Autor do livro Ciberpopulismo: política e democracia no mundo digital, o filósofo Andrés Bruzzone alerta para os riscos da manipulação algorítmica no ambiente online. Ele rejeita a expressão “redes sociais” para se referir a empresas como Facebook, Instagram e X, que, segundo ele, vivem de vender nossos dados e favorecem conteúdos baseados em medo e ódio.
“O algoritmo reage muito mais às emoções negativas. A extrema-direita entendeu isso e aprendeu a capturar públicos específicos com mensagens direcionadas, explorando vulnerabilidades”, destacou durante entrevista concedida ao Podcast Piauí Hoje, com o jornalista Luiz Brandão.
Na definição do filósofo, o ciberpopulismo é a adaptação de uma estratégia antiga baseada na construção de um “povo” e de um “inimigo” para mobilizar apoio que se opõe às novas ferramentas digitais, capazes de segmentar públicos e amplificar narrativas de forma inédita. Para ele, essa lógica já impactou decisões históricas, como o Brexit, e eleições em países como Brasil e Estados Unidos.
Bruzzone vê a regulamentação das plataformas como uma saída urgente. "A Europa tem encarado essa questão com coragem. Quem não quer regulação? As próprias empresas e os setores que se beneficiam do enfraquecimento da democracia”, afirmou.
Argentino naturalizado brasileiro, mestre e doutor em Filosofia da Comunicação pela USP, Bruzzone participa do 2º Congresso Internacional da Rede Brasil Ricouer, realizado na Universidade Federal do Piauí. O evento reúne pensadores para discutir identidade, filosofia e política na América Latina, com a proposta de aproximar o pensamento crítico da realidade social.
Na entrevista, ele explicou que a Rede Brasil nasceu em meio a um cenário de tensões no Brasil e no continente, com a missão de debater a questão da identidade. “Fundar a rede foi um gesto político, como latino-americanos, sem abrir mão de grandes pensadores estrangeiros, mas partindo das nossas próprias experiências”, defende, ressaltando que, mesmo diante de crises e retrocessos democráticos, sempre há espaço para resistência.
Bruzzone também destacou o desafio de romper com o eurocentrismo acadêmico e pensar a partir da realidade brasileira e latino-americana. “Não somos Europa. Nosso desafio é pensar como latino-americanos, sem abrir mão de grandes pensadores estrangeiros, mas partindo das nossas próprias experiências”, defende, ressaltando que, mesmo diante de crises e retrocessos democráticos, sempre há espaço para resistência.
Quem é
Andrés Bruzzone é mestre e doutor em filosofia da comunicação pela Universidade de São Paulo - USP. Foi jornalista, correspondente em Paris e executivo em empresas de mídia. Trabalhou como consultor e fundou a Pyxys, empresa de comunicação digital com um modelo inovador de bastante sucesso. Velejador há quase quarenta anos, navegou através do Atlântico quatro vezes - a última delas, em janeiro de 2019, sozinho. Com um amplo horizonte e interesses diversos, Bruzzone é um pesquisador independente que finca na própria experiência as raízes para a escrita filosófica e para a reflexão.
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