Municípios

Sádia Castro vistoria parque solar e confirma que impacto ambiental foi grande

Empresa responsável pelo parque solar já iniciou ações emergenciais para evitar novos danos em São Gonçalo do Gurgueia, segundo SEMAR

Valciãn Calixto

Segunda - 09/03/2020 às 18:03



Foto: Divulgação Secretária de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Sádia Castro, em entrevista ao Piauihoje.com
Secretária de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Sádia Castro, em entrevista ao Piauihoje.com

A secretária de estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Sádia Castro, acompanhada de uma equipe de engenheiros e auditores ambientais da SEMAR, visitou o município de São Gonçalo do Gurgueia, distante 798 quilômetros ao Sul de Teresina, na última semana para vistoriar os danos ambientais causados a partir do extravasamento das águas acumuladas pelas bacias de contenção do parque solar construído no município pela companhia italiana Enel Green Power.

O Piauihoje.com entrevistou a gestora nesta segunda-feira (09) para obter informações atualizadas sobre o caso. De acordo com Sádia, não houve nenhum rompimento na estrutura das bacias e sim o extravasamento. O acumulado de chuva no município foi grande o suficiente para esse transbordamento, fazendo com que a água das chuvas corresse da serra Santa Marta, onde a usina está instalada, em direção à nascentes de riachos de pelo menos quatro localidades, entre as quais os povoados Buritizinho, Buriti do Meio, Riacho dos Macacos e Riacho da Lapa. A força da água era tamanha que foi capaz de arrastar vegetações, destruir roças, assorear riachos de onde os munícipes tiravam água para consumo próprio, para alimentar animais e irrigar suas plantações.

A secretária frisou a realização de duas reuniões com representantes da Enel, Corpo de Bombeiros, Secretaria da Assistência Social e Cidadania (SASC), prefeitura e moradores de São Gonçalo do Gurgueia na última sexta-feira (06). Os encontros possibilitaram a assinatura de acordos para que a Enel comece ações emergenciais como a construção de poços artesianos nas comunidades afetadas, inicie o alargamento das bacias de contenção, além da construção de novas bacias para deter e prevenir novas chuvas. 


A seguir a entrevista com Sádia Castro (SEMAR)


PIHJ - Após ter enviado duas equipes ao município e a secretária ter ido pessoalmente vistoriar os impactos causados aos moradores de São Gonçalo com o extravasamento das águas, o que de fato aconteceu no parque solar?

SC - O que aconteceu no parque solar foi um extravasamento de águas das bacias, na verdade, não houve rompimento como foi noticiado, as bacias transbordaram e quando a bacia transborda algumas canaletas se romperam, pois receberam muita pressão da água.

PIHJ - Quais foram os povoados afetados?

SC - Visitamos e conversamos com as comunidades de todos os locais afetados. São basicamente quatro: Buritizinho, Buriti do Meio, Riacho dos Macacos e Riacho da Lapa. Já se tem catalogado mais de 20 famílias atingidas, mas o total ainda está sendo apurado, o pessoal da SASC ainda está trabalhando por lá. É um impacto ambiental muito forte, principalmente no meio ambiente, ou seja, na vegetação, nos riachos. Nós fizemos uma audiência com a Enel, o Governo do Estado, através da SEMAR e mais a comunidade. O relatório da SEMAR não ficou pronto ainda, pois é um relatório técnico, detalhado, leva tempo para ser construído.


PIHJ - O que a SEMAR pôde perceber dos impactos mais imediatos?

SC - Foram impactados os riachos, a vegetação e as roças. As casas das pessoas não chegaram a ser afetadas até porque ficam distante. Os riachos das comunidades que falei foram assoreados, o principal problema foi o assoreamento que veio trazendo areia, alguma vegetação foi arrastada, levada pelas águas, isso aumenta e compromete a potência do assoreamento.

