Foto: Piauihoje.com
Árvores arrancadas com a força das águas que romperam bacias de contenção em parque solar
O diretor de Gestão de Projetos da Enel Green Power no Brasil, Tommaso Quadrini, explicou nesta quarta-feira (04) que aempresa está adotando todas as medidas para diminuir os impactos do desastre ambiental ocasionado pelo rompimento de bacias de contenção do Parque Solar de São Gonçalo do Gurguéia, município situado a 798 quilômetros de Teresina, no Sul do Piauí.
Em entrevista ao portal Piauí Hoje.Com, o diretor da companhia responsável pela construção e manutenção do parque solar falou sobre os três recentes rompimentos das bacias de contenção construídas em torno do parque.
Os desastres causaram, segundo moradores da região, prejuízos ambientais como assoreamento do Rio Gurgueia, destruição de pontes, estradas, devastação de plantações e morte de animais.
De acordo com dados da Enel, 21 famílias foram prejudicadas com o rompimento das bacias de contenção, em especial, nas localidades Buritizinho e Macacos. Tommaso afirma que todas estão recebendo a assistência devida bem como fornecimento de água potável e cestas-básicas.
Ele informou que a companhia precisou realocar uma família provisoriamente como medida de prevenção e que está em negociação com outra família que pode ter suas terras atingidas pelas águas que escoam do alto da Serra Santa Marta, onde o parque está sendo instalado.
O diretor da Enel garantiu que mantém pelo menos quatro canais de diálogo com a comunidade de São Gonçalo do Gurgueia e que recentemente o secretário municipal de Meio Ambiente, Edilberto Nobre, realizou vistoria nas instalações da usina fotovoltaica.
A empresa afirma também que encomendou um levantamento técnico para apurar os impactos ambientais.
Repercussão
Esta semana, o caso repercutiu na Assembleia Legislativa do Piauí, onde a deputada estadual Teresa Britto (PV), com apoio dos parlamentares Ziza Carvalho (PT) e Henrique Pires (MDB) solicitaram audiência pública para debater os estragos no município afetado.
A seguir a entrevista na íntegra.
01 - Quais comunidades e quantas famílias foram atingidas com o rompimento da estrutura de contenção em torno do parque solar em São Gonçalo do Gurgueia?
Desde que tomamos conhecimento dos possíveis impactos causados pelas chuvas no entorno do parque solar, temos atuado incansavelmente para identificar todas as pessoas, animais e áreas afetadas. Nossas equipes, que já atuavam no relacionamento com as comunidades locais desde o início do empreendimento, em 2018, estão dedicadas a ouvir os moradores, para identificar as famílias possivelmente atingidas direta ou indiretamente e mantê-las informadas sobre as ações que estamos adotando. Atualmente, há 21 famílias identificadas, principalmente nas comunidades de Buritizinho e Macacos. Todas estão recebendo a assistência necessária. A empresa também assegurou o fornecimento de água potável, distribuição de cestas-básicas às famílias.
02 - A partir do rompimento, a Enel fez um levantamento dos danos ambientais e dos prejuízos que as comunidades estão tendo? Reconhecem a morte de animais, de plantações, poluição, assoreamento e represamento do Rio Gurgueia?
Estamos fazendo um levantamento detalhado das informações sobre os impactos das chuvas e adotando ações, tanto emergenciais quanto estruturais, para conter e mitigar os impactos. O levantamento de informações inclui a coleta de dados técnicos, que vão nos ajudar a avaliar as questões ambientais, e, principalmente, o diálogo com os moradores, para identificarmos prejuízos, que, quando comprovados, estão sendo devidamente reparados.
Segundo monitoramento realizado junto às famílias, identificamos a morte de dois animais, um no ano passado e um este ano. Neste momento, temos um médico veterinário mobilizado exclusivamente para a busca ativa de novos casos e atendimento imediato dos animais, se necessário. A empresa definiu esta semana ações de assistência adicionais de implementação imediata para diminuir os impactos ao orçamento das famílias, além de garantir a saúde e o bem-estar das pessoas. Entre as medidas, vamos iniciar a distribuição de cestas-básicas para estas famílias.
