Educação

LUTA ANTIMANICOMIAL

Revivendo a história do Sanatório Meduna e a luta por uma saúde mental mais justa

Exposição na UFPI relembra a trajetória do Meduna e destaca as conquistas da Reforma Psiquiátrica, promovendo a reflexão sobre a transformação no cuidado à saúde mental

(*) Por Sol Castelo Branco e Lília Ferreira

Segunda - 09/06/2025 às 12:15



Foto: Sol Castelo Branco Exposição sobre o Meduna
Exposição sobre o Meduna

Entre os dias 9 e 11 de junho, a Universidade Federal do Piauí (UFPI) promove a Jornada da Luta Antimanicomial – 120 Anos de Nise da Silveira: Arte e Loucura. O evento traz uma intensa programação, com destaque para a exposição MEDUNA: dos Corredores do Silenciamento ao Sofrimento Ético-Político em Saúde Mental, que ficará aberta no Centro de Ciências Humanas e Letras (CCHL). A mostra explora a história do Sanatório Meduna, um importante centro psiquiátrico de Teresina, inaugurado em 1954.

Localizado no bairro Cabral, Zona Norte de Teresina, o Meduna foi erguido em uma área isolada, distante do centro da cidade e rodeada por vegetação. Na época de sua construção, a região ainda estava pouco urbanizada e era vista como um local violento. Esse isolamento não gerou especulação imobiliária, já que muitos evitavam viver perto de um manicômio.

Fundado pelo psiquiatra piauiense Clidenor de Freitas Santos, o Sanatório Meduna foi inaugurado em 21 de abril de 1954, com a presença de autoridades locais e uma missa celebrada por Dom Severino Vieira de Melo. A instituição foi criada com recursos da Caixa Econômica Federal e visava atender não apenas pessoas com transtornos mentais graves, mas também aquelas com problemas neurológicos, como intoxicações e crises nervosas.

Apesar da fama negativa associada à loucura, o Meduna não era exclusivamente um hospital para “loucos”. Além dos pacientes psiquiátricos, pessoas comuns também eram internadas devido a outras condições de saúde. A instituição também ficou marcada pela presença do poeta e cineasta Torquato Neto, que se internou no sanatório em 1972.

O Meduna, inicialmente, era formado por uma capela, oito pavilhões e dois pátios, com uma arquitetura imponente de estilo neoclássico. Um dos símbolos mais conhecidos da entrada era a estátua de Don Quijote de la Mancha, uma homenagem do fundador Clidenor Freitas. Em 1968, o sanatório contava com 180 leitos e atendia cerca de 994 pacientes.

A Luta Antimanicomial

A Luta Antimanicomial busca mudar as práticas de cuidado em saúde mental, defendendo a desinstitucionalização e o tratamento humanizado dos pacientes. O movimento se opõe aos manicômios, que, por muito tempo, foram locais de isolamento e violência. Em vez disso, propõe alternativas que promovam a inclusão social e o respeito aos direitos das pessoas com sofrimento psíquico.

No Brasil, a Reforma Psiquiátrica, iniciada nas décadas de 1980 e 1990, foi um marco importante, substituindo os manicômios por serviços mais inclusivos e respeitosos. A Jornada da Luta Antimanicomial, realizada na UFPI, celebra essas conquistas e promove a discussão sobre os avanços e os desafios atuais na saúde mental. O evento destaca a importância de figuras como Nise da Silveira, que uniu arte e loucura como forma de tratamento.

A luta é por uma sociedade mais inclusiva, onde as pessoas com transtornos mentais sejam tratadas com dignidade e respeito. A programação da Jornada e a exposição MEDUNA reforçam o compromisso com a construção de um sistema de saúde mental mais justo para todos.


(*) Sol Castelo Branco e Lília Ferreira são estagiárias sob supervisão do jornalista Luiz Brandão - DRT-PI -960

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