
“Os jovens, sobretudo os periféricos, são os que mais se matam. Eles entendem o que vivem, muitas vezes com mais sensibilidade do que os adultos imaginam.” O alerta é da professora e pesquisadora Verônica Cavalcante, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), especialista em prevenção do suicídio. Ela tratou do tema em mais um episódio do Podcast Mulher Mais, com a jornalista Michele Sâmia e a ex-vereadora Rosário Bezerra.
Entre os dados que chamam atenção, Verônica destaca ainda a diferença de gênero: mulheres tentam mais, mas homens morrem mais, porque recorrem a métodos mais letais. Já os idosos, quando tentam, em geral conseguem.
Eles têm experiência e planejamento. E, muitas vezes, são tratados como ‘carta fora do baralho’ numa sociedade capitalista e individualista, que retira dos idosos o espaço de voz e de dignidade. Precisamos devolver respeito e reconhecer a experiência deles.
O suicídio é um problema de saúde pública. Só no Brasil, são cerca de 14 mil mortes por ano, o que significa 38 pessoas por dia. No mundo, já passa de 700 mil casos anuais, com risco de subnotificação.
Gravação do Podcast "Mulher Mais"
Por isso, o Setembro Amarelo é considerado a maior campanha antiestigma do mundo. “Falar sobre suicídio não incentiva. Falar previne. O silêncio isola e aprofunda o sofrimento”, reforça Verônica. O lema atual da campanha é simples: “Se precisar de ajuda, fale”.
Para ela, combater o suicídio exige acolhimento e validação, nunca julgamento. “Se alguém diz que não aguenta mais ou que queria sumir, não adianta responder ‘mas você é tão forte ou tão inteligente’. É preciso ouvir de verdade e encaminhar para ajuda profissional.”
Entre os fatores de proteção, Verônica cita autoestima fortalecida, apoio familiar, amizades, vínculos comunitários, terapia, estudo ou trabalho, espiritualidade e cuidados no período da gestação e pós-parto.
O suicídio é uma emergência médica, como um infarto ou grande queimadura. Precisa de atendimento imediato.
A pesquisadora ressalta que precisamos estar sempre atentos conosco e com os outros. “Observe-se, observe quem você ama. Peça ajuda, ofereça ajuda. Estamos aqui para viver”.
Para quem precisa conversar, o CVV (188) funciona 24 horas, gratuitamente. Em casos de emergência, é fundamental acionar o SAMU (192) ou procurar a rede de atendimento, como CAPS, UPAs e hospitais.