A superfície do Rio Poti está inteiramente tomada por aguapés, plantas aquáticas classificadas como macrófitas do tipo flutuante, no perímetro urbano de Teresina, mais especificamente sob a Ponte Juscelino Kubitschek, que interliga o Centro à região Leste da capital, onde há de um lado condomínios de bairros como Ilhotas e do outro estão instalados os principais shoppings da cidade, além da Assembleia Legislativa e Câmara Municipal.
O surgimento das plantas nesse período é um fenômeno natural, segundo explicações da tecnóloga em Gestão Ambiental, Wyara Marques, pois as altas temperaturas registradas durante o B R O BRO, no segundo semestre do ano, aliadas à luminosidade, são algumas das condições ideais para a reprodução desta vegetação.
Ocorre que, quando os aguapés ocupam o leito do rio, de um lado ao outro, formando um tapete verde pujante, é sinal de que a reprodução perdeu o freio e passa a ser prejudicial. “Os aguapés estão ali, então era para se ter um ambiente equilibrado, mas temos o despejo de água, de fertilizantes, as bocas de esgotos que caem dentro do rio, tudo isso é nutriente para eles e quanto mais nutriente tivermos mais aguapés surgirão”, explica a pesquisadora.
De acordo com Wyara, Teresina reúne condições excelentes para o desenvolvimento das macrófitas. “Aqui é quente, tem temperatura alta, luminosidade alta, logo são três pontos que fazem com que haja uma explosão de crescimento dos aguapés”, diz.
Uma das funções dos aguapés na cadeia natural é de filtrar as águas dos rios, entre outras. “Queria frisar que não são um problema, são importantes servindo de habitat de peixes e outros organismos, inclusive para a reprodução destes, eles também tem um aspecto bom pela capacidade de absorver nutrientes, sendo chamados de filtradores, ali é um ambiente com muito produto orgânico e essas plantas conseguem absorver nitrogênio, potássio”, exemplifica.
Conforme as explicações da estudiosa, a ação antrópica, praticada pela população, contribui diretamente para que o aguapé, agente natural das águas e absorvedor de poluentes, torne-se um problema para o meio ambiente quando o despejo de efluentes nos rios, ou seja, de resíduos provenientes de esgotos, empresas e residências, é realizado sem o devido tratamento. Logo, os aguapés surgiriam naturalmente no rio durante esse período anualmente, mas não chegariam a formar o tapete verde, caso o Poti não recebesse tanto rejeito químico e orgânico.
“Quando se tem acúmulo de matéria orgânica, o ambiente perde a função ecológica, pois a luminosidade do sol faz com que as algas dentro dos rios produzam fotossíntese, liberando oxigênio pros peixes respirar, porém quando o rio é coberto por aguapés não entra luminosidade, consequentemente as algas microscópicas não realizam fotossíntese e os peixes não vão conseguir oxigênio para respirar, eles morrem e o rio fica praticamente podre por baixo, pois fica num ciclo fechado, sem entrar ar nem luz”, esclarece.
Wyara Marques falou sobre iniciativas que devem ser tomadas, tanto pelo poder público como pela população, quando os aguapés passam a cobrir o espelho d’água. “O que pode ser feito é uma intervenção mecânica, uma retirada física com o manejo do aguapé, outras ações dependem de políticas públicas e das pessoas também com fiscalização, monitoramento de despejo dos esgotos, saber como está acontecendo o esgoto doméstico, pra onde está indo, será se está indo pra estação de tratamento, será se tem desvio”, pontua.
Vídeo filmado nas imediações do Parque Floresta Fóssil de Teresina.
CEA
O Centro de Educação Ambiental (CEA), ligado a Secretaria estadual de Meio Ambiente (SEMAR) desenvolve o Turismo Ambiental com trilhas e eco passeios ao longo do rio Poti. Embora a atividade sobre as águas esteja suspensa no momento, em razão de adequação técnica do barco que o Centro dispõe, uma servidora explica que a embarcação teria dificuldades para navegar caso estivesse apto.
“Os aguapés seriam sim, um motivo pelo qual continuaríamos com os barcos parados, até mesmo por conta da aglomeração deles no rio, pois as plantas são motivos para parar embarcações, tanto que não vemos nenhum barco passando pelo rio por conta da quantidade, você não encontra muitos pescadores por conta dos aguapés, que dificulta a navegação”, afirma Beatriz Carvalho, condutora de Turismo do CEA.
SEMAM
Em contato com a Assessoria de Imprensa da Secretaria municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMAM), a reportagem do Piauihoje.com foi informada por meio de nota de que existe um trabalho no sentido de remover as macrófitas.
Estamos com o trabalho de manejo das plantas aquáticas em parceria com o Sindicato dos Pescadores do Estado, já que a empresa antes licitada para realizar esse serviço rescindiu o contrato. Esse está sendo um trabalho experimental com os pescadores, e que também está sendo viabilizada a formalização de um convênio com a ONG em questão.
Em áudio, o secretário municipal de Meio Ambiente, Olavo Braz, avisa que “o tapete que cobre o rio Poti e outros aquíferos da cidade é o resultado da ausência de saneamento básico na própria cidade”.
Braz conta ainda que há quatro anos, a Prefeitura de Teresina, por meio da SEMAM, utilizava os serviços de uma empresa responsável pela remoção das plantas filtradoras, porém o contrato rescindiu. De 2015 a maio de 2019 foram gastos cerca de um milhão e quinhentos reais com a atividade.
Passado esse tempo, Olavo não vê uma alternativa para a solução do imbróglio envolvendo a contaminação do Rio Poti que não seja o saneamento básico e construção de uma rede de esgotamento para a capital, que atualmente conta com apenas 33% de cobertura. “Há uma cessão do saneamento para a empresa Águas de Teresina, a cidade tinha 19% de saneamento básico, hoje já tem 33%, evoluiu muito pelo curto espaço de tempo, certamente é o caminho, sanear a cidade”, afirma.
Para o gestor, o tratamento do rio Poti não é responsabilidade apenas da PMT. ““Lembrando que o rio não é do município de Teresina, é nacional com responsabilidade da União, do Governo Federal do Piauí e todos os municípios por onde o rio passa, precisamos nos organizar socialmente para que ele não se torne um rio Tietê”, diz mencionando o aquífero do estado de São Paulo, conhecido pelo alto grau de poluição.
Ainda de acordo com Olavo Braz, há um processo tramitando na Justiça convocando as instituições relacionadas para atuar em diversas frentes na recuperação do rio Poti.
SOS MATA ATLÂNTICA
Publicação no site da ONG SOS Mata Atlântica traz um levantamento no que diz respeito ao monitoramento da qualidade da água no Piauí. Durante um ano o trabalho foi feito e publicado em agosto de 2018.
De acordo com a publicação, "apenas 1 dos 8 pontos de coleta avaliados no último ano possui qualidade de água boa, enquanto 7 estão em situação regular, ou seja, longe do que a sociedade quer para os rios. Nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo.
“Estes dados correspondem às médias dos resultados obtidos mês a mês. Em algumas situações, tanto o Poti, como o Parnaíba, tiveram resultado ruim na análise. Podemos verificar que Teresina e cidades vizinhas necessitam priorizar o saneamento básico em seu território. Todos querem voltar a ter os rios urbanos para pesca, lazer e demais usos, portanto precisamos apontar esta demanda aos nossos representantes e candidatos”, afirma Cesar Pegoraro, educador ambiental que atua pela SOS Mata Atlântica junto ao estado do Piauí.
Leia aqui a publicação na íntegra.