Uma consultoria especializada está realizando um estudo para mapear as áreas atingidas pelas frequentes chuvas na região, melhorar o acesso à água nas comunidades afetadas e avaliar o impacto de chuvas futuras. Essa análise será utilizada para definir as medidas adicionais para a contenção de sedimentos, externos às obras do parque, e de recuperação.
É importante ressaltar não há atualmente nenhum elemento que aponte impactos no Rio Gurgueia causados pelas obras do parque solar. Os estudos que serão realizados pela empresa especializada que contratamos vão contemplar também o Rio Gurgueia. Sabemos que o assoreamento do Rio Gurgueia é um fenômeno histórico, anterior à instalação do parque solar, e os estudos técnicos serão importantes para esclarecer este ponto.
Tommaso Quadrini, governador Wellington Dias, Roberta Bonomi e José Nunes Almeida Neto
03 - Como a Enel trabalha para sanar os prejuízos dos munícipes? Com relação ao meio ambiente, qual política de compensação será adotada?
Estamos trabalhando para identificar os prejuízos e ressarcir os moradores que tiveram alguma perda material, bem como adotar todas as medidas necessárias para mitigar os impactos ambientais. Uma vez identificada a área impactada, serão avaliadas quais medidas poderão ser tomadas sob o ponto de vista ambiental. Essas ações serão propostas, avaliadas, aprovadas e terão sua implementação fiscalizada pelo órgão ambiental estadual, responsável pela fiscalização do empreendimento.
04 - O secretário municipal de São Gonçalo do Gurgueia afirmou (e temos áudio) que a empresa o proibiu de visitar/vistoriar o parque? Por que isso aconteceu?
A postura da Enel Green Power sempre foi e continuará sendo de abertura e diálogo com as autoridades municipais e estaduais. As visitas às obras do parque são realizadas com uma comunicação prévia para que haja acompanhamento de algum responsável pelas obras, por medidas de segurança. O Secretário Municipal de Meio Ambiente de São Gonçalo do Gurgueia visitou o parque solar no dia 20 de fevereiro para vistoriar o sistema de drenagem do parque e esclarecer dúvidas sobre o empreendimento.
05 - Quantos empregos a construção do parque solar gerou diretamente para os piauienses no município?
As obras do parque solar São Gonçalo geraram até o momento cerca de mil empregos locais diretos (57% das 1.783 vagas criadas pelo projeto). Essas vagas de emprego locais beneficiaram diretamente moradores dos municípios próximos à obra, como São Gonçalo do Gurgueia.
06 - Os terceirizados fizeram paralisação no início deste ano. Não foi a primeira, por que os vencimentos têm atrasado e por quê há dificuldade em pagar promoções por metas atingidas e horas extras?
O tema foi acompanhado de perto pela Enel Green Power com a empresa parceira, que é a responsável pela contratação dos colaboradores, e as reivindicações dos trabalhadores foram atendidas.
07 - Que tipo de estrutura foi levantada para a contenção das águas ainda em 2019 e o quê, de fato, ocasionou o rompimento? Aqui pedimos que o técnico ao responder seja o mais didático possível.
Em 2019, identificamos as primeiras movimentações de sedimentos no entorno do parque e iniciamos imediatamente ações de monitoramento. No caso do Buritizinho, adotamos medidas emergenciais para recuperar a nascente do riacho, que vinham apresentando resultados. Entre as ações, construímos algumas estruturas para evitar a chegada de sedimentos sem impedir a passagem de água. Estas estruturas não resistiram ao volume atípico de chuvas em fevereiro. No ultimo sábado, em apenas 40 minutos, choveu o equivalente a 10 dias em relação à média histórica de chuvas para o mês de fevereiro na região. Além das ações de mitigação dos impactos desta chuva, a empresa está avaliando outras alternativas técnicas para o reforço das estruturas de contenção e contratou uma empresa especializada para realizar estudos adicionais com ações de curto, médio e longo prazo.
08 - O Piauí tem recebido volume de água acima da média com as últimas chuvas. Novos pontos da estrutura de contenção do parque podem se romper no futuro? Quais os riscos?
