
Com a morte do Papa Francisco, anunciada pelo Vaticano nesta segunda-feira (21), os católicos do mundo inteiro já começam a pensar em quem poderá ser o próximo líder da Igreja.
Como muitos dos cardeais foram escolhidos pelo próprio Francisco, há uma expectativa de que o novo papa também venha de fora da Europa e siga ideias parecidas com as dele — mais abertas e modernas, ao contrário da ala conservadora da Igreja.
Mas nada será conhecido até o fim do processo secreto de escolha. Só quando a fumaça branca sair da chaminé da Capela Sistina, será sinal de que um novo papa foi eleito.
Os cardeais são os principais conselheiros do papa. Eles comandam áreas importantes do Vaticano e dioceses em vários países. Quando um papa morre ou decide deixar o cargo, todos os cardeais com menos de 80 anos se reúnem em Roma para participar do conclave, uma votação secreta que escolhe o novo líder da Igreja Católica, que tem cerca de 1,4 bilhão de fiéis.
Essa votação mostrará se os cardeais — a maioria escolhida por Francisco — acham que ele avançou demais nas reformas e ideias sociais, e se acham que a Igreja deve agora adotar uma postura mais moderada.
Os cardeais vão marcar a data do início do conclave assim que todos chegarem a Roma nos próximos dias.
Somente um papa pode nomear cardeais, que são figuras importantes e têm muita influência na Igreja, mesmo depois que o papa que os escolheu já não está mais no cargo. Um deles pode inclusive ser eleito como próximo papa.
No dia 21 de abril, havia 252 cardeais no total. Desses, 135 tinham menos de 80 anos e, por isso, podem votar. Entre eles, 109 foram nomeados por Francisco, 22 por Bento XVI e 5 por João Paulo II.
Os cardeais são oficialmente nomeados em cerimônias chamadas consistórios. Nelas, eles recebem um anel, um chapéu vermelho chamado barrete, e fazem um juramento de lealdade ao papa, prometendo até dar a vida, se necessário — simbolizado pela cor vermelha.
Francisco fez 10 consistórios e, com isso, aumentou a chance de que o próximo papa também seja de fora da Europa. Ele fortaleceu a presença da Igreja em regiões onde os católicos são minoria ou onde ela está crescendo rapidamente — diferente da Europa e do Ocidente, onde a Igreja tem perdido força.
Durante muitos séculos, a maioria dos cardeais era italiana, com exceção do tempo em que o papa morava em Avignon (entre 1309 e 1377), quando a maioria era francesa. A mudança começou de verdade com o Papa Paulo VI (1963-1978) e se acelerou com João Paulo II (1978-2005), que foi o primeiro papa não italiano em 455 anos.
Hoje, a Europa ainda tem a maior parte dos cardeais eleitores, com 39%. Mas esse número era de 52% em 2013, quando Francisco se tornou o primeiro papa da América Latina. O segundo maior grupo atual vem da Ásia e da Oceania, com 20%.
Um colégio mais diverso
Francisco escolheu mais de 20 cardeais de países que nunca tinham tido um representante nesse cargo — na maioria, países em desenvolvimento como Ruanda, Cabo Verde, Tonga, Mianmar, Mongólia e Sudão do Sul, ou países com poucos católicos, como a Suécia.
Ele também deixou de nomear cardeais para algumas grandes cidades da Europa, como forma de mostrar que a Igreja não deve ser centrada só na Europa.
Nos Estados Unidos, por exemplo, ele não escolheu cardeais em dioceses como Los Angeles e São Francisco, talvez por terem arcebispos mais conservadores.
Por outro lado, nomeou Robert McElroy, arcebispo de Washington desde março, que tem ideias parecidas com as de Francisco — como a proteção do meio ambiente e mais acolhimento aos católicos LGBTQ.
Quanto mais cardeais um papa escolhe durante seu governo, maior a chance de que seu sucessor tenha ideias parecidas com as dele.
Mas isso nem sempre acontece. Às vezes, os cardeais elegem alguém com pensamento diferente, de acordo com a situação da Igreja no momento.
O Papa Bento XVI, por exemplo, foi eleito depois da morte de João Paulo II, em parte porque trabalhou com ele por muitos anos, e os cardeais queriam continuidade.
Mas, após os escândalos do “Vatileaks”, que mostraram problemas sérios no funcionamento interno do Vaticano, muitos cardeais acharam que era hora de escolher alguém de fora da cúpula tradicional. Por isso, em 2013, escolheram o argentino Jorge Mario Bergoglio — o primeiro papa de fora da Europa em quase 13 séculos.
Mesmo os cardeais com mais de 80 anos, que não votam no conclave, podem influenciar a escolha. Eles participam das chamadas Congregações Gerais, encontros que acontecem antes do conclave e onde se discute o tipo de pessoa que deve ser o novo papa.
Fonte: Brasil 247