LIBERTADORES

Palmeiras vence a grande final da libertadores

Título foi decidido já nos últimos minutos da partida.


Palmeiras campeão da Libertadores

Palmeiras campeão da Libertadores Foto: Foto: André Durão

No instante seguinte a tocar de cabeça na bola e entrar para a história do Palmeiras, da Libertadores e, por consequência, do futebol, Breno Henrique Vasconcelos Lopes correu. Correu até a mureta que separa o campo da arquibancada oeste do Maracanã, onde centenas de palmeirenses ensandecidos disputavam espaço para ter a oportunidade de tocá-lo.

Estava ilustrado ali, em detalhes, o primeiro de três significados possíveis que o dicionário Houaiss dá ao adjetivo absurdo: "Que se opõe à razão e ao bom senso; que é destituído de sentido, de racionalidade".

Há uma pandemia em curso no mundo, que só no Brasil matou 223.971 pessoas, 1.016 delas no sábado em que Palmeiras derrotou o Santos na final da Libertadores.

A maneira como a Conmebol e as autoridades do Rio de Janeiro organizaram a partida ilustra perfeitamente o verbete. Milhares de pessoas aglomeradas em um único setor do estádio, em contraste com a vastidão do Maracanã vazio.

O argumento de que as pessoas não deveriam ocupar assentos contíguos e respeitar o distanciamento é constrangedor, por impraticável. Sobretudo quando um título da Libertadores é decidido com um gol anotado no minuto 99 de um clássico. Por um reserva.

O fato de ter sido Breno Lopes o autor do gol do título do Palmeiras cabe no segundo significado possível para absurdo. Diz o Houaiss: "Que não se enquadra em regras e condições estabelecidas".

Como alternativas no banco de reservas, Abel Ferreira tinha Lucas Lima, Gustavo Scarpa, Willian, todos com muito mais experiência em instâncias decisivas e, em teoria, mais prontos para finais como a que se disputava. O escolhido para substituir Gabriel Menino foi um jogador que, até novembro, estava na segunda divisão do futebol brasileiro.

Soterrado por abraços, Breno Lopes demorou a ficar de pé de novo. Quando finalmente se viu livre, parecia não saber para onde andar. Olhou para um lugar perdido na arquibancada e, ainda cambaleando, levantou os braços como quem se apresenta, como quem agradece, como se não fosse ele aquele a quem o palmeirense deve agradecer.

Quando finalmente tomou o rumo do centro do campo, levou o cartão amarelo mais desejado de sua vida. Apontou os dedos para o céu, pôs as mãos na cintura, só voltou a participar do jogo uma vez, para dar um bico na bola após uma falta sofrida por um companheiro de time.

Minutos antes do gol que decidiu a Copa Libertadores, Cuca cometeu um desatino. O jogo estava no sexto minuto (de oito previstos) de acréscimo quando o técnico do Santos quis pegar uma bola que saía pela lateral para atrapalhar a cobrança do lateral palmeirense Marcos Rocha e acabou expulso.

Por um instante, Cuca foi o oposto de tudo que já mostrou ser. De acordo com a terceira definição que o Houaiss apresenta, o comportamento foi... Absurdo: "Carente de argúcia, agudez; tolo, ingênuo". Com o nome gritado pela torcida, Cuca pulou a mureta, se meteu na arquibancada. Ganhou aplausos, mas desconcentrou seu time. Talvez não seja um acaso que no lance seguinte tenha saído o gol do Palmeiras. Um gol que encerrou toda uma jornada absurda.

Só quando o jogo já tinha mais de 30 minutos bola rolando o sistema de som do Maracanã lembrou de pedir aos convidados – para a organização, não havia torcedores, havia "convidados" – usarem máscaras e respeitarem o distanciamento social. Os avisos seriam repetidos mais quatro vezes ao longo do jogo. E sempre seriam desconsiderados.

A incursão de Cuca pela arquibancada e a comemoração de Breno Lopes só tornaram mais evidentes uma situação que estava posta desde o início do jogo.

Até então, chamava mais atenção o que acontecia fora do campo, afinal havia público no Maracanã, algo que não se via desde março. Concebida para ser um espetáculo televisivo – realidade que a pandemia não inventou, só aprofundou – a final da Libertadores deixou a sensação de que as regras não precisam ser seguidas em determinadas ocasiões.

Em meio a tantos absurdos, em todos os seus sentidos possíveis, o jogo foi preservado. A Copa Libertadores de 2020 tem um campeão que pode ser descrito como o exato oposto do verbete que permeia este texto. Que o título do Palmeiras é tudo menos absurdo: é lógico, coerente, racional. E acima de tudo justo.

Fonte: Globo Esporte

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