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DISCRIMINAÇÃO

Criança autista é discriminada em fila de supermercado em Teresina

"Lugar de criança autista é em casa", disse uma cliente do supermercado para a mãe da criança

Alinny Maria

Sexta - 08/09/2023 às 17:30



Foto: Reprodução/ricardoshimosakai Caixa preferencial
Caixa preferencial

Uma criança autista de quatro anos foi discriminada por uma cliente em um supermercado na zona Leste de Teresina nessa quinta-feira (07). A mãe da criança, que pediu para não ser identificada, está abalada com a situação e diz que ainda se sentiu humilhada. 

Segundo a mãe, ela foi ao supermercado na companhia de seu filho e da avó da criança, que já é uma idosa. Na hora de ir ao caixa para pagar as compras, ela foi impedida de usar seu direito de receber atendimento prioritário porque uma cliente que estava na fila não quis ceder a vez.

"Passei por uma situação muito chata em um supermercado. Cheguei com meu filho no caixa e avisei para uma moça que estava na fila que ele era preferencial e a mulher começou discutir comigo. Logo ela viu que estava eu e minha mãe, que é uma idosa, e com dois carrinhos porque o meu filho estava dentro de um. A mulher foi logo perguntando porque eu escolhi passar logo na frente dela, que eu podia muito bem ir para um caixa rápido. Começou a dizer que se eu estava com uma criança autista era para eu estar em casa. Falou que a gente é cheia dos direitos, mas que só vive em festa. Eu nem piso em festa", declarou a mãe.

A mãe da criança disse que logo começou pedir ajuda aos funcionários do supermercado para que a situação fosse resolvida, mas que ninguém fazia nada. 

"Pense numa situação constrangedora e chata. E eu a todo momento pedindo para chamarem o segurança para tirarem essa mulher de perto. Situação chata para mim, para meu filho que teve que ouvir um monte de abobrinha e para minha mãe que logo se sentiu mal com a situação", explica.

A mãe relatou que depois a atendente do caixa tentou chamar um segurança para resolver a situação, mas não disse nada. Ela apertou um botão várias vezes e depois de um tempo a gerente do supermercado compareceu.

"Depois chegou a gerente e levou a mulher para outro caixa. Fiquei com vontade de chorar, fiquei me segurando para ser forte para meu filho".

A mãe ainda condenou a postura do supermercado diante da situação e orienta que os funcionários passem por uma capacitação para saber como lidar diante de situações assim. 

"Eu tive passar por muita humilhação, escutar um monte de coisa. Esse tipo de coisa tem que ser resolvida imediatamente, a gente não precisa passar por esse tipo de situação. É preciso uma capacitação dos funcionários. Eu tô muito abalada, chorando por lembrar o tempo todo dessa situação", concluiu a mãe.

DISCRIMINAÇÃO

Elisângela de Oliveira, coordenadora geral da Associação Prismas - que presta assistência às pessoas com deficiência -  disse que a fala da cliente foi totalmente discriminatória e que a atitude do supermercado não foi a mais adequada para resolver a situação.

"Essa situação aconteceu com uma família assistida pela Associação Prismas, na qual a gente tem cursos permanentes de capacitação para os pais, incluindo capacitação jurídica, para que todos saibam como agir, qual a forma de agir e uma das melhores formas de agir é com rigor da lei.  As falas dessa pessoa foi totalmente discriminatória. Pior ainda foi a atitude do supermercado perante a situação, porque a própria caixa poderia ter intervindo, e eu creio que não interviu por falta de informações, de capacitação", disse Elisângela. 

Elisângela disse ainda que a mãe da criança está recebendo apoio psicológica por parte da associação e que está marcando junto com o jurídico para se posicionar diante do ocorrido. 

"Nós cremos que o remédio para a discriminação, para a ignorância, é o conhecimento. Isso realmente é algo inadmissível, porque o respeito passa pela inclusão, e vice-versa, a inclusão passa pelo respeito. O que tem que priorizar é o respeito pela inclusão. É a lei que assiste essa pessoa. Esse caso acontece com vários, e como é que a gente está fazendo com essa mãe? A gente primeiramente deu todo o apoio psicológico para essa mãe, a ouvindo, audição qualificada. A gente está marcando com o jurídico para se posicionar junto com ela a essa situação", explica Elisângela.

A coordenadora da Associação Prismas disse ainda que a falta de conhecimento das pessoas é o que leva à discriminação. Ela orienta que as empresas qualifiquem seus funcionários para que saibam como proceder em situações como essa. 

"Precisamos de mais informações para que isso não se repita, e isso é uma constante. E em supermercado, praticamente geral, é muito raro a gente não ter reclamação. É supermercado, é parques, em muitos momentos. O desconhecimento, a ignorância, traz isso, a gente tem uma grande discriminação e a gente luta incansavelmente para que isso não aconteça, e para isso as empresas precisam sim se qualificar e entender o que é o direito e o que são os deveres. Porque é uma das coisas que a gente sempre trabalha na Prisma. Direitos e deveres. Sabemos que nós como cidadãos, todos nós temos deveres, mas também temos nossos direitos. E a pessoa com deficiência, a pessoa com autismo, não é a margem disso", concluiu a coordenadora. 

ATENDIMENTO PRIORITÁRIO PARA PESSOAS AUTISTAS É LEI

A Lei nº 14.626, de 19/06/2023, sancionada pelo atual vice-presidente da república, Geraldo Alckmin, alterou a Lei nº 10.048, de 8 de novembro de 2000, e a Lei nº 10.205, de 21 de março de 2001, “para garantir o atendimento prioritários em diversos estabelecimentos as pessoas com TEA, com mobilidade reduzida ou doadores de sangue, bem como reserva de assento em veículos de empresas públicas de transporte e de concessionárias de transporte coletivo”.

 Antes, apenas alguns grupos como idosos, PCDs e lactantes, tinham esse direito no Brasil. Agora, a legislação incluiu pessoas com TEA, com mobilidade reduzida e doadores de sangue como parte desse grupo prioritário durante os atendimentos em diversos ambientes de atendimento ao público. 


O QUE DISSE O SUPERMERCADO

Procurada pelo Piauíhoje.com, a assessoria de comunicação do supermercado informou que logo após o ocorrido, a equipe agiu para que a situação fosse resolvida, colocando a cliente que iniciou a discussão em outro caixa. 

Nota do supermercado: 

"A Companhia informa que uso do caixa preferencial em suas lojas segue a lei que dispõe sobre o atendimento preferencial de gestantes, mães com crianças de colo, idosos e deficientes. Com isso, tão logo identificado o ocorrido, a equipe interna agiu para sanar o impasse deslocando uma das clientes para outro caixa".

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