No Piauí, um movimento silencioso, mas preocupante, está tomando forma: cresce o número de crianças enfrentando problemas de comunicação, especialmente atrasos e ausência de fala. Dados de profissionais e relatos das clínicas apontam que essa é a principal queixa dos pais que buscam atendimento especializado. O problema impacta diretamente a interação social, o aprendizado e a qualidade de vida dessas crianças.
"Temos visto um aumento significativo na atenção dos pais a questões relacionadas à fala. Há casos de demora para buscar ajuda precoce, muitas vezes incentivados por pediatras, que orientam esperar até os dois anos de idade, o que não é ideal", explica a fonoaudióloga Mayanna Magalhães.
Ela é uma das pioneiras do Piauí a utilizar o Método Padovan, técnica criada pela brasileira Beatriz Padovan, que realiza uma "reorganização neurofuncional", foca no desenvolvimento motor e oral para estimular as funções de andar, falar e pensar.
Segundo Mayanna, problemas como dificuldade de mastigação e respiração inadequada estão diretamente relacionados a atrasos na fala. "Uma criança que não mastiga ou deglute bem terá dificuldade em pronunciar palavras. Trabalhamos para corrigir essas funções e facilitar a comunicação", detalha.
A importância do tratamento precoce
De acordo com os especialistas, a intervenção iniciada o mais cedo possível é essencial para reduzir o tempo de tratamento e melhorar os resultados. "Pais atentos, que buscam ajuda assim que notam os primeiros sinais, como a ausência de palavras simples aos 12 meses, fazem toda a diferença no sucesso do tratamento", afirma Mayanna.
Muitos pais ainda esbarram na desinformação e em dificuldades para acessar atendimento especializado, especialmente na rede pública. Enquanto a demanda por serviços de fonoaudiologia cresce, o sistema público de saúde no Piauí e em outras regiões do país sofre com a falta de investimentos, estrutura inadequada e baixa remuneração dos profissionais. Com salários em torno de R$ 2.500 para jornadas de 40 horas semanais, os concursos para a área têm cada vez menos interessados.
"Muitos fonoaudiólogos entram no serviço público por falta de outras oportunidades, mas poucos conseguem se manter. É um ambiente que desestimula e dificulta a atuação de qualidade", critica Mayanna. Ela ressalta que investimentos em equipamentos, condições de trabalho e valorização profissional são urgentes, especialmente diante do aumento de casos de problemas de fala, que podem impactar toda uma geração no aprendizado e na socialização.
Orgulho nacional
Apesar dos desafios, Mayanna destaca o orgulho de utilizar o Método Padovan, uma criação brasileira que ganha destaque internacional. "Enquanto muitos buscam métodos de fora, temos aqui algo inovador e eficaz, que já ajudou muitas pessoas. Beatriz Padovan deixou um legado extraordinário, e aplicá-lo é, para mim, uma honra."
Com a crescente conscientização sobre a importância da intervenção precoce, especialistas esperam que o tema ganhe mais atenção do poder público. Afinal, o silêncio que hoje marca o atraso de fala em muitas crianças pode ser rompido por iniciativas que conectem profissionais, famílias e políticas públicas.
Confira a entrevista com Mayanna Magalhães: