
A jornalista Leonor Costa, moradora de Brasília, compartilhou orgulhosa a história da adoção de sua filha Safyra, de 6 anos. Safyra foi adotada em 2023, após passar por dois abrigos e uma “família acolhedora”, que é um lar temporário oferecido até que a criança seja adotada definitivamente. Antes de encontrar sua família atual, Safyra passou por um momento muito delicado: foi rejeitada por uma outra pretendente à adoção, que desistiu do processo depois de um mês de aproximação.
“A Safyra já estava chamando essa mulher de mãe”, relembra Leonor. Depois da desistência, a menina voltou à família acolhedora, mas estava prestes a perder o direito de ficar lá e poderia ser enviada de volta a um abrigo, o que seria extremamente traumático. Foi nesse período que Leonor recebeu uma ligação da Vara da Infância informando sobre Safyra, que correspondia ao perfil de adoção que ela havia registrado em 2017.
Apesar de ter engravidado em 2018, Leonor manteve seu nome na fila de adoção e decidiu dar continuidade ao processo quando soube de Safyra. Hoje, após um ano juntas, Safyra já é oficialmente filha dela e bem adaptada à nova família, chamando a outra filha de Leonor de irmã.
Safyra é neurodivergente, e a família está investigando se ela apresenta autismo, deficiência intelectual ou TDAH. Leonor entende que a mãe anterior desistiu porque não se sentiu capaz de lidar com as necessidades da menina.
Desistências em processos de adoção
Casos como o de Safyra não são raros. Segundo um estudo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre 2019 e 2023, cerca de 8% das adoções em guarda provisória foram desfeitas, o que equivale a 1.666 crianças. Entre os motivos para essas desistências estão dificuldades para lidar com comportamentos, diagnósticos de deficiência mental, necessidade de medicamentos contínuos ou características do perfil da criança, como idade e cor da pele.
Por exemplo, crianças com mais de 5 anos, que representam 22,7% dos adotados, são 54,1% dos casos de devolução. O mesmo acontece com crianças neurodivergentes ou que precisam de medicação regular.
O impacto emocional
A devolução de uma criança durante ou após o processo de adoção pode causar traumas profundos. Alessandra, que foi adotada pela secretária aposentada Débora Teixeira aos 6 anos, viveu essa experiência. Antes de encontrar sua família definitiva, foi rejeitada por uma mãe adotiva e sofreu com o medo constante de ser abandonada novamente, mesmo depois de anos com sua nova família.
Débora conta que, apesar de todo apoio psicológico, Alessandra ainda luta com as marcas desse abandono. Mesmo assim, ela reafirma o amor pelas filhas adotivas, enfatizando que elas foram tão desejadas quanto uma gravidez biológica.
Soluções e recomendações
O estudo do CNJ sugere mudanças no processo de adoção para reduzir os casos de desistência. Isso inclui uma avaliação mais padronizada dos pretendentes, com critérios claros para identificar se estão preparados para enfrentar os desafios da adoção. Além disso, o CNJ recomenda suporte psicológico para crianças e adolescentes que passam por devoluções, ajudando-os a lidar com o trauma e reconstruir a autoestima.
Leonor, mãe de Safyra, reforça que adotar não deve ser idealizado. “As pessoas precisam entender que é desafiador e exige muito preparo”, alerta. Segundo os especialistas, a adoção é um processo que precisa ser tratado com seriedade, visando sempre o bem-estar das crianças e adolescentes.
Fonte: Agência Brasil