Olhe Direito!

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Jim Boavista virou saudade

Álvaro Fernando Mota

Segunda - 29/09/2025 às 08:16



Foto: Reprodução Wellington Jim Boavista, desembargador aposentado do TRT Piauí, faleceu nesta segunda-feira (22)
Wellington Jim Boavista, desembargador aposentado do TRT Piauí, faleceu nesta segunda-feira (22)

Apagou-se na semana passada o sorriso de um homem discreto que construiu uma sólida carreira jurídica no Piauí, o desembargador federal do Trabalho Wellington Jim Boavista, que além de suas qualidades profissionais, pessoalmente era um homem afável, dado à boa conversa, amante da boa música, divertido sem jamais ser vulgar.

Tive a sorte da convivência com ele, seja profissional, seja no âmbito pessoal e social. Conheci-o quando ainda atuava na área jurídica da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, de onde em 1992 saiu para tornar-se o primeiro advogado a ocupar o posto de juiz do Tribunal Regional do Trabalho da 22ª Região, na vaga cabível ao Quinto Constitucional da Advocacia. No TRT-22, foi duas vezes, presidente, vice-presidente e corregedor. 

No TRT Piauí, por quase três décadas atuou como um magistrado discreto e conciliador e carrega até agora a condição de ter sido o desembargador federal do Trabalho que por mais tempo permaneceu no exercício da função, desde a instalação daquela corte de Justiça Trabalhista, em 8 de dezembro de 1992, até ser alcançado pela aposentadoria compulsória, ao completar 75 anos, em 2022. 

Enquanto presidente do TRT em sua primeira passagem pelo cargo, deu ao Tribunal uma sede própria, um prédio de seis andares, no Centro de Teresina – onde funcionou por quase duas décadas até se transferir para o Fórum Trabalhista sediado na avenida João XXIII. 

Em que pese ter atuado de modo impecável no TRT, é certamente na vida pessoal que sua grandeza se poderia medir de modo ainda mais relevante. Quem sabe que em razão da herança de um pai radialista, Jim Borralho Boavista, mantinha uma entonação de voz que nunca era desagradável ao interlocutor, ainda que ele estivesse a falar com a dureza necessária, quando necessário. 

Assim, Jim, a pessoa natural, o cara boa-praça, é que realmente fica mais em nossa memória. Permanece o Jim Boavista em mim, aquele que conheci ainda em minha juventude, o pai da Vanessa, esposa do meu amigo Ney Paranaguá, que, aliás, dava-se em relação ao sogro menos como sogro e mais como um filho. Certamente porque Jim era essencialmente um bom homem, sempre conciliador. Ajudava nessa condição de um sogro que se fez pai ou de amigo que transcendia a amizade, um sorriso cativante, sempre franco, com aquela sinceridade que agradava a todos. 

 Jim é parte de uma cidade que vai se esvaziando de pessoas necessárias como ele foi, por sua capacidade de trazer alegria onde quer que chegasse. Lembro de sua presença marcante nas domingueiras da Banca do Thomaz, na praça João Luís Ferreira, ao lado de pessoas igualmente afáveis como Paulo Mota, Maria Divina, Fernando Carvalho, Pedro Augusto Freire, Haroldo Francisco, Dubá Leitão.

Com a mesma graça e simpatia com que frequentava uma banca de revista para comprar e ler as edições de grandes jornais e revistas do país, sentava-se à mesa no tradicional restaurante Clube VTS, no centro de Teresina ou no café da Dona Ginu Moraes situado na esquina da Rua Álvaro Mendes com Rua Sete de Setembro, onde discorria sobre a vida, com poesia e refinamento. No VTS sempre que tinha companhias como as dos amigos Anderson Nóbrega e Ludmar Feitosa, violonistas, cantava – porque, afinal, como já se disse, herdou do pai radialista a boa voz e o domínio das técnicas de uso de nosso natural instrumento musical. 

Pessoas da estirpe de Jim Boavista são certamente raras, porque ao mesmo tempo em que exercem uma função pública em que se exige permanente discrição e sobriedade, na esfera privada se fazia alguém acessível, divertido, capaz de rir de si mesmo, sempre aberto a ouvir as pessoas e a ouvir boa música, que ele consumia com grande satisfação. Isso me faz lembrar que é de pessoas assim que mais precisamos e se elas partem é nosso dever fazer com que vivam por suas lições e sabedoria.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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