Lucélia Maria da Conceição, suspeita de ter envenenado os irmãos Ulisses e João Miguel em Parnaíba, pode ser inocente. Um novo laudo, obtido com exclusividade e divulgado pelo Fantástico nesse domingo (12), mostra que não havia terbufós nos cajus consumidos pelas crianças, onde a polícia acreditava estar o veneno. A substância tóxica é semelhante ao "chumbinho" e é utilizada como inseticida.
O resultado da perícia foi liberado na quinta-feira (9), um dia depois que o padrasto da mãe das crianças, Francisco de Assis Pereira da Costa, foi preso acusado de envenenar o arroz com feijão que a família dele consumiu no dia 1º de janeiro deste ano.
Agora, a investigação sobre a morte de João Miguel da Silva, de 7 anos, e Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, foi reaberta.
Lucélia sempre negou as acusações e chegou a ter a casa incendiada por moradores que acreditavam que ela era a responsável pela morte dos irmãos. A reviravolta no caso fez com que o Ministério Público pedisse a revogação da prisão da mulher.
Cajus não foram periciados
Os cajus consumidos pelos irmãos Ulisses e João Miguel não foram periciados. Na verdade, a perícia feita pelo Laboratório de toxicologia forense do Instituto Médico Legal (IML) e divulgada em 15 de outubro de 2024 não havia analisado os cajus consumidos pelas crianças.
A substância tóxica chamada terbufós não foi encontrada nas frutas e sim em amostras coletadas no estômago de João Miguel da Silva. Na época, a perícia comprovou o veneno encontrado na casa da suspeita foi o mesmo que causou a morte das crianças.
Padrasto teria envenenado a família
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, padrasto da mãe de Ulisses e João Miguel, foi preso na manhã de quarta-feira (8), suspeito de envenenar a família.
O caso aconteceu no dia 1º janeiro. Nove pessoas da mesma família passaram mal e foram encaminhadas a hospitais após comerem arroz com feijão envenenado com terbufós, uma substância tóxica semelhante ao "chumbinho" e utilizada como inseticida.
O alimento envenenado foi preparado para a ceia de Ano Novo da família, no dia 31 de dezembro. O alimento foi consumido novamente pela família no almoço do dia 1 º de janeiro.
Em seu depoimento, ele expressou aversão aos enteados, com quem ele não falava, em especial à Francisca Maria da Silva, de 33 anos, quarta vítima fatal do envenenamento.
"Ele não falava com nenhum dos enteados, e tinha um sentimento de ódio específico em relação à dona Francisca, mãe das crianças. Esse sentimento de ódio que ele tinha em relação a ela era tão grande, que mesmo com ela no leito da morte, ele não conseguia esconder isso", disse o delegado Abimael Silva, da Polícia Civil do Piauí.
O delegado Abimael Silva destacou que o suspeito chamou os filhos de Francisca de "primatas, que viviam como a tribo de índios, pessoas não higiênicas, pessoas que ele não queria conviver, mas suportava".
"Ele disse que ela [Francisca, mãe das crianças] era uma criatura quietamente boba, tola, matuta, morta de preguiça, 'não serve para nada, praticamente quase inútil, que passa o dia todo escutando músicas de apologia, músicas de mala'. Chegou a falar pra mãe dela: 'Essa tua filha não procura um homem que trabalhe, só procura vagabundo'", detalhou o delegado.
"Ele disse que ela era uma criatura de mente vazia, e disse que quando olhava pra Francisca ele sentia nojo e raiva dela", afirmou.
O suspeito nega ter cometido o crime e disse que "Deus vai mostrar o culpado".
Saiba quem ingeriu o arroz envenenado:
- Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos (padrasto de Manoel e Francisca e principal suspeito) - recebeu alta;
- Menina de quatro anos (filha de Francisca Maria e irmã de Lauane e Igno Davi) - continua internada em estado grave no Hospital de Urgência de Teresina (HUT);
- Adolescente de 17 anos (irmã de Manoel) - recebeu alta;
- Maria Jocilene da Silva, de 32 anos (vizinha) - recebeu alta;
- Menino de 11 anos (filho de Maria Jocilene) - recebeu alta;
- Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (enteado de Francisco de Assis) - morreu;
- Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (filho de Francisca Maria) - morreu;
- Lauane da Silva, de 3 anos (filha de Francisca Maria e irmã de Igno Davi) - morreu;
- Francisca Maria da Silva, de 32 anos (mãe de Lauane e Igno Davi e irmã de Manoel) - morreu.