Estamos avaliando os impactos na estrutura de contenção no entorno do parque e providenciando as medidas necessárias. Com relação às ações preventivas para o futuro, vamos acompanhar os estudos da empresa especializada que nós contratamos, para definir a melhor solução técnica. Estamos dedicando todos os esforços para assegurar o menor impacto possível neste momento e, com base nos estudos em andamento, atuar para evitar possíveis impactos de chuvas no futuro.
09 - Em várias notas de esclarecimento enviadas ao Piauihoje.com, a assessoria ressalta que a Companhia mantém uma equipe em contato com os moradores, porém as vítimas que nos procuraram relataram que nenhum representante da Enel comparece às reuniões realizadas por eles para tratar sobre o caso.
Sempre estivemos abertos ao diálogo com as comunidades e por isso temos quatro ferramentas: a Comissão de Acompanhamento do Empreendimento (CAE), uma Ouvidoria Móvel, uma assistente social em campo para um diálogo contínuo com as famílias e um telefone permanente de contato (0800 2853455).
As reuniões da CAE ocorriam periodicamente, e, a partir de março, será realizada uma vez por mês. Essa é uma oportunidade para que qualquer morador converse com a empresa e autoridades locais sobre os temas relacionados à construção do parque.
A partir desta semana, também faremos uma reunião quinzenal diretamente com as famílias envolvidas para tratar especificamente deste tema e assegurar que haja um acompanhamento periódico presencial para os moradores compartilharem suas dúvidas e reivindicações.
A Ouvidoria móvel percorre periodicamente as comunidades no entorno do parque solar em um veículo identificado como Enel.
10 - Como está a situação no momento, as águas continuam descendo da Serra em direção às propriedades dos moradores? Há alguma previsão para que o rompimento seja mitigado totalmente?
Estamos trabalhando desde o último domingo (1/3) para analisar os impactos da forte chuva que atingiu a região do parque Solar São Gonçalo na manhã de sábado (29/02). O volume de chuva registrado no sábado em apenas 40 minutos equivale a 10 dias de chuva em relação à média histórica de chuvas para o mês de fevereiro. Cerca de 80 técnicos, com 50 máquinas (como tratores, caminhões e retroescavadeiras), têm trabalhado dentro e fora do parque para conter os efeitos das chuvas.
11 - Há risco de, com as próximas chuvas, a água invadir as casas dos moradores? Soubemos que pelo menos uma residência enfrenta esse risco.
Há uma casa em que, por medida de prevenção, a empresa negociou com a família a realocação provisória dos moradores. Uma segunda família está em processo de realocação provisória. O risco está restrito a estes casos, mas, nessa época de fortes chuvas, a empresa está realizando um monitoramento diário e, caso sejam detectadas situações de necessidade, irá propor aos moradores medidas similares em caráter preventivo. A empresa está adotando todas as medidas para minimizar ao máximo os transtornos às famílias, além de indenizá-las pelos impactos.
12 - Segunda-feira (02), a SEMAR terá um relatório técnico finalizado, feito a partir de uma vistoria na região. Com isso, a Secretaria pode tomar medidas como notificações, multas e recomendações, pois "o impacto ambiental foi grande", segundo palavras da Secretária Sádia Castro. A empresa nega que houve desastre ambiental? E como a Enel vai se posicionar quando for acionada pelo Governo?
Temos mantido contato permanente com as autoridades e técnicos da SEMAR desde que identificamos as primeiras movimentações de sedimentos na região do entorno do parque. As ações adotadas pela empresa foram oficialmente protocoladas no órgão e seguiremos esclarecendo os fatos junto à Secretaria, além de adotar as medidas determinadas pelas autoridades.
13 - Quais outros municípios piauienses recebem investimentos da Enel? Quais são os empreendimentos?
Além da construção do parque solar São Gonçalo, a empresa está construindo no Piauí o parque eólico Lagoa dos Ventos localizado nos municípios de Lagoa do Barro do Piauí, Queimada Nova e Dom Inocêncio. No total, a companhia gera cerca de 2,3 mil empregos diretos nos municípios no entorno dos dois empreendimentos no Estado, além de inúmeros empregos indiretos com aumento da circulação de renda e significativo desenvolvimento socioeconômico na região.
CONFIRA SÉRIE DE REPORTAGENS SOBRE O CASO
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