Após cerca de 20 horas de sessão, o Tribunal do Júri decidiu condenar a 110 anos e 18 dias de prisão ontem (8/11) o último dos acusados pela morte de Liana Friedenbach, 16, e do namorado dela, Felipe Caffé, 19, assassinados em 2003. O julgamento aconteceu no plenário da Câmara Municipal de Embu-Guaçu (Grande São Paulo), cidade onde o crime ocorreu. A defesa anunciou que não irá recorrer.Paulo César da Silva Marques, o Pernambuco, deverá cumprir a pena em regime inicialmente fechado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado contra Liana (meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e morte para ocultar o crime); e duplamente contra Felipe (impossibilidade de defesa e ocultar o crime). Além disso, três estupros, duas participações em estupro, seqüestro e cárcere privado.Pela lei brasileira, Pernambuco só poderá ficar preso por 30 anos e, após cumprir um sexto da pena, tem direito a requerer progressão de regime. Ele também poderá protestar por novo julgamento, por ter sido condenado a uma pena superior a 20 anos."Estava vivendo com dois pesadelos. Agora vivo com apenas um, o de continuar vivendo com a morte do meu filho", afirmou a mãe de Felipe, Lenice Silva Caffé.JúriEm dois dias de julgamento, que teve início na manhã de ontem, foram ouvidas oito testemunhas -seis de acusação e duas de defesa. Depois, foi a vez de os advogados e promotores apresentarem suas alegações. A tese da defesa não foi divulgada. Já a promotoria afirmou ter plena convicção da condenação.Antes disso, o réu teve a palavra. Durante seu depoimento aos presentes no Tribunal do Júri, que estava fechado à imprensa devido ao segredo de justiça no caso, Pernambuco negou que tenha cometido o crime. Réu confesso, ele mudou sua versão e afirmou que só admitiu ter cometido o crime sob pressão policial.Por volta das 17h, os jurados reuniram-se para dar o veredicto. Ao responder a quesitos formulados pela juíza Patrícia Padilha, que presidiu o julgamento, todos eles reconheceram que o réu cometeu o crime, com agravantes e sem atenuantes. De posse das respostas, a juíza escreveu a sentença e leu aos presentes às 20h30.Protesto"Esperar quatro anos por um julgamento em primeira instância. É um absurdo, uma aberração, um atraso do país", protestou o advogado Ari Friedenbach, pai de Liana, a Última Instância. "É uma pseudo-Justiça gastar-se tempo e dinheiro para condenar alguém que não pode ficar mais de 30 anos preso e, em oito anos, pode estar nas ruas", afirmou.CondenaçõesTrês dos cinco acusados pelos assassinatos foram condenados em julho de 2006. Pernambuco não foi julgado na ocasião por ter recorrido da sentença de pronúncia (decisão de submetê-lo a júri popular). O recurso foi negado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.Antonio Caetano da Silva, o Tonho, foi condenado a 124 anos de prisão por vários estupros. Agnaldo Pires, conhecido como o Velho, foi condenado a 47 anos e três meses de reclusão por estupro. Por ser crime hediondo, cumprirá a pena em regime fechado. Antonio Matias, o Nojento, foi condenado a seis anos de reclusão e um ano de detenção por cárcere privado, favorecimento pessoal (auxiliou na fuga dos demais acusados) e pela posse da espingarda que matou Felipe.O adolescente Champinha, apontado como mentor e acusado pela morte de Liana a facadas, está em uma Unidade Experimental de Saúde da Fundação Casa (ex-Febem). Em 2 de maio deste ano, ele fugiu da unidade de Vila Maria da fundação e foi recapturado cerca de 11 horas depois. A Justiça negou sua transferência para um presídio de adultos com tratamento psiquiátrico. Hoje, ele deve ser acompanhado por profissionais do Núcleo de Estudos e Pesquisas de Psiquiatria Forense da USP (Universidade de São Paulo), que devem fornecer um relatório sobre sua saúde mental a cada 20 dias. O crimeLiana e Felipe desapareceram no dia 31 de outubro de 2003, depois de terem mentido para os pais quanto a viagem que planejavam. Liana disse que iria para Ilhabela (litoral norte de São Paulo), com adolescentes da comunidade israelita. Felipe contou que iria acampar, mas a família acreditava que ele iria com amigos. Os dois acampavam em uma região isolada de Embu-Guaçu quando foram seqüestrados e mantidos em um sítio. Felipe foi morto por Pernambuco dois dias depois, com um tiro na nuca. Liana foi violentada por todos os réus e por Champinha e morta a facadas cinco dias após o seqüestro. Os corpos do casal só foram encontrados no dia 10 de novembro de 2003.
Fonte: Última Instância
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