O Brasil enfrenta um cenário alarmante quando se trata de violência doméstica, e uma pesquisa revela dados assustadores sobre a situação das mulheres no país. Segundo a pesquisa "Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio", realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com a Consulting do Brasil, 21% das mulheres já foram ameaçadas de morte por parceiros atuais ou ex-parceiros românticos, e 60% das entrevistadas conhecem mulheres que passaram por essa situação. As mulheres negras (pretas e pardas) são mais impactadas por essas ameaças, segundo o estudo.
A pesquisa também revela que, após as ameaças de morte, seis em cada dez mulheres decidiram romper o vínculo com o agressor, sendo essa decisão mais comum entre as mulheres negras. Embora 44% das vítimas tenham relatado muito medo, apenas 30% registraram queixa na polícia e 17% pediram medida protetiva, uma ferramenta legal que pode afastar o agressor e impedir o contato com a vítima. Essa realidade se alinha com que duas em cada três mulheres acreditam que os agressores de mulheres permanecem impunes, e apenas 20% acham que esses agressores são efetivamente punidos.
A pesquisa também revela que, para a maioria das brasileiras (60%), o aumento dos casos de feminicídio está relacionado ao sentimento de que os agressores não enfrentam consequências pelos crimes que cometem. Além disso, 80% das mulheres percebem que a rede de apoio e serviços destinados às vítimas de violência não dá conta da demanda, e 80% também acreditam que a Justiça e as autoridades policiais não tratam as ameaças e denúncias com a seriedade necessária.
Um aspecto preocupante é como muitas vítimas de violência doméstica não percebem o risco real que correm, com 42% das mulheres ameaçadas dizendo acreditar que os agressores não vão realmente colocar a ameaça em prática. Isso reflete o que a pesquisa aponta sobre o ciclo de violência em muitos relacionamentos, onde a vítima é frequentemente convencida a perdoar o agressor, apesar dos episódios repetidos de abuso.
O Caso de Zilma Dias: O Duplo Trauma da Violência Doméstica
O relato de Zilma Dias, diarista e tia de Camila, uma jovem assassinada em 2011 pelo ex-companheiro, ilustra o duplo trauma que essas mulheres enfrentam. Camila, que tentava romper com o agressor, foi morta com 12 facadas, diante de sua filha. A história de Zilma também revela como a violência psicológica e patrimonial imposta por seu parceiro a fez viver um verdadeiro cárcere privado, onde ela se via impossibilitada de buscar ajuda, até que finalmente conseguiu se libertar. Tragicamente, a violência não acabou ali: o ex-companheiro de Zilma continuou sua trajetória de abuso, matando outra mulher, o que a levou a entender que as agressões muitas vezes são acompanhadas por um ciclo vicioso de promessas de mudança seguidas de novas agressões.
Como Encontrar Ajuda
Para quem está em situação de violência, o telefone 180 é uma ferramenta importante de apoio, além das delegacias especializadas no atendimento à mulher e das Casas da Mulher Brasileira, unidades presentes em diversas cidades do país, como Teresina, São Paulo e Fortaleza.
A pesquisa completa, com dados e informações sobre os diversos tipos de violência que afetam as mulheres, pode ser acessada no site do Instituto Patrícia Galvão, um importante recurso para quem precisa entender mais sobre esse tema e buscar apoio.
Fonte: Agência Brasil