críticas ao projeto em tramitação no Congresso.
Outros atos ganharam força em Belém, com a participação do ator Marco Nanini na Praça da República, e em São Paulo, onde a Avenida Paulista foi tomada por cartazes pedindo a prisão de Bolsonaro e o arquivamento da PEC da Blindagem.
Cultura e política de mãos dadas
Os protestos também tiveram forte presença cultural. No Rio de Janeiro, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque se apresentaram em Copacabana, enquanto em Brasília o rapper Djonga e o cantor Chico César estavam previstos para a tarde.
Faixas, cartazes e bonecos infláveis reforçaram o tom político: Bolsonaro foi representado com as mãos cobertas de sangue, em alusão à sua responsabilidade pelos atos golpistas, enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi alvo de críticas pelas novas tarifas impostas a produtos brasileiros.
Ato em Teresina
O protesto em Teresina, realizado na Praça Pedro II, reuniu centenas de pessoas em um ambiente marcado por palavras de ordem, bandeiras e música. Jovens tiveram presença expressiva, estimulados pela convocação de artistas que apoiaram manifestações em todo o Brasil.
Segundo os organizadores, a mobilização na capital piauiense teve um caráter histórico, sendo comparada a atos das Diretas Já. O movimento destacou a rejeição popular à PEC da Blindagem e ao projeto de anistia, apontados como ameaças à democracia.
Repercussão no Congresso
As mobilizações ocorrem em meio à tramitação das propostas no Legislativo. No Senado, o relator da PEC da Blindagem, Alessandro Vieira (MDB-SE), já antecipou que defenderá sua rejeição, classificando o texto como nocivo à democracia. O presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA), também se declarou contrário, chamando a medida de “retrocesso”.
Quanto ao projeto de anistia, o relator na Câmara, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), indicou que não proporá perdão irrestrito. A expectativa é que o texto limite-se a redução de penas, sem alcançar o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão e atualmente em regime domiciliar com tornozeleira eletrônica.
Fonte: Brasil 247