Nós fizemos duas reuniões, na primeira ficou estabelecido, escrito e assinado quais seriam as ações imediatas, emergenciais e quais seriam as ações de médio e longo prazo, pois estamos falando de Meio Ambiente natural, onde existem situações que não dá para se enfrentar do dia para a noite, precisa de tempo.

Emergencialmente, eles já começaram a fazer, por isso que nós fomos, pois algumas medidas precisariam ser autorizadas pela SEMAR, serão construídos poços artesianos. Ficou acordado a abertura dos poços, porque as famílias estavam sendo alimentadas de águas por distribuição, ou por carro-pipa ou por galões de água.

PIHJ - Antes da distribuição de água dessa forma, como os moradores tinham acesso a água para consumo?

SC - Eles bebiam água dos riachos, esse é o problema, porque o impacto foi nos riachos de onde eles retiravam água para beber, para agricultura, para os animais. Por que está havendo distribuição de água? Porque os riachos deles foram impactados. Eles estavam recebendo água, só que a gente acha melhor abrir os poços para perenizar o fornecimento de água, não ficar aquela dependência do fornecimento.

As demais medidas emergenciais são o alargamento das bacias e a ampliação do número de bacias. Nós saímos de lá e elas já estavam sendo alargadas e vão construir novas bacias para que possam conter a água, que ficará lá em cima como deveria ser feito. Essa água será absorvida e volta a alimentar o curso dos rios. 

Nós também sugerimos uma maior proximidade da Enel com as comunidades, sugerimos programação de visitas guiadas no parque eólico, nas escolas, com professores, para as pessoas da comunidade que se interessarem e ainda outras medidas mais a longo prazo de desassoreamento de rio. Todas as medidas foram afirmadas e assinadas por todos nós. Dia 21 haverá uma nova reunião e a SEMAR se fará presente para acompanhar a evolução dos danos.


PIHJ - Inicialmente a empresa será multada?

SC - A empresa vai sofrer sanções, eu não posso lhe dizer em quanto, nem de que maneira e nem como porque isso depende do relatório técnico, mas certamente que sim.

PIHJ - Obras públicas da prefeitura de São Gonçalo do Gurgueia chegaram a ser danificadas com o extravasamento das águas?

SC - Pontes não, o que aconteceu é que foram afetadas passagens molhadas por causa do assoreamento, era muita terra, muita areia que estava sendo arrastada.

PIHJ - Há possibilidade de o parque desabar, de ser arrastado com novas chuvas?

SC - Não existe a menor possibilidade, de jeito nenhum, é muito grande e distante. Para isso acontecer só com um terremoto porque o parque está muito distante da borda da chapada e está muito bem estruturado, o problema foram as bacias.

Nesse momento, Adriana Sá, diretora de Fiscalização e Licenciamento da pasta, tomou parte na fala e apresentou esclarecimentos.

AS - Lá não tem rejeitos, lá se fala em água que foi canalizada da chuva dentro do parque, que tem as bacias para receber essa água, então como houve um índice pluviométrico muito grande esses dias, houve o enchimento dessas bacias e houve, de certa forma, o extravasamento dessa água. Então não existe nenhuma possibilidade[de desabamento ou de o parque ser arrastado com as chuvas], inclusive, o Corpo de Bombeiros estava lá, passou vários dias lá olhando junto com a equipe da SEMAR vários pontos. Não existe essa possibilidade, o que foi confirmado é que rapidamente eles [Enel] irão agir para aumentar as bacias [de contenção] para que quando a chuva viesse, não houvesse mais esse risco, isso eles já estão fazendo, já autorizamos eles a ampliarem as bacias, pois podem vir novas chuvas. De imediato, também [farão] a construção dos poços, que já foi autorizada para garantir água a essas comunidades atingidas pelo assoreamento dos riachos.

PIHJ - As famílias atingidas serão ressarcidas pela Enel?

SC - Eles [Enel] estão fazendo um cadastro das famílias, trabalho que já foi iniciado juntamente com as equipes da SASC e Corpo de Bombeiros para fazer esse atendimento.

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